Bananal Online

Denúncia aponta milícia em terras no norte do Espírito Santo

Nos últimos três anos, após o início da pavimentação da estrada que liga a sede de Conceição da Barra a Itaúnas, movimentos em torno da especulação imobiliária começaram na região. Incluindo os criminosos. A grilagem de terra foi identificada a partir de invasão de plantações de eucalipto de propriedade privada. A ação envolve queima da área e roubo de madeira, suprimindo as plantações. A prática “lucrativa” gerou o interesse de policiais aposentados.

Segundo J.M. (nome que será preservado), que por mais de 15 anos trabalhou como vigilante na região, a milícia comanda todos os processos ilegais que estão a partir das invasões, e lucram muito. Ele destaca a prática “x-tudo”. “Essa milícia invade a terra, bota alguém para cortar madeira, marca a área. A vigilância chega, a gente fala que é área da empresa e eles ficam monitorando. A vigilância sai e eles vão lá para derrubar. Depois vendem a madeira e os lotes. X-Tudo”, relata o vigilante.

J.M conta que as terras invadidas foram vendidas para pessoas de outros municípios do Espírito Santo, como Serra, São Mateus, Pedro Canário e da própria Conceição da Barra, e até para de outros estados, como Minas Gerais. Segundo ele, os policiais milicianos praticam coação. “São em torno de 12 a 15 policiais que fazem parte dessa milícia”, afirma.

Os “cabeças” da organização criminosa, segundo ele, são dois sargentos da reserva residentes em São Mateus. “A milícia tem até contador, que é uma pessoa ligada à venda de móveis da região que também “comprou” terras na mão dos milicianos”, detalhou. Áreas invadidas já possuem edificações.

Quilombolas

Outra fonte, que não quis se identificar, destaca que os milicianos usam os quilombolas como “massa de manobra” para a perpetuação dos crimes. “Eles dizem que aquela área pertence à comunidade [quilombola] do Angelim. Os milicianos se escondem atrás dos quilombolas. Essa ideologia de briga de terras é o pano de fundo para ação deles. Inclusive, os milicianos os induzem a cometer o crime de incêndio e depois furto de madeira, para que depois eles lucrem com isso”, denuncia.

Segundo as fontes que conversaram com a reportagem de ESHOJE, todos os relatos já foram objeto de denúncias à polícia e Justiça. “Mas a questão social foi muito bem pensada pelo milicianos. A perda é grande e a madeira vira fonte de renda para outras pessoas. Não sei como é a visão do Poder Judiciário nessa questão. Ninguém quer mexer com quilombolas”.

Poucos policiais, muito crime

“Quem trabalha em vigilância florestal, que presta serviço nessa área de plantio de eucalipto, a ameaça é constante porque você acha de tudo: você acha roubo de carro, tráfico de drogas, cadáver, tudo… E quando você reprime o crime é ameaçado de morte”, diz J. M.
A reportagem preserva o nome do vigilante devido as diversas ameaças de mortes que sofreu nos últimos anos em seu trabalho. Segundo ele, a maioria dos milicianos reside em São Mateus e poucos com Conceição da Barra.

“O pequeno efetivo policial das cidades não dá conta de conter o índice de criminalidade, que tem crescido, e resolver mais essa questão. Várias vezes, quando a polícia foi, os caras cercaram em mais quantidade e a polícia teve que ir embora. Isso aconteceu várias vezes”, disse J.M.

O efetivo policial civil é composto por quatro pessoas no município de Conceição da Barra, para atender também Pedro Canário. “É um delegado, um escrivão e dois policiais para essa área toda. São Mateus é mais guarnecido, mas também é muito serviço pelo tamanho do município e pelo que lá acontece”. Também é baixo o efetivo de policias militares, o que permite a constância dos crimes. “São duas viaturas para Conceição da Barra inteira. E tem os horários”.

As fontes afirmam que já é de conhecimento das autoridades estaduais e de Conceição da Barra o movimento miliciano que ocorre na estrada de Itaúnas.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que todo tipo de atividade criminosa no Espírito Santo é monitorada pelos setores de inteligência, que geram relatórios sigilosos de investigação. Não há, até o momento, nenhum tipo de informação que confirme a atuação de milícias no Norte do Espírito Santo. De qualquer forma, a Sesp ressalta que todos os tipos de informação relativas a crimes que estejam sendo cometidos podem ser repassadas às forças policiais e, a melhor forma, é com a utilização do Disque-Denúncia 181, visto que preserva a identidade do denunciante.

O Instituto Agropecuário de Defesa Florestal (Idaf), afirmou que a questão “trata-se de conflito em terras ocupadas por particulares, terras privadas, não tendo envolvimento com atividades do Idaf”. Já o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), informou que ainda não tem nenhuma denúncia sobre a ação de milícias nessa região, para que tenha iniciado algum processo de investigação.

Fonte: ES HOJE

Sair da versão mobile