Estudiosos divergem sobre se PM devia ou não ter atirado
A conduta do policial militar à paisana que trocou tiros com os dois bandidos dentro do ônibus assaltado em Guarapari dividiu a opinião de especialistas. O assalto resultou na morte de duas pessoas e deixou outras três feridas na terça-feira (22),
O ex-delegado paulista e especialista em segurança pública e privada, Jorge Lordello, disse que é preciso verificar de qual arma saíram os disparos que atingiram as vítimas. Ele acrescenta que é necessária a reconstituição do ocorrido para obter um desenho do que realmente aconteceu para não serem tiradas conclusões precipitadas. No entanto, adiantou que, a princípio, o policial teria agido em legítima defesa própria e de terceiros – no caso o guarda municipal desarmado pelos assaltantes – e demais passageiros.
“Ali, além de policial, ele era vítima. O ônibus fechado, todos ali estavam rendidos pelos criminosos e geralmente todos são abordados nos ônibus. O assaltante não vai roubar alguns e parar. A legislação permite que ele haja em legítima defesa própria ou de terceiros. Quando ele reage, não é só em defesa das pessoas, mas na dele também”, disse.
Lordello fez ainda um paralelo com o que aconteceu em São Paulo, no último sábado, quando um policial também à paisana e com um filho no colo, reagiu e matou dois assaltantes dentro de uma farmácia.
“Quando a ocorrência dá certo o policial é visto como herói, mas quando não sai, é visto como vilão. O policial estava entre a cruz e a espada e legalmente teria que tomar uma providência. E se ele fica quieto e eles matam a vítima?”, questiona.
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á o consultor de segurança pública e coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva Filho pensa de forma diferente. Para ele, a única coisa que justificaria o policial intervir e atirar seria o risco iminente de grave lesão, ou seja, do bandido atirar nele ou em alguém.
“Faltam detalhes que ainda vão decorrer do inquérito, mas o fato dos bandidos estarem com o revólver na mão, recolhendo objetos, não é o caso de fazer a intervenção, pois existia muito risco. Havia pessoas em volta, não era a hora, deveria deixar o assalto prosseguir. Ele se precipitou e acabou tendo como consequência algo que poderia ter sido previsto. Só no cinema que o policial se identifica e o bandido se entrega”. afirma.
IMPUNIDADE
Preferindo analisar o contexto brasileiro, que permite que situações como a de terça-feira se repitam, o professor do curso de mestrado em Segurança Pública da UVV, Pablo Lira, culpou a impunidade.
“Nas pesquisas a gente identifica que o principal fator que contribui para esse quadro é a impunidade. Os indivíduos avaliam que se cometerem um crime vão permanecer soltos. Na maioria das vezes cometem crimes graves são presos pelas agências policiais, mas depois são soltos, porque o grande gargalo na segurança pública está no Legislativo com leis brandas, e na morosidade da Justiça”, critica.
Criminosos atiraram primeiro
As testemunhas do assalto ao ônibus da viação Alvorada confirmaram que foram os bandidos quem iniciaram os disparos dentro do coletivo.
Sete pessoas foram ouvidas na Delegacia Patrimonial de Guarapari, na tarde de ontem, e contaram que os bandidos ameaçara matar o Guarda Municipal e ficaram irritados com o motorista do coletivo, que teria parado o ônibus quando percebeu se tratar de um assalto. Neste momento, um dos assaltantes disparou, dos fundos do veículo, um tiro contra o para-brisas.
Foi quando o PM teria se identificado e a troca de tiros começado. Ainda segundo as testemunhas, a maioria dos disparos partiram dos criminosos, visto que o PM, ao reagir, foi em direção á porta do ônibus e desceu rapidamente.
Os assaltantes ainda continuaram disparando, antes de conseguirem fugir. Um dos passageiros ainda afirmou durante o depoimento ter ouvido um barulho de carro acelerando de forma brusca no local.
Fonte: Gazeta Online