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A Força do Agronegócio: produtores mostram que preservação e sustentabilidade dão resultados pro futuro

Em tempos de mudanças climáticas e ação indiscriminada do homem, a natureza sente e pede socorro. A agricultura no Espírito Santo tem passado por um período difícil, principalmente relacionado à seca, mas alguns produtores rurais têm feito a diferença e mostrado que boas ações dão resultados para o futuro. As palavras de ordem são preservação e sustentabilidade.

É o caso do agricultor Antônio Veronez, de Rio Novo do Sul. É na propriedade dele que pode ser encontrado um pouco dos apenas 16% de Mata Atlântica que ainda restam no Estado. Mas esse paraíso preservado só está vivo por causa da “teimosia” de Antônio e do irmão Ângelo: a maior parte da mata nunca foi tocada e uma outra menor foi reflorestada.

“Anos atrás, essa área reflorestada estava toda destruída, tinha virado pastagem. Hoje, nós vimos a coisa por outro lado e começamos então a reflorestar de novo. Deixamos virar árvores nativas de novo, então a mata voltou”, falou Antônio.

O replantio começou há 30 anos, quando o agricultor começou também a se dedicar à apicultura. “Para isso, a gente também depende de plantar árvores nativas, preservar. Então, achamos que a gente dava para viver em cima disso [apicultura] e começamos a preservar. Gostamos da natureza, por isso passamos a morar no meio dela”, explicou.

O irmão Ângelo Veronez conhece árvore por árvore. “São outras espécies, espécie que foram plantada pra reflorestamento. Temos a copaíba que tem cerca de 25 anos de plantio, o jatobá, o abacateiro, e muitas outras”, explicou.

Ele acredita que existem mais de 200 espécies de plantas na propriedade e o sustento das famílias vem das lavouras plantadas em meio à mata. As bananeiras dividem espaço com árvores nativas, e os pés de poncan estão juntos à soja perene, que protege o solo.
Plantação de soja perene protege o solo, conforme mostra Ângelo (Foto: Reprodução/TV Gazeta) Plantação de soja perene protege o solo, conforme mostra Ângelo (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Plantação de soja perene protege o solo, conforme mostra Ângelo (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

“O solo embaixo dos pés de soja está sempre protegido da luz do sol direta e está sempre úmido. Além de trazer o adubo, você vê que vai repondo matéria orgânica”, explicou Ângelo.

Toda a área verde na propriedade dos irmãos também permitiu a preservação das nascentes, mesmo em longos períodos de seca. É tanta água que até se formam uma cachoeira e uma piscina natural dentro da fazenda, com água fresca e limpa.

São 15 nascentes que alimentam o Rio Iconha e abastecem parte da região Sul do Estado. “Dá orgulho pra gente saber que tem tudo ainda, depois de tanta destruição. Saber que tem tanta gente que destrói tudo, que sem mais nem menos coloca fogo em tudo, e a gente conseguindo segurar um ‘bocado'”, falou Antônio. “E a gente tá preservando pra gente e para os outros”, completou o irmão.
É tanta água que até se formam uma cachoeira e uma piscina natural dentro da fazenda, com água fresca e limpa (Foto: Reprodução/TV Gazeta) É tanta água que até se formam uma cachoeira e uma piscina natural dentro da fazenda, com água fresca e limpa (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

É tanta água que até se formam uma cachoeira e uma piscina natural dentro da fazenda, com água fresca e limpa (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Um levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica mostrou que, em um ano, o tamanho da área desmatada dobrou no Espírito Santo. Existem projetos que tentam mudar esse cenário, mas a situação é desafiadora. Um exemplo é o Programa Reflorestar, do governo do estado, que recuperou quase 80 mil hectares de mata.

Desde 2013 foram recuperados 6 mil hectares e nesse ano serão mais 5 mil hectares recuperados.

A água também nasce em abundância no distrito de Jurama, em Vila Valério, Noroeste do Espírito Santo. Da terra, ela corre para o meio da floresta preservada. Mas quando o agricultor Chico da Mata, como é conhecido, chegou ao local, ficou preocupado.

“De onde eu vim tinha um rio grande, aqui é um córrego, então fui me preocupando com isso. Logo no segundo ano que eu tava aqui já começou a irrigação, em 1985, então eu achava que ia precisar um dia, como tá precisando”, falou.

Toda a mata na propriedade dele é nativa, nada foi reflorestado. Enquanto os agricultores vizinhos decidiram derrubar as árvores e vender a madeira, seu Chico deixou tudo no lugar, contrariando a todos. “Me chamavam até de doido, falavam que era para eu ter derrubado tudo”, lembrou.
Nascente na propriedade do seu Chico, em Vila Valério (Foto: Reprodução/TV Gazeta) Nascente na propriedade do seu Chico, em Vila Valério (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Nascente na propriedade do seu Chico, em Vila Valério (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

O tempo passou e a água das cinco nascentes ficou preservada. Ela vai para uma barragem e serve para irrigar a plantação de pimenta-do-reino e o cafezal do seu Chico, que já florou e está com os primeiros grãos.

Já prevendo que a situação de seca não tem data para acabar, ele mudou o sistema de irrigação de canhão para microjet. “Assim a gente gasta menos água, e a gente não sabe o dia de amanhã”, defendeu.

O técnico agrícola Edson Rossini é filho de seu Chico e conta que já ouviu muitas pessoas falando com o pai para derrubar toda a área preservada. “Olhamos em volta, os nossos vizinhos que fizeram a derrubada na época e fizeram o cultivo. Vi as nascentes secando e cheguei a conclusão que o melhor que fizemos foi deixar essa área”, falou.

E foi essa água preservada que, no auge na seca no ano passado, abasteceu as casas de 8 mil pessoas da cidade de Vila Valério. O carro-pipa da prefeitura ia até a propriedade buscar água para abastecer as casas. Seu Chico da Mata nunca cobrou nenhum centavo por isso. “Isso é de Deus, né? Não tem preço”, declarou.
A propriedade do seu Chico virou um oásis em meio à seca (Foto: Reprodução/TV Gazeta) A propriedade do seu Chico virou um oásis em meio à seca (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

A propriedade do seu Chico virou um oásis em meio à seca (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Orgânicos

Uma agricultura sustentável equilibra produção, geração de renda e responsabilidade com a natureza. É produzir respeitando os limites da terra, da água, do meio ambiente. Uma produção consciente, que pensa no futuro: a agricultura orgânica envolve esses princípios.

No Espírito Santo, quase 2 mil produtores seguem esse caminho, em 40 municípios. O estado produz 12.800 toneladas de orgânicos por mês, a maioria frutas e hortaliças.

Um levantamento do Ministério da Agricultura diz que este ano a área de produção orgânica no país pode ultrapassar os 750 mil hectares registrados em 2016, impulsionada, principalmente, pela agricultura familiar.

E a procura pelos orgânicos está cada vez maior, o que pode ser percebido nas feiras especializadas, que estão sempre cheias. “É mais gostoso, mais saudável, mais prazeroso de comer”, defendeu a dona de casa Márcia Pereira.
Procura pelas feiras orgânicas está aumentando (Foto: Reprodução/TV Gazeta) Procura pelas feiras orgânicas está aumentando (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Procura pelas feiras orgânicas está aumentando (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

A aposentada Magda Rodrigues também é adepta do consumo de orgânicos. “A qualidade é melhor e são produtos que duram mais. O sabor também, é muito mais saboroso”, falou.

São 14 feiras agroecológicas organizadas pela Secretaria Estadual de Agricultura no Espírito Santo. Nesses locais, o consumidor tem contato direto com quem produz.

A produtora orgânica Isabel Schulz vende na feira da Praia da Costa, em Vila Velha. Ela contou que trabalha com orgânicos há 16 anos, mas nem sempre foi assim. Ela já usou agrotóxicos nas lavouras em Santa Maria de Jetibá, mas os problemas de saúde a obrigaram a mudar essa estratégia de produção.

Mudou o jeito de produzir e mudou também a saúde da família. “Eu tinha 16 anos, mas já estava toda intoxicada por causa do veneno. Hoje é totalmente diferente. Eu tenho um filho que vai fazer 18 anos e é muito difícil ir ao médico. A gente pensa na nossa saúde e no consumidor também”, falou.

Mas essa transição leva tempo. Isabel explicou que deixou a terra descansando por dois anos até ficar livre dos resíduos de agrotóxicos. Foi preciso recomeçar, conquistar um mercado novo. Hoje ela tem duas barracas na feira orgânica da Praia da Costa e também atende a pedidos pela internet.

“A produção tá boa, cada vez aumentando mais, então a gente tá mandando pra São Paulo também. Cada vez aumentando mais”, declarou.

Quem também tem uma barraca na mesma feira é o produtor orgânico Avelino Schlieve. A produção dele, em Santa Maria de Jetibá, também é orgânica. Ele decidiu sair do método tradicional em 1999 pensando em muitas mudanças.

“Em primeiro lugar, pensei na minha saúde e nada minha família. Segundo, você consegue cuidar melhor da terra, da água, da natureza em geral. E você pode levar seu produto para as feiras e entregar para os seus fregueses garantindo que é um produto de confiança”, disse.
Seu Avelino vende morangos orgânicos (Foto: Reprodução/TV Gazeta) Seu Avelino vende morangos orgânicos (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Seu Avelino vende morangos orgânicos (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Na época, quase ninguém acreditava que fosse possível, mas seu Avelino e a família acreditaram e fizeram na propriedade um trabalho de preservação ambiental para recuperar uma das nascentes do rio Santa Maria. Quase 20 anos depois, a barraca dele é uma das mais procuradas.

“Tem sempre produto fresco que vai do agricultor direto para o consumidor. Você tem tempo de conversar como é a produção, o transporte, você tem uma liberdade de conversa com o consumidor. Isso também faz com que eles tenham interesse em comprar da gente”, acredita.

A produção orgânica faz bem à natureza, a saúde e à economia. As feiras agroecológicas movimentam mais de R$ 500 mil por semana. “Você vê que o produto é da terra, é saudável. A turma que produz também é fantástica e a feita também é muito harmoniosa”, falou o dentista Luiz Cláudio Dalla Bernardina.

E quem produz se sente bem ao saber que ‘vende saúde’ e contribui para que a terra continue produzindo por muito tempo. “É prazeroso você saber que está colhendo um produto natural e está entregando para aquela família levar pra consumir um produto de qualidade. É a sua saúde e a saúde do consumidor”, falou a produtora Isabel.

“É uma conquista muito vitoriosa. Estamos nisso desde 99, então é um troféu muito grande que a gente tem hoje”, finalizou Avelino.
Produtos sendo separados para serem vendidos na feira orgânica (Foto: Reprodução/TV Gazeta) Produtos sendo separados para serem vendidos na feira orgânica (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Produtos sendo separados para serem vendidos na feira orgânica (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

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