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Drama, fé e glória: a luta de Fernandinho para dar a volta por cima no futebol e na vida

Hoje no Chongqing Lifan, atacante ex-São Paulo, Galo e Fla superou “nãos”, morte de amigo e críticas até chegar ao título da Libertadores pelo Grêmio: “As dificuldades não me fizeram desistir”

Quem vê Fernandinho correndo solto pelos campos do mundo inteiro nem imagina as dificuldades que ele passou ao longo de toda a vida. Hoje no Chongqing Lifan, da China, o atacante ex-Grêmio, São Paulo, Atlético-MG e Flamengo superou dramas pessoais para dar a volta por cima através do futebol.

Adotado quando bebê, o jogador fez o caminho incomum e deixou São Paulo em direção ao interior do Nordeste com uma nova família. O destino era Ameixas, distrito de Cumaru, cidade de aproximadamente 14 mil habitantes que fica a 120 km do Recife, capital de Pernambuco. Essa foi a primeira parada da história nômade de Fernando.

As dificuldades financeiras, os “nãos”, as caronas, as críticas, as lesões, a seca e a morte do melhor amigo foram transformadas em motivação para ele realizar o sonho de jogar futebol e, principalmente, melhorar a vida de toda família.

– Um dia fui no mercado com a minha mãe e desejei muito uma bola. Chorei demais pedindo aquela bola, mas ela não tinha condições. O valor era exatamente igual ao salário mensal da minha mãe. Hoje louvo a Deus por tudo que ele me deu, pela família que ele me emprestou.

De férias na região onde deu os primeiros passos, ele volta a ser Luiz Fernando Pereira da Silva e recarrega as energias para a temporada 2019. Em um dos roteiros da viagem, Fernandinho parou em Cachoeirinha, no Agreste de Pernambuco, para conversar com estudantes do ensino médio de uma escola pública. No bate-papo, o atacante abriu o coração com o intuito de motivar os jovens.

Após a conversa, Fernandinho foi tietado por alunos — Foto: Lafaeta Vaz / GloboEsporte.com

Além do encontro com os alunos, Fernandinho também recebeu o GloboEsporte.com. Ele falou sobre a gratidão ao Central, a relação com a região onde cresceu, a importância do “pai” Renato Gaúcho, a experiência na China e o desejo de atuar no futebol inglês.

Confira a entrevista no vídeo acima ou leia na íntegra abaixo:

Relação com o Agreste

– Eu tenho um carinho muito especial, é a terra onde nasci, onde fui criado e tenho muito amigos. Foi o lugar que Deus escolheu para mim. Muito pensam que era melhor ter ficado em São Paulo, seria mais fácil ter tentado a vida, mas como falei, a minha vinda pra cá foi projeto e permissão de Deus. Tudo que acontece é vontade d’Ele, os planos d’Ele são melhores que os nossos.

Família e amigos

– Eu não consigo esquecer as minhas raízes, elas me prendem, o carinho especial que eu sempre tive e vou permanecer tendo. Tem pessoas que eu amo, que cresceram comigo, conhecem minha história e fazem parte da minha vida.

Central

– O Central foi marcante na minha história, foi o clube que me deu oportunidade, que me aceitou. Eu fiz testes em clubes antes e não passei. O Central me apoiou mesmo com todas as dificuldades financeiras que tinha e que continua tendo. Quero chamar a atenção para pessoas com condições, empresários, para investirem no clube. É uma grande equipe, que tem uma importância gigantesca, uma história linda e que precisa de investidores para alcançar o patamar devido.

Ferroviário e Barueri

– Foram clubes que marcaram a minha vida. No Ferroviário, apesar do pouco tempo, me deu status e me ajudou na caminhada. O Barueri foi o clube que me apresentou ao futebol brasileiro, a grandes clubes do Brasil e da Europa.

São Paulo, Atlético-MG e Flamengo

– Eu poderia ter sido um pouco melhor no São Paulo, as lesões atrapalharam. Mas não me arrependo do que fiz. Não tenho receio de tudo que aconteceu. Foram momentos especiais, o São Paulo me ensinou a realidade de jogar em um time grande. Eu cresci não só como atleta, mas como ser humano, o que foi importante para o decorrer da caminhada. No Atlético, fui muito bem. Foram poucos meses e uma experiência fantástica, foi onde me aproximei mais da seleção brasileira. No Flamengo também tive um início bacana, não conseguimos o título, mas brigamos até o fim. Já o Grêmio foi onde tive mais dificuldade no início e depois se tornou o mais importante, o mais precioso em termos de conquista. Meu melhor ano, sem dúvidas, foi 2017.

Renascimento no Grêmio

– Os times do Sul têm uma característica de jogo diferente, parecida com argentinos, uruguaios, trabalham muito na raça, valorizam muito isso. No início eu não entendia. Saí primeiro para o Verona, da Itália, uma experiência bacana que eu passei, e depois fui emprestado para o Flamengo também. Foram experiências que me fizeram crescer e me prepararam para voltar pro Grêmio, conquistar a Libertadores e ter um ano espetacular.

Renato Gaúcho

– Eu tenho um carinho especial pelo Renato. Sem dúvida nenhuma ele foi um pai pra mim. Desde o Flamengo ele já me queria no Grêmio mesmo contra a vontade da diretoria. Quando eu cheguei, tive uma conversa com ele e eu não queria ficar porque não tinha espaço. Depois do papo eu decidi ficar e tentar recuperar o meu futebol, conquistar a torcida, a diretoria e quem não acreditava em mim naquele lugar. Graças a Deus conquistamos um título muito importante e ficou na história.

– A fé nos leva a enxergar depois das montanhas, além das tempestades. Ela junto com o sonho resiste as dificuldades, as barreiras, os acidentes, e sem fé eu não chegaria onde estou.

– Eu usava meus erros, meus tropeços, para melhorar a minha rota e agir de maneira contrária ao que eu tinha feito para realizar meu sonho. Meu desejo maior era dar a minha família aquilo que eu nunca tive. Dar ao meu filho, a minha esposa, o que a minha mãe não teve condições de me dar.
Bate-papo com os alunos

– Eu quis passar que nenhuma dificuldade seja motivo para desistir. O sonho para ser realizado precisa de resistência, de insistência. É necessário que a gente permaneça independente das dificuldades. Quanto maior a barreira, maior tem que ser a fé, a vontade, o desejo de vencer. Vidas dependerão desse sonho que buscamos.

Experiência na China

– Vivi experiências em muitos países, eu pensava que ia ser parecido com a Coreia, mas tem muita diferença. A experiência tem me feito crescer muito em todos os sentidos. Agradeço a Deus pelo privilégio e quero fazer a diferença não só dentro de campo.

Futebol inglês

– Eu gosto muito do futebol inglês. Tanto pela dificuldade, que nos leva a grandes desafios, e é um futebol que tecnicamente é acima do brasileiro. É um lugar que eu desejo, se Deus permitir, gostaria de jogar sim.

Volta ao Brasil

– Agora não desejo voltar, não. Quem sabe daqui a alguns anos, alguns meses. Está no coração de Deus.

Seleção

– Eu sou um cara que tive sonhos realizados pelo Senhor. Sempre sonhei em jogar pelo meu país, já desejei muito mais. Mas hoje é mais tranquilo.

Morte amigo

– Foi no meu terceiro teste que fiz no Santa Cruz. Fiz os dois primeiros e não passei. No terceiro passei e vim comemorar com amigos porque eu ia ficar um tempo longe deles. Teve um acidente de cavalo, meu amigo faleceu na hora e eu fraturei a bacia, quase fiquei paralítico. Depois de três meses, recuperado, o Santa não quis mais. Foi quando eu vim para o Central. Considero que foi permissão de Deus. Nós não entendemos no início. O menino que faleceu é meu cunhado hoje, irmão da minha esposa. A partir dali conheci minha esposa, meu sogro, minha família. Tudo estava na mão de Deus, a rota é ele quem faz. A gente só segue, aceita, decide, corre riscos. Nesta rota, teve essa parada em Cachoeirinha. Nos machuca, dói, mas é permissão de Deus. É um roteiro, nós somos apenas instrumentos nas mãos de Deus.

O que você diria para o Fernandinho que começou

– Eu aplaudiria a não desistência, pela escassez e pelas dificuldades vividas. As dificuldades que eu enxergava não me fizeram parar, desistir. Eu tive mais dificuldades do que vocês imaginam. Eu conheci vários colegas que tinham muito mais talento do que eu e desistiram com poucas dificuldades. O objetivo é não desistir, eu apenas aplaudiria.

Fonte:Portal Guandu.

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