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Candidatura de Maia à Presidência é ‘improvável, mas não impossível’

Cientistas políticos analisam o interesse de Rodrigo Maia de disputar a vaga de Temer

Improvável, mas não impossível. Assim pode ser encarada uma eventual candidatura de Rodrigo Maia (DEM) para a Presidência este ano. Tendo expressado mais claramente seu desejo de participar da corrida, Maia contou em entrevista ao GLOBO que quer se tornar a opção de centro para o Planalto. Para isso, porém, deverá encarar um cenário fragmentário e uma baixa intenção de voto, analisam cientistas políticos.

“Existe uma crise hoje de um nome que se afirme no chamado centro. Coisa que Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (PSD) ainda não conseguiram”, explica Paulo Baía, professor da UFRJ. “Quem conseguir unificar essa base, com os partidos do governo, vai ter muito espaço televisivo e uma forte estrutura de campanha. Isso pode transformar um nome como o de Maia em um candidato, que ele ainda não é”.

Maia, que disse não se ver como candidato único, precisaria alcançar o apoio da base governista para se lançar. Vindo do DEM, partido de menor expressão se comparado ao PSDB ou ao próprio PMDB, o presidente da Câmara deverá articular apoios e alianças para entrar na corrida.

“Ele nunca enfrentou uma candidatura majoritária. E quando veio para a prefeitura do Rio, teve um desempenho pífio. Ele é um candidato classicamente de parlamento, como ele mesmo admite. É mais discreto”, argumenta Ricardo Ismael, professor da PUC Rio.

Ainda assim, a recém conquistada visibilidade de Maia na presidência da Câmara poderia impulsioná-lo para voos mais altos.

É uma análise compartilhada por Baía, que vê uma nova posição de destaque para o político.

“Hoje, ele acabou se tornando centro das atenções de um governo fraco. Antes, ele era um candidato de 100, 150 mil votos, com dificuldades até para se eleger deputado, o que ele superou”, explicou o pesquisador.

Uma das principais barreiras para Maia é sua baixa aceitação nas pesquisas. Pouco cotado pelos eleitores, ele disse na entrevista ao GLOBO apostar em uma força tardia na eleição. Para Baía, um caminho seria buscar votos dos indecisos e ganhar força em um possível segundo turno.

“Não seria inédito chegar na reta final com poucas intenções e sair eleito. Aconteceu com o próprio pai dele, Cesar Maia (DEM), em 1992 nas eleições para a prefeitura do Rio”, argumentou o docente.

Para isso, Maia deve apostar na atual fragmentação do centro, um espaço com grande número de eleitores mas sem um nome indiscutível. A competição direta deverá ser com Henrique Meirelles, que ensaia sua candidatura mas não consegue grande penetração com o eleitorado, e Geraldo Alckmin, que não conquistou a base governista.

“O Centro é um espaço bastante interessante no jogo político de 2018. Maia se colocando na corrida ganha visibilidade. Ele também pode passar a conseguir força com a aprovação da reforma da Previdência, que deve ser decidida em fevereiro”, disse Ismael.

ALINHADO COM O MERCADO

A posição de herdeiro do governismo atual se apresenta como um dos trunfos assumidos de Maia. Na entrevista, o político declarou ver a continuidade das reformas e cortes de gastos como uma de suas principais plataformas para as eleições.

“Falta alguém para assumir o legado do “Blocão”. O Meirelles não conseguiu cativar esses eleitores. Quem é contra as reformas, já tem seus candidatos”, argumenta Baía.

É uma visão parecida com a de Ismael, que vê em Maia um alinhamento com os interesses do mercado financeiro, o que pode pesar a seu favor no caso de um crescimento econômico no final do ano.

E apesar de próximo e defensor das medidas do Planalto, Maia teria conseguido se desvencilhar, em certa medida, da imagem desgastada do presidente Temer (MDB).

“Ele teve um mérito de ao mesmo tempo ser apoiado pelo governo Temer e de conseguir manter uma imagem descolada da Presidência”, explicou Ismael.

Com a tentativa de adotar um ar de racionalidade, Maia tenta ser um contraponto à polarização política. Vai tentar convencer eleitores com um discurso moderado, o que não necessariamente pode pesar em seu favor.

“O emocional pesa muito nas eleições. Voto é afeto, e as pessoas dão os seus por amor, ódio e outros sentimentos que movem mais do que a racionalidade”, disse Baía. Para ele, tudo deverá se definir até abril ou maio, quando o Centro deverá ter desenvolvido suas alianças em torno de nomes com mais força.

É o que vê, também, Ismael:

“Hoje (a candidatura) é mais desejo do que de fato concreta. Serve, também, para ajudá-lo em negociações e articulações, até para favorecer o DEM. Maia, por mais que tenha fatores que o ajudem, precisa de votos. São eles que decidem a eleição”.

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