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Em viagem à Rússia, Temer busca garantir mercado para carnes

Com embarque previsto para esta segunda-feira com destino a Moscou, Temer sairá do epicentro da profunda crise política da qual é protagonista

O risco de o Brasil ter problemas com um dos maiores importadores de carnes do mundo foi uma das razões pelas quais o presidente Michel Temer decidiu se ausentar do país por alguns dias e deixar em seu lugar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Com embarque previsto para esta segunda-feira com destino a Moscou, Temer sairá do epicentro da profunda crise política da qual é protagonista, iniciada pela delação do dono da JBS, Joesley Batista, para tentar convencer o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que a produção brasileira de carnes e derivados continua passando por um sistema de controle sanitário confiável.

Além de Putin, Temer será recebido pelo primeiro-ministro Dmitry Medvedev e por investidores, para defender o aumento do comércio bilateral com a Rússia que, de 2011 a 2016, teve uma queda de mais de 40%. No período, as exportações brasileiras para o país, que somavam US$ 4,216 bilhões em 2011, caíram 45%, para US$ 2,299 bilhões. Se o Brasil quer continuar vendendo carnes aos russos, estes dirão estar interessados em vender mais trigo, pescados e alguns cortes de carne bovina para o mercado brasileiro.

Dados oficiais mostram que 60% das importações de carnes pela Rússia são provenientes do Brasil. Autoridades e empresários brasileiros temem que o humor da União Europeia (UE) possa contaminar Moscou. Na semana passada, o bloco europeu avisou que poderá suspender a importação de carnes brasileiras, por causa das dúvidas que ainda persistem em relação à Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que revelou irregularidades cometidas por frigoríficos do país, incluindo unidades fornecedoras da JBS, de Joesley Batista. A UE já deu o primeiro passo embargando compras de carne de cavalo do Brasil e exigiu uma fiscalização maior, principalmente nos embarques de aves.

“Não podemos permitir que questões comerciais sejam colocadas acima de questões sanitárias. Temos total segurança do que fazemos. Nenhum produto coloca em risco a saúde das pessoas”, disse ao GLOBO o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novack, que garantiu que todas as indagações da UE serão respondidas pelo governo brasileiro até o fim deste mês.

Novack liderou, recentemente, uma comitiva do Ministério a Moscou. Ficou acertado que um dos temas mais fortes do encontro desta semana será no sentido de o Brasil retomar o espaço que perdeu no mercado russo. Os dois países têm a meta de um intercâmbio bilateral de US$ 10 bilhões anuais. Porém, o fluxo comercial, no ano passado, foi de US$ 4,2 bilhões.

“A ida do presidente Michel Temer à Rússia será mais um gesto ao governo russo de que o aumento do comércio com aquele país é muito importante para o Brasil”, diz Novack.

O presidente vai aproveitar para fazer propaganda de seu novo programa de concessões. Um dos destaques é a conclusão das obras da Ferrovia Norte-Sul. Também está previsto um acordo para evitar a bitributação. Para isso, acompanhará Temer na viagem o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid.

Na quinta-feira, Temer sairá de Moscou em direção a Oslo, na Noruega — país que foi o oitavo maior investidor no Brasil em 2016, com US$ 2,1 bilhões. Os recursos foram aplicados, principalmente, nos setores marítimo, de petróleo e gás. Mais de 110 das 150 empresas norueguesas no Brasil são dessas áreas. Temer se encontrará com o rei Harald V, a primeira-ministra Erna Solberg e investidores. Vai reafirmar o interesse no acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que inclui também Suíça, Islândia e Liechtenstein.

O governo brasileiro vai buscar ainda parcerias em assuntos ambientais, com a presença do ministro da pasta, Sarney Filho. A Noruega já aportou ao Fundo Amazônia R$ 2,8 bilhões desde 2009.

Nas primeiras horas como presidente efetivado, em 31 de agosto de 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Temer viajou à China para a cúpula do G20. Nos últimos quatro meses do ano passado, a agenda de viagens foi intensa: foi aos Estados Unidos, para a Assembleia Geral da ONU; Paraguai e Argentina, para reuniões bilaterais; e haveria uma viagem à Colômbia, com vistas a acompanhar o acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas a ida foi cancelada de última hora.

Neste ano, em mais de seis meses, só houve uma viagem internacional: a Portugal em janeiro, para o velório do ex-presidente luso Mário Soares. Em meio à pior crise política do governo e às vésperas de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), em investigação por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça, Temer demorou a confirmar as viagens para Rússia e Noruega. A denúncia contra o presidente seria oferecida nesta segunda-feira, enquanto Temer estaria no exterior, mas a PGR deve adiá-la.

No mês que vem, o Palácio do Planalto tem no radar três viagens: no dia 7, para a Alemanha, por ocasião do G20; logo depois, para a Colômbia; e no fim de julho, para a Argentina, onde haverá reunião do Mercosul. Em setembro, a previsão é que Michel Temer se desloque para a China, a fim de participar de reunião do Brics, e para os Estados Unidos, onde acontecerá a Assembleia Geral da ONU.

(fonte: Gazeta Online)

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