Em meio a uma das mais graves ondas de desemprego do Brasil, há patrões no Estado com dificuldades para encontrar profissionais
A crise econômica colocou mais de 12 milhões de pessoas nas estatísticas do desemprego em todo o país. Apesar desse grande número de trabalhadores sem emprego, empresas enfrentam dificuldades na hora de preencher determinadas vagas. Só para se ter uma ideia, há casos de oportunidades em aberto desde julho deste ano. Um processo seletivo em situações normais, segundo especialistas, dura duas semanas, em média.
A motivação dessa falta de mão de obra esbarra na qualificação dos candidatos, que não atendem aos requisitos exigidos pelas empresas. Por outro lado, há profissionais que não se interessam pelos cargos porque a remuneração não chama tanta atenção assim.
Segundo a diretora da Psicoespaço, Marianne Limonge, há muitas pessoas qualificadas e experientes no mercado, mas os candidatos simplesmente não aparecem.
“Temos muitas vagas na área de vendas que não conseguimos preencher há meses. É o caso do cargo de vendedor externo para o ramo de lubrificantes. Acredito que há uma falsa impressão de que, com a crise, as pessoas estão desesperadas por um emprego. Percebemos que existe um nível elevado de exigência dos candidatos, principalmente em relação à remuneração”, afirma.
A diretora destaca que as oportunidades estão disponíveis em vários níveis hierárquicos. Além disso, ela acredita que há uma crença de que não há emprego e que por conta disso muitos profissionais estão deixando de buscar uma recolocação no mercado de trabalho.
“Com a crise, as empresas precisaram conter gastos, além de readequar cargos e salários. Por isso, as companhias ficaram mais rígidas na hora de contratar. Antes da crise, as equipes eram grandes e tinham muitas pessoas para treinar, hoje é preciso que o funcionário esteja pronto”, avalia.
A área de tecnologia da informação é uma das que enfrentam problemas na hora de contratar um profissional. A gerente de Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) de uma empresa administradora de benefícios de plano de saúde, Natache Barros, conta que abriu uma vaga em agosto e ainda não conseguiu preenchê-la.
“Decidimos parar o processo seletivo para retornar depois. Os candidatos que se inscreveram não detinham todo o conhecimento que precisávamos, principalmente em banco de dados. Há dificuldade para encontrar pessoas que trabalhem com infraestrutura, análise de sistemas, programação, entre outras”, pontua.
Já a diretora da Center RH, Eliana Machado, ressalta que a questão salarial é uma das motivações que causam a falta de interesse de candidatos. Segundo ela, vagas mais complexas costumam demorar mais para serem preenchidas.
“Estamos há um mês e meio com vaga aberta para consultor de vendas para uma escola de inglês. Neste caso, o profissional precisa ter vivência na área comercial e inglês intermediário. Quando identificamos a pessoa, o salário não atendeu”, enumera.
Algumas vagas difíceis de preencher
Área de tecnologia
As empresas alegam que não encontram profissionais para atuar na área de infraestrutura e candidatos como analista de sistemas, programador, entre outros.
Gerente de tecnologia
Há uma vaga aberta há cerca de um mês porque nenhum candidato atendeu aos requisitos exigidos pela empresa. Entre as exigências, estava a necessidade de experiência com e-commerce.
Designer gráfico
O cargo não exige formação superior, mas o candidato precisa ter boa prática na área de criação. Este é um segmento carente de profissionais qualificados.
Marketing digital
Por ser uma área nova, os profissionais são muito jovens e as empresas encontram dificuldades de contratar pessoas por conta do comportamento.
Consultor de vendas
A vaga para trabalhar em uma escola de inglês está em aberto há um mês e meio. As exigências são ter vivência na área comercial e inglês intermediário. Os candidatos não aceitam a vaga por conta do salário.
Analista Contábil
A remuneração também é um empecilho na hora de os candidatos aceitarem ocupar a vaga. A exigência é ser formado em Ciências Contábeis e ter experiência de mercado.
Analista de negócios
A vaga está aberta há alguns dias. Os requisitos para concorrer são formação superior em Enfermagem, veículo próprio e carteira de habilitação.
Gerente de pousada
A vaga está aberta há três meses. O profissional vai atuar em Anchieta.
Vendedor externo
A vaga está aberta desde julho. A área de atuação é a de lubrificantes.
Vendedor de bebidas
Há quatro vagas abertas há pelo menos um mês.
Promotor de vendas
Outra vaga que está aberta há muito tempo e a empresa está com dificuldade de encontrar uma pessoa capacitada.
Balconista de farmácia
Estão abertas duas vagas para profissional com experiência em medicamentos injetáveis.
Executivo de contas
É necessário ter conhecimento do ramo de mármore e granito e inglês fluente.
Enfermeiro auditor
Esta vaga está em aberto há quase um mês. A atuação é para Colatina, o que dificulta o interesse dos candidatos. Além disso, é preciso ter vivência com processo de qualidade.
Aplicadora de laser
Requer o curso superior completo em Fisioterapia, Estética ou Biomedicina; não precisa de experiência, mas precisa de disponibilidade de horário. A dificuldade é encontrar candidatos que tenham a disponibilidade de horário e queiram trabalhar aos sábados.
Analista de Processos
Exige graduação completa em Engenharia de Produção e experiência com planejamento e execução das melhorias dos processos. A dificuldade é que a empresa fica no interior do Estado, e não foram encontrados candidatos que queiram mudar de cidade.
Fonte: Suprema Soluções em Pessoas, Center RH, Psicoespaço, Psico Store, Rhopen
Em busca de habilidades técnicas e sociais
As oportunidades de trabalho exigem atualmente um elevado grau de conhecimentos e habilidades por parte dos candidatos. De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Kátia Vasconcelos, as empresas buscam não só profissionais com conhecimento técnico, mas que tenham características essenciais para trabalhar em equipe, gerir processos, boa comunicação, entre outras.
“A sobra de vagas sempre foi uma realidade, mesmo quando estávamos na época de pleno emprego. Acredito que a dificuldade em preencher alguns cargos ocorre por conta da falta de combinação entre habilidades, conhecimentos e competências. Oriento aos candidatos que cuidem de sua formação acadêmica e mantenham o conhecimento atualizado, além de observarem as competências atitudinais necessárias para seu desenvolvimento”, destaca.
A psicóloga e coordenadora de Recursos Humanos da Psico Store, Jeany Nascimento, concorda com a presidente da ABRH quanto à falta de habilidades e competências necessárias para as vagas.
“É possível perceber que, com a competitividade, as empresas procuram errar menos, visando profissionais que sejam amplamente qualificados e possuam, além das habilidades técnicas, competências que o permita maior flexibilidade, enxergando a organização como um todo. É fundamental que diante do cenário que estamos vivendo hoje, o candidato veja a aprendizagem contínua como algo que torna o seu perfil mais atrativo, se propondo a estar em constante desenvolvimento, a fim de atender as exigências do mercado de trabalho”, completa.
A coordenadora de Recrutamento e Seleção da Rhopen, Ludmila Ribeiro, diz que para conquistar uma vaga de emprego, o profissional precisa investir na qualificação.
“Observo que as pessoas estão aproveitando o período de crise para se qualificar e isso é muito bom. Conheci profissionais que usaram o momento da demissão até para fazer intercâmbio, com o objetivo de aprimorar o inglês e ter um diferencial competitivo entre os candidatos”, comenta.
Já a psicóloga e diretora da Suprema Soluções de Pessoas, Sarah Rosado, diz que em alguns casos, como o de novas carreiras, há dificuldade das empresas que se adaptar a profissionais mais jovens.
“É o caso do setor de marketing digital, que é uma área nova, dominada por jovens. Eles querem ser escutados, dar palpites, uma liderança mais horizontal, além de ficar pouco tempo em cada empresa. Isso causa incompatibilidade entre empregador e empregado. O comportamento está em constante observação.”