Segundo a Polícia Civil, um ex-funcionário que era advogado no grupo, recebia alvarás judiciais oriundos de reclamações trabalhistas e, ao invés de repassar os valores para a empresa, ficava com eles.
Nesta quinta-feira (17), na Operação “Animus rem sibi Habendi” da Polícia Civil, foi cumprido um mandado de busca e apreensão na casa de Raquel. Além de um carro no valor de R$ 130 mil, foram apreendidos R$ 200 mil em cosméticos que, de acordo com as investigações, eram comprados e vendidos pela mulher com o dinheiro apropriado de forma indevida. Já os bens de Diego Lorencini foram bloqueados.
Segundo o delegado-chefe do Departamento Especializado de Investigações Criminas (Deic), Romualdo Gianordolli, as irregularidades eram praticadas desde 2016. Em julho de 2018, o acusado foi demitido. Neste período, segundo o delegado, a empresa passou a identificar o prejuízo quando notou uma mudança no padrão de vida do funcionário.
“Primeiro veio a desconfiança por causa do próprio padrão de vida dele, que foi crescendo assustadoramente em pouquíssimo tempo. Então, eles pararam para averiguar, observaram muitas coisas, desligaram ele do grupo em julho de 2018, e, até hoje, estão conseguindo ver mais desfalques, até chegar no prejuízo total e definitivo”, disse.
O advogado Diego Azeredo Lorencini foi indiciado pela polícia após dar um desfalque de aproximadamente R$ 2 milhões ao Grupo Dadalto. A namorada dele, Raquel Antunes do Carmo de Andrade, também foi indiciada – Foto: Reprodução
PRESTAÇÕES
O delegado falou sobre as aquisições do ex-funcionário. Segundo Gianordolli, o advogado tinha uma renda mensal de R$ 8 mil, mas comprou imóvel no valor de R$ 820 mil em apenas duas prestações.
“Uma vida totalmente incompatível, com várias viagens, bens adquiridos, carros, imóveis, vestimentas. Ele mudou totalmente o padrão de vida em pouquíssimo tempo. Inclusive, um dos imóveis de maior valor, de R$ 820 mil, ele pagou em apenas duas prestações de R$ 410 mil, sendo que o salário dele declarado era de uma ordem de R$ 8 mil mensais”, destacou.
Ainda de acordo com o delegado, Raquel também se beneficiava do dinheiro comprando carro e cosméticos para revenda. Em depoimento, ela afirmou não saber a origem dos recursos.
“Ela lavou o dinheiro, participava da lavagem de dinheiro. Ela adquiriu um carro, pagou em pouquíssimas prestações um carro de R$ 130 mil, totalmente incompatível com a renda declarada dela, que era de R$ 2 mil, bem como vários outros produtos. Então, ela responde pela lavagem de dinheiro”, disse. E ainda complementou dizendo que Raquel, “no depoimento, disse que era sustentada por ele e que não sabia da fonte do dinheiro ilícito, mas com certeza ela deveria imaginar de onde vinha isso”.
BENS BLOQUEADOS
Além do carro e da mercadoria apreendida durante a operação, outros bens do casal foram bloqueados e, segundo o delegado, serão leiloados até que seja feito o ressarcimento do prejuízo à empresa. Entre os alvos dos bloqueios estão quatro veículos – três carros e uma moto avaliados pela Polícia em aproximadamente R$ 244 mil –, três imóveis avaliados em cerca de R$ 1,7 milhão, e a conta bancária dos acusados.
O coordenador do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro do Nuroc (Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção), delegado Alexandre Falcão, que também participa das investigações, destaca que a compra de vários bens para uma renda incompatível chamou atenção.
“Houve a quebra de sigilo fiscal, por parte do delegado Romualdo, e, com base nos dados, o Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro do NUROC analisou toda a movimentação financeira dos investigados e concluímos que houve um enriquecimento ilícito muito vultuoso para um advogado que recebia, aproximadamente, R$ 8 mil. Ele passou a adquirir imóveis, veículos, uma representação de uma marca de cosméticos e isso nos chamou atenção”, explicou.
PROCESSO
O ex-funcionário da empresa será ouvido nos próximos dias. Segundo o delegado Gianordolli, Diego Azeredo Lorencini responde o processo em liberdade e não teve o depoimento marcado antes da operação para não atrapalhar os trabalhos da polícia.
“Ele será intimado para ser ouvido. A gente não ia ouvi-lo antes, porque antes de ter o bloqueio dos bens ele poderia dilapidar o patrimônio, esvaziar a conta bancária, o que iria dificultar. Então, naturalmente a gente espera todas as medidas antes de ouvi-lo”, explicou.
Segundo a polícia, os dois já foram indiciados. Diego vai responder pelos crimes de apropriação indébita e lavagem de dinheiro, com penas que podem chegar a 17 anos de prisão. Raquel vai responder por lavagem de dinheiro, podendo pegar até 10 anos de prisão.
Os acusados foram procurados pela reportagem para se pronunciar sobre as acusações, mas não foram encontrados. Eles vão responder ao processo em liberdade. A Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Espírito Santo (OAB-ES) também foi procurada sobre o acompanhamento do caso, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem.
O GRUPO
O grupo Dadalto se pronunciou por nota e esclareceu que “algum tempo depois de demitir o advogado, detectou conduta incompatível com as diretrizes da empresa. Ao ter ciência do caso, tomou as medidas cabíveis para apurar o ocorrido e buscar a devida responsabilização”.
ENTENDA
Esquema: De acordo com a Polícia,Diego Lorencini, que era advogado do grupo, recebia alvarás judiciais oriundos de reclamações trabalhistas e, ao invés de repassar os valores para a empresa, ficava com eles.
Montante: Segundo o delegado Romualdo Gianordolli, prejuízo é de aproximadamente R$ 2 milhões, mas pode ser maior.
Quando: Até o momento, as irregularidades foram detectadas entre 2016 e 2018.
Lavagem de dinheiro: Segundo o delegado, o ex-funcionário e a namorada se utilizaram do dinheiro para comprar carros, imóveis e outros bens