Para a economista Zeina Latif, só ter idade mínima para se aposentar já é um passo grande
Mesmo com a desidratação da proposta de reforma da Previdência, qualquer parte dela aprovada é melhor que parte nenhuma. Essa é a opinião da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, que esteve ontem em Vitória a convite da Apex Partners, em evento sobre investimentos e perspectivas. Para ela, a reforma previdenciária é necessária para o governo conseguir arrumar a situação fiscal e abrir caminho para o crescimento econômico.
O ano foi marcado, na economia, por tímidos sinais de retomada. A gente já pode falar de crescimento da economia?
Primeiro, é importante colocar que só o fato de ter esses sinais de retomada, que são concretos, ainda que seja lenta, já é um tremendo alívio. Antes, a gente estava numa perspectiva de não enxergar nunca o fundo do poço. É importante entender que essa recuperação da economia vem por causa de acertos da política econômica. Quando você tem uma crise com essas características que tivemos, que bate de forma severa nas finanças das empresas e das famílias, a recuperação é mais lenta. Não dá para ficar esperando que será uma volta muito rápida, ainda mais por que as condições de crédito na economia estão muito frágeis.
As mudanças que o governo quer fazer na reforma da Previdência não enfraquecem a proposta a ponto de torná-la inócua?
Tornar inócua acho difícil porque o problema é enorme. Então, o pouquinho que se avançar, já ajuda. Eu já fui mais crítica, mas a verdade é que é difícil. O Brasil é um país que avança mais em reformas aos poucos do que em grandes reformas. Então, mesmo que essa reforma agora seja modesta, concentrada na questão da idade mínima e mexer com funcionalismo, já vai ser um passo muito importante. É melhor ter uma reforma pequena agora que não ter nada. Quanto mais fizer agora, melhor, mesmo que seja tímido. Só a idade mínima já é bastante importante. O Brasil está atrasado, qualquer país arrumado já tem idade mínima. Hoje, os pobres já se aposentam por idade mínima. Quem não é pobre é que se aposenta por tempo de contribuição, e isso é uma tremenda distorção.
Mesmo com a reforma da Previdência enxuta, será possível fazer o país crescer de forma sustentada nos próximos anos?
Uma coisa é a recuperação que a gente está enxergando agora, porque a gente estabeleceu uma agenda para o país, que ajuda a inflação a cair, a taxa de juros a cair e gera essa recuperação cíclica. A reforma da Previdência reforça esse cenário, pois traz estabilidade macroeconômica. Agora, é isso que vai fazer o país crescer de forma sustentada no longo prazo? Não. Isso é o alicerce. Se você tem a macroeconomia confusa, você não sabe para onde vão câmbio, juros, inflação, não sabe se a dívida pública vai ser paga, porque é isso que acontece quando não arruma o fiscal. Mas fazer o país crescer de verdade é subir a parede. Aí é uma agenda mais ampla.
E como se faz isso?
Subir as tais paredes do crescimento econômico é, em última instância, um Estado que atrapalhe menos, reduzir a complexidade das regras da tributação, essa cumulatividade de impostos que machuca a estrutura produtiva, essa complexidade e insegurança jurídica que torna a vida do empresário impossível.
Então a reforma tributária é prioridade?
A reforma tributária é importantíssima. A reforma tributária não é de pagar conta, é de fazer crescer. A Previdência é para pagar conta. Ela é importante para crescer também, mas a trabalhista e a tributária são para fazer crescer e para melhorar o ambiente de negócios.
Fonte: Gazeta Online