Com aumento da violência na zona rural, produtores pretendem se valer do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonoro que os incluiu na flexibilização da posse de armas de fogo

FRANCISCO SÁ – A segurança da família e da propriedade é também o argumento usado por produtores que pretendem se valer do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonoro que os incluiu na flexibilização da posse de armas de fogo. No Norte do Estado, onde, segundo a polícia, os furtos e roubos aumentaram nas últimas décadas, já se percebe uma movimentação nesse sentido. “No meu caso, minha única defesa até agora é este estilingue”, disse o agricultor Antônio Osvaldo dos Reis, de 69 anos, morador da localidade de Gameleiras, mostrando sua “arma” atual. “Agora quero comprar uma arma de fogo, se possível um rifle”, disse o agricultor, que também tem um pequeno boteco na área rural de Francisco Sá, adiantando que para adquirir o armamento pretende fazer curso e treinamentos “como manda a lei”.
O sítio de Antônio Osvaldo foi assaltado há três meses por três bandidos armados. “Eles chegaram pelos fundos da casa e me mandaram ficar parado, senão eu morria. Saí correndo e pulei uma cerca. Os caras deram tiros e não me acertaram”, conta o agricultor. Segundo ele, os invadores reviraram a casa dele e levaram uma pequena quantidade em dinheiro e vários objetos, fugindo sem deixar pistas. Gameleiras fica a três quilômetros da área urbana.
Os assaltos são comuns na região. Ali perto, o pequeno produtor José Ronaldo Gonçalves Xavier, de 55, também se prepara para pedir a posse legal e comprar uma arma. “Acho que pra mim vai ser mais fácil, porque já fui militar do Exército”, aposta “Pretendo comprar uma pistola 765”, revela o agricultor, que estima em R$ 6 mil o custo da arma. Segundo o agricultor, há 90 dias ladrões arrombaram uma porta e uma janela da sede do sítio dele e levaram uma televisão e outros objetos de valor. Ele não estava em casa. “A partir de agora (com o decreto de Bolsonaro), acredito que os roubos vão diminuir, porque os bandidos não terão mais como saber se estamos armados ou não”, acredita.
Ainda em Francisco Sá, o juiz aposentado e também produtor rural Ademar Batista da Paixão diz acreditar que a tendência é que proprietários de sítios da região comprem armas para a proteção de suas propriedades. “Com o Estatuto desarmamento, foram retiradas as armas da população. Desarmou-se o pessoal da zona rural e os bandidos se sentiram à vontade para agir”, analisa o juiz aposentado, que acompanhou vários casos de violência contra moradores da zona rural do município antes de se aposentar. “Teve um caso em que os ladrões quebraram a perna de uma aposentada de 70 anos, depois de assaltá-la. Ela ficou amedrontada e mudou-se para a cidade”, lembra.
Como integrante do Poder Judiciário, Ademar da Paixão já tem direito a porte de arma. Mas isso não evitou que sua propriedade rural, na localidade rural de Caititu, também fosse alvo de assaltantes, há dois anos. “Eu não estava na propriedade. Os bandidos chegaram armados, prenderam o caseiro em um banheiro e depois roubaram munições e objetos”, disse o juiz aposentado. “Acredito que, a partir de agora, com a possibilidade de pessoas terem armas em casa, os bandidos vão pensar duas vezes antes de entrar numa fazenda”, completa Paixão.