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3,8 mil devedores perdem carro e casa no Espírito Santo

Bens com prestações atrasadas foram apreendidos pela Justiça

Com prestações do carro ou da casa própria atrasadas, consumidores vivem a realidade de perderem os bens para quitar as dívidas com bancos. Entre janeiro e julho deste ano, 3.855 inadimplentes, segundo levantamento do Tribunal de Justiça do Estado, foram alvo de ações de busca e apreensão ou já tiveram essas propriedades retomadas pelos agentes financeiros.

Esse número equivale, com base numa conta simples, à devolução de pelo menos 18 bens por dia aos credores, que têm agido rápido para recuperar os produtos vendidos a prazo e que não foram pagos.

Para perder um veículo, por exemplo, basta um mês sem pagar. “Os bancos estão agindo rápido e, em 15 dias após a abertura do processo, o bem já é apreendido. Em menos de seis meses, a Justiça encerra o caso e o produto financiado vai à leilão”, explica o juiz Marcelo Pimentel, que atua na 10º Vara Cível de Vitória.

Desde 2015, o número de processos envolvendo débitos em financiamentos vem crescendo. Naquele ano, foram 7.063 casos e passou para 7.265 em 2016. O endividamento excessivo, causado pela falta de planejamento, é um dos motivos. Mas a queda na renda do trabalhador e o desemprego contribuíram para que o cenário piorasse, tornando ainda mais comum esse tipo de demanda judicial.

Pimentel afirma que a maioria das cobranças tem relação com o não pagamento das parcelas de veículos, como automóveis, motos, tratores, aviões e até lanchas. “É muito comum comprar um carro sem uma programação financeira, sem ter visto que faltava possibilidade de arcar com as mensalidades. Os bancos hoje não esperam muito tempo para tentar rever o produto por causa da falta de pagamento. Nesse tipo de situação, não existe mais morosidade”, explica Pimentel, ao acrescentar ainda que o pedido de retomada de imóveis é o segundo maior motivo de ações contra inadimplentes.

O magistrado explica que o processo para retomada, no entanto, é um pouco diferente no caso de imóveis, demorando quase um ano para a devolução da propriedade à instituição financeira.

Independente do tipo de bem, se a dívida for menor do que vale o produto a ser ofertado no mercado, a diferença conquistada no leilão será repassada pelo banco ao consumidor. Quando a conta é maior do que o preço conquistado, o devedor ainda continuará em débito com o credor.

FARRA DO CRÉDITO

Estudo da Federação do Comércio (Fecomércio) mostra que entre as famílias inadimplentes em Vitória, 3,7% não quitaram as prestações do carro e 1% não pagaram as parcelas do financiamento habitacional.

O presidente da instituição, José Lino Sepulcri, conclui que esse atraso nos pagamentos é herança da farra do crédito que ocorreu em anos anteriores à crise econômica. Com muitas facilidades para comprar carro e moradia, devido à redução nos juros e prolongamento dos prazos, os consumidores fizeram dívidas altas sem ter condições de mantê-las depois.

RECORDE DE FAMÍLIAS COM CONTAS ATRASADAS

Embora o índice de endividamento das famílias de Vitória tenha apresentado uma tímida redução entre junho e julho deste ano (de 76% para 75,5%), por outro lado, o percentual de consumidores inadimplentes tem subido de forma preocupante.

Estudo da Fecomércio revela que a proporção de famílias com contas atrasadas passou de 47,1% em junho para 54,6% em julho, crescimento de 7,5 pontos percentuais. O indicador atingiu o maior nível desde quando o estudo foi iniciado em 2010.

Segundo a pesquisa, entre as pessoas que estão com as contas atrasadas, 7,4% não terão condições de liquidar os compromissos financeiros.

Um dado curioso é que, apesar da queda no percentual de famílias endividadas, cresceu o percentual de pessoas que têm recorrido às modalidades de crédito que apresentam os juros mais altos.

No caso do cartão de crédito por exemplo, entre junho e julho passou de 44,9% para 59,6%, uma expansão de 14,7 pontos percentuais. Já no cheque especial, a proporção aumentou de 20,7% para 31,3%, no período, aumento de 10,6 pontos percentuais.

PERFIL

Endividamento 

Em julho, 75,5% das famílias de Vitória afirmaram estar endividadas, o que representa pouco mais de 96 mil famílias. O percentual de endividamento ficou 0,5 pontos percentuais abaixo do registrado no mês anterior e 10,5 p.p. acima do que em julho de 2016.

Recorde

Do total de famílias de Vitória, 54,6% estão inadimplentes, uma alta de 7,5 p.p. em relação a junho. Esse percentual, que vem subindo desde maio, atingiu novo nível máximo, representando o maior registrado desde 2010.

O percentual das famílias que afirmaram que não terão condições de pagar suas dívidas em atraso também cresceu na passagem de junho a julho, para 7,4%.

Cartão e cheque

Desde junho, notou-se que as famílias voltaram a recorrer à duas modalidades de crédito com juros mais caros: cartão de crédito e cheque especial. Em julho o cartão voltou ao topo da lista como o principal tipo de dívida das famílias.

Fonte: Peic, CNC e Fecomércio-ES

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