Feriado de Tiradentes e dia de mar tranquilo. Há exatos três anos, o cenário não era este. Em 21 de abril de 2016, uma forte ressaca provocou ondas que atingiram a ciclovia Tim Maia derrubando parte da pista e matando duas pessoas que passavam pelo local: o engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, e o gari Ronaldo Severino da Silva, de 60. Desde então, trechos da estrutura já caíram outras três vezes. Para não deixar a tragédia cair no esquecimento e cobrar justiça, familiares e amigos de Eduardo fizeram um ato no Mirante do Leblon, na manhã deste domingo, com faixas que trazem palavras de ordem como “Vidas por água abaixo”.
— Esta ciclovia já deu provas de que tem estrutura comprometida. As autoridades já sabem disso. Estamos aqui para deixar claro que não queremos que outras famílias passem pelo sofrimento que eu passei — diz a viúva Eliane Tinoco, que tem um filho de 18 anos com Eduardo.
Uma das organizadoras do encontro, a produtora de eventos Cláudia Medeiros conta que sugeriu à filha ir andar de bike na ciclovia no dia da queda.
— Estava na academia e, quando vi as imagens, na TV corri para casa desesperada, mas minha filha estava lá. Ela trocou o passeio pelos estudos. Foi um milagre — lembra.
Cláudia é uma das idealizadoras da página “naovamosesquecerciclovia”, no Facebook.
— Aquela ciclovia jamais poderia ter sido construída ali. Tem que demolir. Já são 14 pessoas indiciadas, entre funcionários da Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro (GEO-Rio) e do Consórcio Cintemat-Concrejato, responsáveis pela obra. — afirma.
No início de 2018, um trecho cedeu em São Conrado, perto do Túnel do Joá, devido a um rompimento de uma galeria de águas pluviais. Depois do incidente, a ciclovia foi interditada atendendo a um pedido do Ministério Público. Em janeiro deste ano, um perito designado pela justiça avaliou que ela poderia ser reaberta, mas, dias depois, em fevereiro, ocorreu um novo desabamento provocado pelo deslizamento de uma encosta. Com as fortes chuvas da semana passada, a cena se repetiu em um ponto próximo.
— Na verdade, é uma obra surreal. Somos a favor de ciclovias na cidade, mas essa obra foi a pior. Então, somos contra — relata um morador de São Conrado.
A manifestação durou uma hora. Concluída pouco antes da Olimpíada, a obra custou mais de R$ 45 milhões, e tinha objetivo de ligar o Leblon à Barra da Tijuca (com 3,9 km), parte da enorme ciclofaixa que do Leme ao Pontal.
“A prefeitura ainda tem alguma dúvida de que não ha segurança?”, indagou a vereadora Teresa Bergher (PSDB), membro da CPI da Ciclovia. A parlamentar move uma ação na Justiça pedindo a demolição da ciclovia e a devolução do dinheiro gasto com a obra aos cofres públicos.
— A ciclovia já caiu quatro vezes, de todas as maneiras, com água de cima apra baixo e com água de baixo para cima.Estão esperando que mais alguém morra para tomar as providências? Aí vão culpar o mar, a chuva ou o deslizamento da encosta? A prefeitura precisa assumir a sua responsabilidade, não é caso para plebiscito — argumenta.
A Prefeitura do Rio chegou a sugerir um plebiscito para consultar a população sobre uma eventual demolição da ciclovia, mas voltou atrás. Por meio de sua assessoria, o prefeito Marcelo Crivella afirma que ainda não decidiu sobre a questão da consulta popular.
De acordo com laudo técnico enviado ao Ministério Público estadual (MP-RJ), a ciclovia não é segura para os usuários. Foram identificadas diversas não conformidades na inspeção visual no local, com potencial risco aos usuários, pela ausência de proteção nas ancoragens dos muros; pela presença de tubulações da Cedae com seus respectivos suportes, ambos danificados pela corrosão; e de instalações elétricas irregulares sobre a via, bem como de postes de aço e de concreto com risco de queda.
Fonte: Extra