Os estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) já começam a sentir os efeitos das medidas adotadas pela administração para reduzir os custos em todos os campi, após o contingenciamento de verbas anunciado pelo Ministério da Educação (MEC). Entre os problemas apontados pelos universitários estão a sujeira em salas de aula e até mesmo a falta de papel higiênico nos banheiros.
As medidas para redução dos gastos na universidade foram anunciadas no início do mês de agosto deste ano. Entre as ações está a alteração na frequência de limpeza de banheiros, salas de aulas e corredores dos prédios.
A estudante Heloise Cardoso, de 24 anos, iniciou o curso de Serviço Social na universidade em 2014. De lá para cá, ela afirmou que viu mudanças para pior na estrutura da universidade. “A gente vê que, a cada dia que passa, parece que a Ufes está mais abandonada pelo governo. São coisas básicas que se espera ter em uma universidade, por exemplo, papel higiênico, papel toalha e sabonete, e que não têm no banheiro”, reclamou ela.
Heloise ainda destaca que as salas também ficam sujas pela falta de limpeza, já que o número de trabalhadores nas empresas terceirizadas é reduzido. Além disso, com a suspensão do uso dos aparelhos de ar-condicionado – exceto em locais em que não há janela – os alunos têm assistido às aulas no calor.
“Ontem (terça-feira), estava insustentável ter aula de manhã, porque tinha muto mosquito. O ar-condicionado também quebrava, durante as aulas, mas ainda dava para suportar. Agora, fica quente e com mosquito. É complicado”, desabafou a jovem.
O estudante Kevelin Martins, que também cursa Serviço Social, revelou que os cortes também afetam as pesquisas. “As bolsas de pesquisas foram cortadas. Eu sou bolsista, mas minha bolsa foi mantida. Mas tive colegas que tiveram a bolsa cortada”, afirmou ele.
Os cortes afetam, inclusive, a apresentação das pesquisas realizadas pelos univiersitários. A estudante do oitavo período de Serviço Social, Brunela da Vitória Benardi, revelou que em novembro apresenta uma pesquisa com uma colega no Congresso Nacional de Assistentes Sociais, fora do Estado. As duas terão que encontrar formas de conseguir o dinheiro para custear passagens e estadia.
“A gente contava com a ajuda de custo que era de R$ 600, para cada uma, mas não vamos mais ter acesso a essa ajuda. Vamos ter que dar nossos pulos para custear a nossa estadia lá. Fora que a gente paga a inscrição no evento e a pasagem de avião. Sem a ajuda fica ainda mais difícil. Se a gente for parar para pensar nosso curso é muito voltado às pesquisas de interesse social. É um serviço que não interessa ao mercado e grandes empresas. Infelizmente, nessa corrida, a gente sai perdendo muito”, lamentou ela.
Ações emergenciais, diz universidade
Em nota, a Ufes informou que sobre o orçamento de R$ 71 milhões previsto para despesas de custeio em 2019, o bloqueio foi de 30%. Por esse motivo, vem estudando, desde maio deste ano, medidas que possam ser implementadas para a redução de custos considerando as prioridades para a manutenção das atividades de ensino, pesquisa e extensão.
A administração ressalta que tem adotado medidas, desde 2015, para reduzir as despesas, como a revisão, renegociação e readequação de contratos com empresas terceirizadas – incluindo serviços de segurança, manutenção de áreas verdes e limpeza – promovendo uma economia de 40% nos gastos.
“No entanto, algumas ações precisam ser adotadas de forma emergencial”, diz trecho da nota enviada pela administração, ressaltando que foram realizadas reuniões entre a Administração Central e os gestores da Universidade para discutir essas medidas (veja todas as ações ao final da matéria).
Outra alternativa que vem sendo implementada pela Ufes é o uso de energia solar, por meio da implantação de uma usina fotovoltaica. O projeto está em execução, segundo a universidade. “Quando estiver operando com sua capacidade total, a usina poderá reduzir a conta de energia elétrica do campus de Goiabeiras em torno de 50%”, informou a administração.
Medidas adotadas pela Ufes após contingenciamento de verbas
– Suspensão das ajudas de custo para eventos, aos estudantes, exceto para aulas de campo previstas nos projetos pedagógicos dos cursos;
– Corte de 50% nas despesas de manutenção de equipamentos, de material de consumo e de manutenção de área verde;
– Alteração na frequência da limpeza de banheiros da área administrativa, de salas de aula, de salas administrativas e de professores, além dos corredores dos prédios. Serão alocados postos de trabalho nas unidades administrativas, para que cada gestor defina a priorização de limpeza de cada espaço sob sua responsabilidade;
– Suspensão do uso de aparelhos de ar-condicionado, exceto nos espaços que não possuem ventilação natural (janela), espaços cuja cobertura não seja de laje e nos laboratórios com equipamentos sensíveis a altas temperaturas;
– Realização de serviços de manutenção predial apenas em casos emergenciais, que possam causar aumento de custos ou riscos para a comunidade universitária;
– Autorização de viagens com utilização de veículos da Ufes apenas para aulas de campo, participação em reuniões de Conselhos e eventos previamente programados das pró-reitorias de Graduação, de Extensão e de Pesquisa e Pós-Graduação;
– Autorização de diárias e passagens somente para viagens de representação da Reitoria e das pró-reitorias, e de docentes externos para participação em bancas de concurso público. Fica mantida a autorização de passagens e diárias com recursos do Proap, de acordo com as regras vigentes;
– Autorização de envio, por meio dos Correios, somente de correspondências oficiais emitidas pelas pró-reitorias.
Fonte: Tribuna