Um dos acidentes mais graves nas estradas do Espírito Santo completa dois anos neste dia 22 de junho. Para quem é familiar de uma das 23 vítimas da tragédia, a lembrança trás marcas irreparáveis. A sensação é de impunidade. A BR 101, onde tudo aconteceu, segue sem duplicação.
Entre um dos passageiros mortos no ônibus de viagem, estava o irmão do auxiliar de atendimento Eder de Souza Domingos, 36. Fernando de Souza Dias estava a caminho do enterro da avó, que cuidou dos dois quando crianças. “Ele morava em São Paulo e a gente tinha uma relação muito próxima, mesmo longe. Ele vinha sempre no final do ano, para passar as festas e comemorar o aniversario dele, que é dia 31 de dezembro. Quando soube da morta da nossa avó, ele não pensou duas vezes para vim sepultar a mulher que cuidou da gente quando criança”, relata Domingos.
Mesmo após dois anos, as marcas ainda estão presentes na família de Eder, que relata em meio a uma voz embargada a impunidade que nem tão cedo tem data para ser resolvida. “Eu demorei muito pra retomar a minha vida. A sensação é de impunidade. Os donos da carreta continuam a fazer a mesma coisa, sem remorso. Enquanto eles estão no conforto, a gente está aqui, sem o meu irmão na nossa família”, conta.
Acidente
Duas ambulâncias, dos municípios de Alfredo Chaves e Jerônimo Monteiro, uma carreta que transportava rochas e um ônibus de viagem da viação Águia Branca, com 30 passageiros, estavam entre os envolvidos no acidente, que aconteceu por volta das 5h50 da manhã, do dia 22 de junho de 2017.
A carreta que carregava rochas além do que era permitido invadiu a pista contrária e bateu de frente com o ônibus de viagem, que com a força do impacto quase teve a cabine desprendida.
Duas ambulâncias dos municípios de Alfredo Chaves e Jerônimo Monteiro vinham atrás também colidiram contra o ônibus.
No momento do acidente, Eder de Souza Domingos esperava o irmão na rodoviária. “O tempo foi passando e nada de ele chegar. Fui ao guichê buscar informações, e me informaram que por conta da chuva o ônibus poderia ter atrasado. Por volta de 7h a minha esposa entrou em contato buscando informações, e ela viu que houve um acidente pela internet entre um ônibus e uma carreta. As 8h, um funcionário da viação informou que o ônibus era o do acidente. Eu entrei em desespero”, relembra.
Transportadora
A responsável pela carreta era a transportadora Jamarl, já tinha levado 35 multas por excesso de velocidade, excesso de peso, falta de equipamentos obrigatórios e por fugir da fiscalização.
De acordo com a Policia Rodoviária Federal, foi apurado que o condutor aguardou o término da fiscalização da PRF para, só então, realizar o deslocamento. Os donos da empresa responsável pelo veículo de carga pesada foram indiciados pelo acidente, sendo que um deles chegou a ser detido, mas foi solto um dia após a prisão.
A investigação apontava para uma negligência por parte dos donos da empresa. O caso permanece na Justiça.
Rodovia
No ano passado, por meio do estudo “Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura”, realizado pela Confederação Nacional de Transporte (CNT), ficou comprovado que a rodovia em que aconteceu o acidente em Guarapari, na Grande Vitória, que começa no km 343,1 e termina no km 353,1, liderava o ranking de mais perigosa do país.
Em nota, a CNT informa que não realizou novas edições do estudo, não conseguindo saber se o trecho continua o mais perigoso atualmente. A lista foi definida pelo ranking decrescente do número de óbitos, nos trechos listados.
Fonte: ES HOJE