A indústria capixaba mostra sinais de cansaço diante da pandemia do novo coronavírus. Desemprego em alta, queda na receita e investimentos cancelados ou adiados são consequências diretas e visíveis da paralisação da economia. Uma pesquisa feita pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies) com 383 empresas capixabas e apresentada na tarde desta terça-feira (23) mostra que se 77% das empresas tinham intenção de investir antes da pandemia e, dessas, 10% cancelaram o investimento, 17% adiaram para o segundo semestre deste ano e 28% postergaram para o ano que vem.
Com investimentos em baixa, os empregos também sofrem: 43% dos entrevistados já demitiram e outros 19% pretendem fazê-lo nos próximos meses, ou seja, 62% de empresas que reduzirão o quadro de trabalhadores. A redução de carga horária e de salários já foi adotada por 32% dos empresários por conta da Covid-19. Cerca de 60% das empresas informaram que só em seis meses poderão ter o nível de atividade retomado.
Segundo o diretor do Ideies, Marcelo Saintive, a crise afetou cada segmento da indústria de forma diferente e também vai afetar as necessidades de cada uma para a retomada. “As pequenas empresas precisarão de crédito, outras precisarão de consultoria, novas formas de venda. Os resultados mostram o impacto da crise na economia capixaba mas também como cada uma das empresas foi afetada de forma diferente”.
O impacto da crise é um fato e, de certa forma, foi esperado quando o vírus chegou ao país. Mas o Brasil tem um histórico difícil, já que vem de uma turbulência que começou em 2015. “Nos últimos cinco anos o Brasil teve o PIB decrescente em quase 4%, enquanto o resto do mundo cresceu. Então já era uma situação complicada, começávamos a levantar voo e fomos abatidos na decolagem. É um prejuízo grande. Em dois meses extinguimos o mesmo número de vagas que criamos em todo o ano passado, isso usando os dados de abril. Maio e junho continuam críticos e teremos um cenário complicado. Quando há desemprego, a demanda é mais baixa, há receio na sociedade, que não consome. Isso tudo aponta para uma queda de mais de 6% de PIB em 2020”, explica o presidente da Findes, Léo de Castro.
Segundo o estudo, esse momento também provocou uma reação de avanço em algumas questões e muitas empresas já trabalham n a transformação dos negócios. Muitas precisaram se adaptar e há aquelas que aproveitam o momento para absorver as novas ferramentas de relação com clientes, com fornecedores e entre os colaboradores. Além disso, segundo Castro, há mudanças estruturais que precisam ser repensadas no país.
“DEVERÍAMOS APROVEITAR O MOMENTO DE CRISE PARA ACELERAR AS MUDANÇAS QUE O PAÍS TERÁ DE FAZER. NESTE MOMENTO, ESTAMOS VIVENDO A CRISE, MAS ELA VAI PASSAR, HÁ ESFORÇO DE TODA SOCIEDADE. MAS ESTAMOS DESDE 2015 EM CRISE E, PARA SAIR, ACREDITAMOS QUE O PAÍS FARÁ AS VOTAÇÕES E MUDARÁ DE VERDADE”.
Segundo Christine Samorini, presidente eleita da Findes, a instituição lançou um manifesto com as sugestões do setor produtivo para o Executivo e Legislativo. Nele, o pedido que os poderes coloquem em prática assuntos que estão parados há anos, como a reforma tributária, marco regulatório do gás natural, melhoria de rodovias entre outros tantos.
“VAMOS SEGUIR MUITO FORTE NESSA AGENDA. NOSSO PAPEL É PROPOR E COBRAR PARA QUE TODOS ENTENDAM QUE, SEM ESSAS REFORMAS, NÃO TEM MAIS O QUE O SETOR PRODUTIVO FAZER”.
Números do estudo
A pesquisa mostra que 76% das empresas pesquisadas estão trabalhando com o volume de produção abaixo ou muito abaixo do esperado, 37% das empresas relataram não operar com estoques. Entre aquelas que operam com estoques, 57% estão operando com estoques abaixo ou muito abaixo do planejado/desejado durante esse período de pandemia.
Das entrevistadas, 77% das empresas haviam planejado investir no primeiro semestre de 2020, entre elas, 28% adiaram os investimentos para depois de 2020 e 17% adiaram para o segundo semestre deste ano; 21% cancelaram os investimentos e 25% realizaram parcialmente os investimentos planejados para o primeiro semestre de 2020. Apenas 10% dessas empresas realizaram os investimentos como planejados.
Veja o manifesto:
UM GRITO PELAS REFORMAS:
MANIFESTO EM DEFESA DO BRASIL
Os 210 milhões de brasileiros têm o direito à oportunidade de uma vida melhor, com educação, saúde, saneamento e segurança. Afligidos pela pandemia e pelo fantasma do desemprego, não podemos ficar presos à estagnação econômica promovida por impasse político ou disputas partidárias. É hora de unir o país em torno do que realmente importa: gerar esperança e oportunidades para uma sociedade já exaurida.
De 2015 até o momento, o PIB do Brasil decresceu perto de 4%, enquanto o mundo cresceu 15% e os emergentes, 25%. Um país estagnado não oferece futuro à sua população!
A pandemia deve ser controlada com protocolos sanitários, mudança de comportamento da sociedade e o incansável trabalho dos profissionais de saúde. Cientistas do mundo inteiro correm para desenvolver vacinas. A pandemia vai passar.
Mas, quando ela passar, o que restará para a sobrevivência de milhões de trabalhadores desta e de futuras gerações? O Brasil não tem mais tempo a perder.
Caminhamos para duas décadas perdidas em um ciclo de 40 anos: a década de 1980 e esta, de 2010 até hoje. O que está em jogo é a nossa agenda de longo prazo: podemos comprometer o nosso futuro de forma irremediável, se não adotarmos medidas com urgência.
Precisamos lançar um grito pelas reformas estruturais, pela aprovação de marcos regulatórios que facilitem investimentos, pelas concessões e privatizações que façam frente à total falta de capacidade de investimento do país e dos Estados, gerando assim emprego e renda para todos.
Lideranças do Executivo e do Legislativo devem agir com a responsabilidade que o momento exige, em todas as esferas, Municipais, Estaduais e Federal.
Há pelo menos 20 anos o país debate reformas como a administrativa e a tributária. Tempo mais que suficiente para o amadurecimento de consensos.
Nesta semana o Senado deve concluir a votação do novo marco do saneamento. É um passo. Mas precisamos de muito mais.
Listamos abaixo destaques da agenda que entendemos serem URGENTES para a retomada do crescimento:
1) Nova lei do gás (PL 6407/2013)
2) Autonomia do Banco Central (PLP 200/1989)
3) Governo Digital (PL 3443/2019)
4) Novo Marco Legal de Ferrovias (PLS 261/2018)
5) Marco Legal do Saneamento Básico (PL 3261/2019)
6) PEC Emergencial (PEC 186/2019)
7) Reforma Tributária (PEC 110/2019 SF e PEC 45/2019 CD)
8) Reforma Administrativa (em discussão, a ser enviada ao Congresso)
9) Reforma do Setor Elétrico (PLS 232/2016)
10) Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 3729/2004 e PLS 168/2018)
11) Contrato de Trabalho Verde e Amarelo (MPV 905 do Poder Executivo)
12) Pacto Federativo (PEC 188/2019)
13) Desestatização da Eletrobras (PL 5877/2019)
14) Execução do Programa Nacional de Desestatização, atualmente com 17 empresas.
A decisão está nas mãos do Executivo e do Legislativo. Precisamos que as lideranças façam acontecer!
TODA A SOCIEDADE PRECISA COBRAR O AVANÇO DESTA PAUTA. ESTA DEVE SER A AGENDA URGENTE DO BRASIL PARA O BRASIL.
Vitória, 23 de junho de 2020.
FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO – FINDES
Fonte: Aqui Notícias