O Espírito Santo elegeu o primeiro deputado federal cego do Brasil. Com apenas 27 anos, o engenheiro de produção Felipe Rigoni (PSB) é de Linhares, no norte capixaba, quer ser muito além do primeiro deficiente visual no Congresso. Com 84.405 votos, ele foi o segundo mais votado entre os candidatos a federal do Estado, perdendo apenas para Amaro Neto (PRB), que teve mais de 181 mil votos.
“Não esperava ser o segundo mais votado, mas a nossa meta era conquistas 80 mil votos desde o inicio. Contudo, quando chegou domingo (7 de outubro, dia do primeiro turno) achamos que chegaríamos 60 mil e foi muito bom ter batido a meta”. Não é errado dizer que a cegueira, que faz parte da vida de Rigoni desde os seus 15 anos, é um dos grandes motivadores para o engenheiro de produção. Segundo ele, embora tenha sido muito difícil enfrentar as dificuldades da falta de visão, no momento em que percebeu que poderia ser independente decidiu que viveria para fazer a diferença.
“Fui primeiro cego em tudo o que fiz na vida. Eu descobri uveíte – doença inflamatória – aos seis anos de idade evoluindo e depois de nove anos de muita luta, 17 cirurgias, catarata nos dois olhos, descolamento de retina, com 15 perdi a visão. Foi uma época muito dura, eu estava no primeiro ano do ensino médio. Não quis parar de estudar e nunca fui aluno ruim. Fui crescendo e na cegueira entendi que poderia ser independente, feliz e bem sucedido. E minha autonomia dependeria da educação. Fui o primeiro engenheiro de produção cego da minha faculdade e do Brasil”, relatou.
Há dois anos, após seu mandato de presidente do Conselho da Confederação brasileira de empresas juniores – Brasil Júnior – ele concorreu a vereador de Linhares, onde conquistou 1.156 votos. Um resultado determinante para essa nova tentativa, que o levou a vencer o pleito de deputado federal. “O resultado das eleições em Linhares me fez perceber que eu tinha que me preparar melhor e me juntar a grupos que queriam mudar politica junto comigo. Fui para o Movimento Acredito (que forma novas lideranças) Renova Brasil e devido aos dois tive condições de ser candidato. Só por eles cheguei aonde cheguei”, explicou sua pequena trajetória política e de liderança.
Concorrer a deputado federal tem uma explicação simples para Felipe Rigoni: “se não mudar Brasília a gente não vai mudar o Brasil. As principais mudanças vão passar pela Câmara Federal e quem quiser mudar tem que estar lá. Tive mais de dois mil voluntários e concorrer a de deputado estadual não me permitira isso”. Seu desejo é chegar a ser senador, mas garante que sua formação é de decisões compartilhadas. Por isso, o projeto ao Senado não é algo que será pensado ou discutido tão cedo.
Bandeiras e filiação independente
Felipe Rigoni se apresentou aos eleitores capixabas como uma pessoa em busca de mudança e superação. Entre suas bandeiras na campanha estão inclusão social e educacional dos deficientes em escolas fundamentais e de ensinos superior. E ainda a questão da reforma tributária. No período eleitoral se comprometeu à inovação política com um mandato compartilhado. Tudo isso, ele garante, poderá se feito independentemente do PSB, a sigla pela qual concorreu, mas que tem com ele um acordo de independência, isto é: os projetos do mandato de Rigoni, bem como suas posições, não precisam acompanhar o partido.
“Sou do Movimento Acredito, e já temos nosso programa e manifesto. Temos divergência com todos os partidos do Brasil, e negociamos ‘carta de independência’ com o PSB, me guardando o direito a não ter obrigação de seguir as decisões do partido. Com a carta não terei problema de divergir com meu partido”, explicou. Ele explicou que teve o convite do partido e que ele, o PV, Rede e PPS, nacionalmente, aceitaram o compromisso da carta, antes que ele escolhesse a qual se filiaria.
Sobre a educação, seus projetos visam a valorização da profissão do professor, cujo salário ele quer que seja revisto, buscando a motivação da categoria. “Temos que respeitar a Constituição e trabalhar pela erradicação do analfabetismo no país”. Quanto à reforma Tributária, ele diz que ela é lincada a da Previdência e que junto ao combate a corrupção atuará no Congresso.
“A minha principal bandeira na vida é a abundancia de oportunidade, e acreditamos em três grandes tarefas a serem realizadas: (I) combater a corrupção, privilégios e ineficiência do governo, (II) combater a desigualdade de oportunidade através da educação básica, e (III) fortalecer a economia. Como são tarefas muito complicadas e abrangentes, existem pontos específicos. O mais urgente é a reforma Tributaria, porque a nossa economia não aguenta mais. São 27 bilhões de brasileiros sem empregos, empresas e cidadãos com complexidade da injustiça de impostos (…) Tem as 70 medidas contra corrupção, reforma politica…”, detalhou o deputado eleito.
A Câmara Federal anunciou que, por conta do capixaba, já iniciou as adaptações necessárias de acessibilidade. Ele diz que quanto a isso terá paciência, e que sua luta pela inclusão terá seu dia a dia como exemplo. “Sempre lidei com muita leveza e é meu papel ensinar as pessoas a lidarem comigo. Vou chegar, exigir adaptações e ter paciência, criando espaço devagar. A lei de inclusão é linda, mas a execução dessa lei é precária. Vou fiscalizar que a adoção seja efetiva. Há prefeituras que ignoram a educação inclusiva”.
Mandato compartilhado
Uma inovação política com mandato compartilhado foi um dos compromissos do primeiro deputado federal cego eleito no Brasil. Segundo ele, isso vai abrir aos capixabas acompanharem sua atuação e até ajudarem, em alguns casos, na tomada de decisões. Mas o compartilhamento efetivamente será feito por meio de um conselho.
“Mandato compartilhado é quando de fato divide opiniões, vou ter conselho parlamentar com diversas especialista e instituições que representam as diferentes parcelas da sociedade capixabas e representantes de todas as regiões. Todos serão voluntários, fiscalizando minhas ações e decidindo comigo as diretrizes do mandato. Todas as emendas passarão pelo crivo do conselho. E outra ferramenta de compartilhamento será no site e, possivelmente, em aplicativo para que os capixabas se cadastrem e possam participar. Eles não terão poder de decisão, porem podem opinar, será consultivo e não deliberativo”.
Em suas andanças debates durante a campanha eleitoral Felipe Rigoni falou muito em desenvolvimento tecnológico e inovação. Questionado como potencializar os espaços de desenvolvimento tecnológico e inovação abertura de novas empresas, ele explicou que a reforma Tributária vai ajudar, mas a desburocratização é o caminho. “Hoje uma empresa leva 117 dias para abertura, e aí tem órgão que exigem adequação e que pedem coisas diferentes e até opostas a outros órgãos. Precisa integrar informações para facilitar a vida do cidadão e não só do empresário. Com relação à ciência e tecnológica, precisamos da criação de incubadoras, pois o Estado não tem 20. Em Portugal, país que é do tamanho do estado, tem mais de 200 e precisamos de fomento delas. E ainda a parceria com o governo, universidade e mercado, que hoje são completamente separados. Tem que facilitar as pesquisas das universidades.
Com relação à sua visão em médio e longo prazo para projetos de inovação na área de energia renovável (biomassa, solar e eólica) ele destaca que mesmo que o Brasil pouco fale, o país é o maior em insolação do planeta, vento e com maior produção de biomassa. Destacou ainda que a matriz energética nacional vai estourar em no máximo dez anos, e que a energia renovável tem potencial enorme. “Ainda temos pouco incentivo, comparado com nosso potencial. Temos que facilitar que as empresas atuem para temos custo X beneficio interessante. Se incentivar, o mercada acelera o processo de barateamento e cria mais empresas, renda e muitas patentes. Esse é uma tema que me move e vamos trabalhar para isso”. Com informações ES Hoje