Em meio a todo o esforço para manter a plantação saudável e produtiva, as pragas surgem como um pesadelo na rotina dos agricultores. Silenciosas no começo, chegam sem despertar suspeita, e quando o produtor nota a presença, muitas vezes, já se espalharam pela plantação.
Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), listaram as dez pragas que tiram o sono dos agricultores capixabas. Essas doenças são causadas por diversos tipos de agentes, como fungos, insetos ou vírus.
Não são raros os agricultores que enfrentam o desafio de lidar com elas. Marcelo Rigotti Bonna, 38 anos, produz banana, em Alfredo Chaves. Este ano detectou na plantação a sigatoka, doença provocada por um fungo que deixa as folhas da bananeira com manchas escuras e amareladas.
“Cheguei a perder 30% da lavoura de 50 hectares de banana nanica e prata. Teria que fazer pulverização. Mas como os pesticidas são caros, a maioria das vezes deixamos por conta da natureza. ”
O Estado produziu no último ano 2,33 milhões de sacas de café. De acordo com o entomologista do Incaper José Salazar Júnior, devido a esse grande volume existe também uma vasta variedade de doenças ligadas ao cultivo. “Ano passado a cochonilha da roseta não causou muito problema por causa da seca. Mas este ano, como voltou a chover, ela pode voltar a incomodar o produtor. É um tipo de praga que tem vários hospedeiros, mas no Estado o principal é o café”, comenta.
Segundo ele, a presença dessas pragas no cultivo podem gerar consequências devastadoras, como perda de produtividade, de qualidade dos frutos, de valor de comercialização e até exterminar 100% da lavoura se a virose chegar a se instalar.
Para evitar que os estragos causados pelas pragas sejam grandes, Salazar aconselha a monitorar. “É preciso acompanhar, ficar muito atento à presença das pragas e não deixar para fazer o controle tardiamente, evitando que a doença se propague e cause danos.”
Mas Salazar ressalta que, na hora de realizar o controle das pragas, é preciso aplicar os produtos de forma correta. “O uso indiscriminado faz aumentar a população de pragas resistentes ao produto, que passa a não agir mais. É o que aconteceu com o ácaro rajado. Nesse caso, é importante buscar o apoio do Incaper no município”, orienta.
AMEAÇA DE DOENÇAS ESTRANGEIRAS
Além das doenças já conhecidas pelo agricultores capixabas, outras podem aparecer. Umas lista elaborada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta as 20 pragas agrícolas mais perigosas que ainda não chegaram ao país.
Constam nessa relação o Moniliophthora roreri, um fungo do cacau, e o inseto Toxotrypana curvicauda, que ataca o mamão.
De acordo com o pesquisador e coordenador do Portfólio de Sanidade Vegetal da Embrapa, Francisco Laranjeira, o impacto não é só econômico, mas a chegada dessas pragas poderia afetar também o turístico, como no caso da praga do coqueiro que seca as plantas características do litoral.
A LISTA
Mosca das frutas
Ataca principalmente as plantas frutíferas de modo em geral e se multiplica nos cafés, mesmo sem causar dano ao cultivo. No Estado afeta principalmente citros, goiaba e pêssego. A fêmea coloca os ovos dentro do fruto. É preciso monitorar a plantação com armadilhas e, se preciso, fazer controle químico ou biológico.
Broca do café
Causa danos no fruto do café. A fêmea fura as sementes para colocar seus ovos. Além de causar a queda de alguns grãos, os demais perdem a comercialização, já que o café brocado tem o valor da saca menor. É preciso monitorar a plantação com armadilhas e, se necessário, fazer controle químico.
Broca da bananeira
Ataca o caule da bananeira que fica dentro da terra, por isso causa perda de produtividade e pode matar o pé, principalmente nas qualidades de banana terra e maçã. Se necessário, tem que fazer controle químico ou biológico.
Ácaro rajado
Atua principalmente no morango e, recentemente, na cultura do mamão. Ela ataca e consome a folha que vai perdendo a capacidade de fotossíntese. Já no morango ataca também fruta e flor. A praga faz uma espécie de “teia de aranha” na planta. Ela causa queda de frutos e produz marca neles, reduzindo seu valor comercial. O controle é biológico, com uso de ácaros predadores.
Cochonilha
Ela se instala na planta e transmite um vírus para o abacaxi, que leva a morte da planta ou produção de qualidade inferior. A maior dificuldade de controle é atingir a praga, já que fica abrigada na base das folhas. É preciso fazer várias pulverizações, limpeza manual das mudas ou eliminação das plantas doentes.
Ferrugem do café
Causa uma espécie de ferrugem nas folhas das árvores. Leva frequentemente à perda de colheitas. Para combater, usa-se fungicida. O prejuízo e o custo para combatê-la são altos.
Mosaicos e meleira
O mosaico é uma doença que pode limitar o crescimento das plantações de mamão. Já a meleira causa o escorrimento natural de látex com consistência bem fluida dos frutos, além de provocar manchas claras na casca. A única forma de evitar que elas se espalhem, é cortando as plantas doentes.
Sigatoka
Causa perdas que reduzem, em média, 50% da produção das bananeiras. As folhas ficam cheias de pontos amarelos e depois secam. O controle é feito por manejo integrado.
Mucha
Ataca as raízes da planta. O fungo faz com que as raízes da planta apodreçam. O controle é feito com a eliminação das plantas afetadas e mais cinco em sua volta.
Mal do Panamá
Entre os sintomas estão muchar, amarelamento das folhas e manchas avermelhadas no interior do caule. A doença mata a planta e o combater é feito com estratégias de manejo.
Fonte: Incaper e Embrapa