A falta de adequação de escolas para oferecer uma equipe multidisciplinar a estudantes surdos que realizaram implante vem provocando analfabetismo funcional (incapacidade que uma pessoa demonstra ao não compreender textos simples) em crianças e adolescentes. A afirmação é de especialistas ouvidos por ESHOJE.
A consequência, de acordo com especialistas, poderia ser resolvida com a presença de um pedagogo e da educação fonética visual, que associa a frase com figuras.
Neste 26 de setembro, Dia Nacional do Surdo, a presidente da Associação de Pais e Amigos Dos Surdos e Outras Deficiências (Apasod) e mãe de pessoa com deficiência usuária de implante coclear (dispositivo médico eletrônico para pessoas com perda auditiva de grau severo a profundo) e também de libras, Antônia Lourdilene, faz um desabafo.
“Enquanto eu estava lutando pelos filhos dos outros junto a justiça, dei uma parada e precisei colocar a minha filha em uma escola pública. Com isso, cheguei a conclusão que ela sabe falar muito bem com as mãos, mas se eu pedir para ela fazer uma redação, ela não consegue. Além disso, se eu pergunto para ela, por exemplo, o que é uma célula, ela não sabe me dizer”, lamentou.
De acordo com o Censo Demográfico do Brasil de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente em Vitória a população de pessoas surdas (que não ouvem de modo algum) é de 501 pessoas.
Já aqueles que convivem com uma grande perda auditiva, mas não total, chegam a 2.413 pessoas, totalizando 2.914 pessoas com deficiência severa. Ou seja, 0,81% da população da capital capixaba.
Vice-presidente da Associação de Surdos Oralizados do Rio Grande do Sul (Asic – RS), Geraldine Brandeburski de Oliveira explica que como única metodologia de ensino utilizada atualmente, o bilinguismo não é o problema, nem a comunicação ser em libras ou oralizada (aqueles capazes de realizar leitura labial para entender o que as outras pessoas estão dizendo), mas sim a metodologia na forma escrita do português.
“Tem as classes e as escolas bilíngues, sendo que os pais tem a opção de escolher, no caso do filho surdo oralizado, o uso ou não da libras. A metodologia bilíngue, ou seja, libras como primeiro idioma e o português escrito como o segundo, não serve para o surdo oralizado, por exemplo. No entanto, não há orientação para o ensino público e particular a respeito da metodologia fonética visual, que serve para ambos”, esclareceu.
De forma rígida, a mãe da Thalita Mozer que usuária de implante coclear e também de libras, diz que o Ministério da Educação (MEC) está querendo “enfiar a libras de goela a baixo” em estudantes que são usuários do implante coclear e também os oralizados.
“Nós [associações] somos contra essa ditadura da libras, pois tem que ter respeito a diversidade. A família tem que fazer parte desse processo, pois se a ela paga por uma cirurgia de mais de R$ 120 mil para o filho ouvir, o governo tem que oferecer uma equipe multidisciplinar, com um pedagogo e a educação fonética visual, sendo realizado todo um trabalho específico para esse surdo”, pontuou.
Acesso a educação
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informa que todos os alunos surdos tem acesso e permanência na Rede Pública Estadual. Além disso, há três Centros de Atendimento Pedagógico a estudantes com deficiência auditiva e surdez. São eles:
– CAS Vitória, localizada na Escola Oral e Auditiva de Vitória;
– CAS Escola Oral e Auditiva Vila Velha – Escola Alécia Couto;
– CAS Cachoeiro Escola Oral e Auditiva Napoleão Albuquerque.
A Sedu ainda destaca que a Escola Alécia Couto, considerada o berço da cultura dos surdos no Espírito Santo, não foi fechada, e está funcionando normalmente.
Também por nota, a Prefeitura de Vila Velha, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), informa que 38 escolas municipais possuem salas de Recurso Multifuncional, exclusivas para o atendimento de alunos especiais. No total, 400 professores da Rede de Ensino do município atendem ao público, que inclui alunos surtos. Além disso, os pais ou responsáveis por alunos surdos, residentes no município, podem entrar em contato com a unidade de Educação mais próxima de sua residência para solicitar o atendimento letivo à criança em idade escolar.
A Prefeitura de Cariacica informa que de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Seme), o trabalho da educação especial com os estudantes surdos acontece em duas escolas, uma é a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Maria Augusta, em Jardim Botânico, e a outra é a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Manoel Mello. Na rede pública de Cariacica, há 29 estudantes com surdez e perda auditiva, sendo 6 nos Centros Municipais de Educação Infantil e 23 nas Emefs.
Segundo a Prefeitura da Serra, atualmente, são 1.834 alunos público-alvo da educação especial do município, sendo 56 estudantes com deficiência auditiva/ surdez. Há 50 salas de Recursos Multifuncionais e um polo em Atendimento Educacional Especializado (AEE) na área da Surdez, em Feu Rosa.
A Serra afirma ainda que garante o direito dos estudantes público-alvo da educação especial de serem incluídos na escola comum e de assistidos por todos (diretor, professores regentes, pedagogo, coordenadores, etc.). Esses atores são os responsáveis por esse processo de inclusão.
A reportagem de ESHOJE procurou a Prefeitura de Vitória, mas até fechamento da matéria não recebemos a resposta.
Fonte: ES HOJE