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Cientistas recusam medalha após Bolsonaro retirar nomes da lista de agraciados

A Ordem Nacional do Mérito Científico foi fundada em 1993 | Ricardo Valverde (CCS/Fiocruz)

Um grupo de 21 cientistas agraciados com a Ordem Nacional do Mérito Científico decidiu recusar a honraria depois que o presidente Jair Bolsonaro retirou da lista de agraciados dois nomes da comunidade científica  ligados à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia .

Um deles, Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, é pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado e coordenou um estudo, em Manaus, que comprovou a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. O outro nome cassado por Bolsonaro da lista de homenageados é o da diretora da Fiocruz Amazônia Adele Schwartz Benzaken.

Em carta aberta, os pesquisadores declaram que a decisão do presidente de excluir os dois nomes – “inaceitável sob todos os aspectos” – é “mais uma clara demonstração de perseguição a cientistas, configurando um novo passo do sistemático ataque à ciência e tecnologia por parte do governo vigente”.

“Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade científica brasileira nas últimas décadas.”

Na carta, o grupo lembra que a Ordem Nacional do Mérito Científico, fundada em 1993, é um instrumento de Estado “para reconhecer contribuições científicas e técnicas de personalidades brasileiras e estrangeiras”. E que a indicação de membros agraciados é feita por uma comissão formada por três representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; três membros indicados pela Academia Brasileira de Ciências e três indicados pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Os cientistas finalizam a carta declarando-se honrados por terem seus nomes indicados à comenda, mas, em solidariedade aos colegas excluídos, decidiram pela renúncia coletiva.

“Consideramos, portanto, gratificante nossa presença nessa lista, e ficamos extremamente honrados com a possibilidade de sermos agraciados com um dos maiores reconhecimentos que um cientista pode receber em nosso país. Entretanto, a homenagem oferecida por um governo federal que não apenas ignora a ciência, mas, ativamente, boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não é condizente com nossas trajetórias científicas. Em solidariedade aos colegas que foram sumariamente excluídos da lista de agraciados, e condizentes com nossa postura ética, renunciamos coletivamente a essa indicação.”

Na 6ª feira (5.nov), após a divulgação da decisão de Bolsonaro de retirar da lista de agraciados dois nomes ligados à instituição de pesquisa, a direção da Fiocruz também manifestou solidariedade aos cientistas. Em nota, a fundação destaca a abrangência da pesquisa liderada por Marcus Lacerda em Manaus, que demonstrou a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes graves com covid-19, que contou com mais de 70 pesquisadores e colaboradores de instituições como Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Universidade do Estado do Amazonas e Universidade de São Paulo.

“A Fundação apoia incondicionalmente a ciência e seu corpo de pesquisadores e reafirma seu compromisso com a missão de produzir, disseminar e compartilhar conhecimentos e tecnologias voltados para o fortalecimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população brasileira.”

Fonte: SBT

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