Com a corrente solidária de amigos e até de pessoas que ela não conhecia, conseguiu vender 13.828 laços que confeccionava e pagou a operação de quase R$ 70 mil.
A persistência da cabeleireira Beatriz Stange e a solidariedade da população de Santa Maria de Jetibá mostraram como é possível atingir os objetivos, ainda mais se forem para o bem. Após ser diagnosticada com um tumor raro no olho, ela precisava ser operada o quanto antes.
Com a corrente solidária de amigos e até de pessoas que ela não conhecia, conseguiu vender 13.828 laços que confeccionava e pagou a operação de quase R$ 70 mil. A cirurgia aconteceu no início deste mês de fevereiro e foi um sucesso.
Foi uma mancha no azul do olho da Bia que indicou o problema. Logo veio o diagnóstico: melanoma de íris, um tumor maligno, muito raro e agressivo. O medo maior foi porque a mãe da cabeleireira morreu por causa de um melanoma, mas na pele.
Ao buscar informações, teve a notícia de que pelo Sistema Único de Saúde (SUS), teria apenas a opção de retirar o olho. O tratamento menos agressivo teria que ser feito pela rede particular, com custo alto.
Usando a criatividade, Bia decidiu parar de olhar para o problema e passou focar na solução: começou a fazer laços, pra vender e pagar o tratamento.
Uma verdadeira corrente de solidariedade se formou em Santa Maria de Jetibá, onde ela mora. Criando a campanha “Lacinhos do bem”, várias pessoas compraram e se juntaram para ajudar a fazer e vender os acessórios
Várias pessoas se juntaram em Santa Maria de Jetibá para ajudar Bia a fazer os lacinhos — Foto: Reprodução/TV Gazeta
De lacinho em lacinho, Bia desafiou a matemática e em dois meses vendeu 13.828 laços. Conseguiu o dinheiro que precisava e já fez a cirurgia no olho esquerdo. “A gratidão é a mesma por quem comprou um lacinho e por quem comprou vários. Vendi para pessoas do Brasil inteiro”, definiu.
A cirurgia da Bia foi no início do mês, em um hospital particular em São Paulo. O procedimento é chamado de braquiterapia. O médico coloca uma placa no olho, em cima do tumor, para emitir radiação.
“Eu fiquei com o olho tapado, fazendo curativo todos os dias. Na segunda de manhã eu já tinha recebido a radiação necessária, aí foi retirada a placa do olho e no mesmo dia eu tive alta. A dose é única agora e vou fazer acompanhando para ver se o tumor vai regredindo”, explicou a cabeleireira.
As chances de cura da Bia são de 95%, mas ao falar sobre a doença, ela define que já tem certeza de que será curada. Da mesma forma como ela tinha certeza que venderia laços suficientes para pagar o tratamento.
“A fé que fez isso comigo. Eu acreditei e eu consegui. É inacreditável para quem escuta, mas eu consegui. As pessoas têm que acreditar no poder do bem, porque o que esses lacinhos me trouxeram, não dá nem pra acreditar na dimensão que isso tomou”, declarou.
Mesmo agora, depois da cirurgia, Bia vai continuar fazendo os lacinhos porque o tratamento é demorado. Pode durar até um ano e meio e serão muitas viagens para São Paulo até o final.
“Eu vou ter muita despesa ainda, como passagens para São Paulo, hospedagem, ainda alguns exames que o SUS não cobre, e os lacinhos vão me ajudar muito com essas despesas extras que eu vou ter”, falou.
Laços feitos pela Bia e por voluntárias em Santa Maria de Jetibá — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Melanoma da íris
Os melanomas da íris são, geralmente, tumores pequenos e de crescimento lento. Uma opção para as pessoas em estágio inicial é esperar e ver se eles crescem.
Caso o melanoma comece a crescer, o tratamento pode consistir em cirurgia ou radioterapia. Se a operação for recomendada, a quantidade de tecido a ser removida dependerá da extensão do tumor.
“O melanoma é um tumor maligno que pode ocorrer nos melanócitos, que são aquelas células que dão pigmentação. Pode ocorrer na pele, nas mucosas, no olho como um todo e na própria conjuntiva”, explicou o médico oncologista Cristiano Drumond.
Antes da cirurgia, era possível ver o melanoma no olho de Bia — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Corrente do bem
A cidade de Santa Maria de Jetibá se mobilizou para vender os laços. A comerciante Lyandra Jacoob Cardoso, que é amiga de Bia, ajudou colocando os acessórios na loja dela. “A gente ficou feliz em ver ela reagindo e tentou uma forma de ajudar”, explicou.
Muitas pessoas também acabaram ajudando na confecção. A lavradora Núbia Luxinger foi uma delas e contou que ficou surpresa com a quantidade feita.
“A gente sempre pensou em fazer muito laço, mas não nesse período tão curto. Treze mil em dois meses foi surpresa até pra nós”, definiu.