ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, decidiu nesta terça-feira (27) trocar o comando da Polícia Federal e demitir o atual diretor-geral da corporação, Fernando Segovia.
A troca no comando da PF ocorre após desgaste provocado por entrevista de Segovia à agência de notícias Reuters. O então chefe da PF disse que não havia indício de crime contra Temer no inquérito que o investiga. Antes, já havia colocado em dúvida se “uma única mala” era suficiente para apontar se Temer havia praticado corrupção em outro inquérito.
Para o lugar de Segovia, que permaneceu 99 dias no cargo, Jungmann convidou o atual secretário nacional de Segurança Pública, Rogério Galloro – que aceitou o convite.
A DECLARAÇÃO: Segovia sugeriu arquivar o inquérito Temer, no qual o presidente da República é suspeito de favorecer uma empresa na prorrogação de contratos no porto de Santos.
“O que a gente vê é que o próprio decreto em tese não ajudou a empresa. Em tese, se houve corrupção ou ato de corrupção, não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária – se é que houve -, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma corrupção”, afirmou Segovia à Reuters.
Após a entrevista, Luís Roberto Barroso, ministro relator do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), cobrou explicações. Segovia ligou para Barroso e disse que foi mal interpretado. Nesta terça-feira (27), Barroso prorrogou o inquérito contra Temer por mais 60 dias.
Veja a seguir a cronologia da polêmica que levou à troca no comando da PF:
Novembro
- Leandro Daiello, que estava no comando da Polícia Federal havia quase 7 anos – período no qual foi deflagrada a Operação Lava Jato – pede para deixar o cargo de diretor-geral da instituição
- No dia 4, Temer se reúne com o ex-presidente José Sarney no Palácio do Jaburu. Apesar de negar, Sarney avalizou o nome de Segovia, que havia chefiado a PF no Maranhão
- No dia 8, Segovia é anunciado para o cargo
- No dia 10, Daiello deixa o comando da PF
- No dia 20, Segovia assume oficialmente a direção da PF e diz que “Temer continuará a ser investigado, sem nenhum problema”, mas coloca em dúvida se “uma única mala” é suficiente para apontar se Temer praticou corrupção
Janeiro
- No dia 3, Temer recebe 50 perguntas formuladas pelo delegado responsável pelo inquérito em andamento, Cleyber Malta Lopes
- No dia 15, Temer se reúne com Segovia sem a presença do ministro da Justiça, a quem o diretor-geral da PF era subordinado
- No dia 18, Temer responde às perguntas, nega ter recebido propinae, no dia seguinte, pede o arquivamento do inquérito
- No dia 22, o ex-coronel da PM João Baptista Lima, amigo de Temer há anos, diz à PF que não poderia prestar esclarecimentos por motivos de saúde
- No dia 23, relatório parcial da PF incluído no inquérito apresenta um e-mail de uma empresa do setor de portos apreendido durante operação na casa de Rocha Loures, ex-assessor de Temer que ficou conhecido pela mala de R$ 500 mil da JBS
- No dia 29, Temer e Segovia se reúnem de novo. Novamente sem a presença do ministro da Justiça
Fevereiro
- No dia 4, a PF intima o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, a depor no inquérito
- No dia 5, a PF intima novamente o ex-coronel ligado a Temer a depor. A polícia tenta ouvir Lima desde 2017, mas ele sempre alega motivos de saúde para não comparecer
- No dia 7, o presidente da Caixa é chamado ao Palácio do Planalto um dia após depor à PF
- No dia 9, a Reuters divulga a entrevista com Segovia
- No dia 10, Barroso cobra explicações ao então diretor-geral da PF
- No dia 12, o G1 revela que Temer planeja criar o Ministério da Segurança Pública e tirar a PF do Ministério da Justiça
- No dia 27, Temer cria o ministério e nomeia Jungmann para comandá-lo
- No mesmo dia, Jungmann demite Segovia