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Desafios do meio ambiente vão além de preservação e monitoramento

Os números do Estado relacionados a investimentos na área do meio ambiente assustam: em 2019 são R$ 18,3 milhões a menos no orçamento destinado aos órgãos ambientais do Estado – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) – comparado ao orçamento do ano passado.

Áreas que envolvem a gestão ambiental, como recuperação de mananciais e da cobertura florestal, atuação integrada de recursos hídricos, desenvolvimento das políticas estaduais de meio ambiente, compensação ambiental em unidades de conservação, fiscalização ambiental e Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), todas tiveram decréscimos no orçamento em relação aos valores investidos em 2018.

Para pesquisadores do meio ambiente capixaba o Estado tem grandes desafios na área. Sérgio Lucena, professor da Ufes e diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), destaca a necessidade de investimento em monitoramento e fiscalização do meio ambiente, sobretudo nas Áreas de Proteção Permanente (APP) que, mesmo protegidas por lei, estão sofrendo desmatamento e impactos importantes em função da expansão de atividades agrícolas sobre elas. Ele afirma que a regeneração de parte da cobertura de Mata Atlântica registrada no Espírito Santo nos últimos anos se deve a terras pouco produtivas que foram abandonadas e as áreas de APP, muitas passaram a ser exploradas pela atividade agrícola.

“As matas que cresceram nos últimos anos, cresceram nas encostas, topos de morro, locais menos apropriados para a agricultura. E, ao mesmo tempo, aumentou o impacto sobre áreas muito sensíveis, de extrema importância para o meio ambiente, que são as APPs. Elas continuam sendo ocupadas para atividades agrícolas e pastoris. Essas são as áreas que têm maior conflito de uso de terra no Espírito Santo, que é o solo mais rico, com mais nutrientes, que acompanha as várzeas, rios e córregos, e têm sido intensivamente ocupadas”, explica Lucena.

Recursos hídricos
Este fato tem impacto direto no que o diretor do INMA considera o problema ambiental mais grave no Espírito Santo: o comprometimento dos recursos hídricos. Para Sérgio Lucena, o grande desafio ambiental do Estado é integrar a gestão dos recursos hídricos à conservação das florestas. Uma política clara de proteção das APPs trará impacto direto na qualidade de vida humana.

“A ocupação dessas áreas pela atividade agrícola provoca, desmatamento nas áreas de recargas hídricas, lançamento de agrotóxicos nos campos d’água além de carregamento de sedimentos para dentro dos rios, que provocam assoreamento, trazendo problemas relacionados à gestão hídrica”, afirma ele.

E completa: “Passamos a ter indisponibilidade de água de boa qualidade para consumo humano e animal, o que compromete, inclusive, o nosso alimento. Nos últimos anos tivemos problemas hídricos severos no Espírito Santo e alguns rios que abastecem a população chegaram a secar. Esse é um problema seríssimo no Estado e precisamos trabalhar a gestão da água integrada à preservação das florestas. Quando defendemos a floresta, estamos defendendo a qualidade de vida humana”.

Tecnologias para rejeitos e preservação da fauna
O biólogo e consultor ambiental João Luiz Gasparini acredita que, além do aperfeiçoamento da gestão das águas, inclusive no que diz respeito à captação e distribuição, o Espírito Santo ainda tem desafios relacionados ao impacto causado por rejeitos tanto domésticos, quanto industriais. Ele acredita que a solução passa pela adesão a novas tecnologias. “Muito esgoto continua a ser lançado nas nossas baías e, apesar do discurso de esgoto tratado, existe muito esgoto in natura sendo lançado no mar. É preciso investir em tratamento, mas também em novas tecnologias”, conta.

Gasparini ainda frisa a necessidade da preservação da flora e fauna marinha, a partir da expansão dos portos, e da fauna terrestre, com a expansão das estradas próximas a reservas ambientais. “Estão previstos vários portos que geram uma intensa dragagem de recifes, que provocam um impacto que não tem como mensurar, inclusive para a pesca. Com o crescimento das rodovias é preciso voltar os olhos para o atropelamento da fauna. Temos mortandade de bichos que é fora do comum e a solução é o planejamento dessas novas estradas com passagem de fauna através de galerias. O Brasil é campeão em mortandade de bichos em estradas, o que pode levar à extinção local de nossas espécies”.

Fonte: ESHOJE

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