Xará do ditador nazista, missionário tem uma vida dedicada ao bem
Ele carrega consigo desde que nasceu uma marca que remete a um passado de ódio, terror e extermínio.
Apesar disso, aos 34 anos, Hitler Lima traça um caminho inverso ao do seu xará alemão Adolf Hitler, ditador responsável por dar início à Segunda Guerra Mundial e de exterminar cerca de 6 milhões de judeus.
“Fui chamado de nazista a vida inteira, mas o que eu prego é a paz e a esperança”, afirma Hitler, que roda o País como missionário para ensinar sobre o evangelho cristão.
Hitler nasceu no pequeno distrito de Expedicionário Alício, na cidade mineira de Aimorés. A história do nome inusitado teve início nos primeiros anos da década de 1980, quando um médico alemão chamado Ervino Meyer se mudou para o pacato distrito, na época voltado para a criação de gado e cultivo de milho.
Logo começou a correr pela cidade o boato de que o médico era parente do ditador Adolf Hitler, figura histórica que um casal de moradores sem estudo não fazia ideia de quem era. Não demorou muito para que o médico se aproximasse do casal – um caminhoneiro e uma costureira – e logo ficou amigo da família.
Já com a ideia de voltar para a Alemanha, Ervino Meyer fez uma proposta assim que o filho do casal nasceu, em 1984: “Deixa eu levá-lo comigo. Vou batizá-lo de Hitler”. O caminhoneiro recusou, afinal, era seu filho, mas em respeito ao médico amigo aceitou o nome.
“Meus pais acharam bonito, diferente”, conta Hitler, que sofreu com as piadas desde muito cedo.
“Ainda hoje, em qualquer lugar que eu chego, as pessoas me param, questionam o motivo do nome e perguntam se eu sou parente do ditador. Na infância, faziam muita chacota. Tinha até um vizinho que fazia a saudação ‘Heil Hitler’ quando eu batia a bola no portão dele”, relembrou o missionário.
Hitler só foi entender o motivo de tanta piada aos 13 anos, quando se mudou para o bairro Diamantina, na Serra, e passou a estudar história. “Minha reação não foi boa, pois descobri que meu nome estava marcado por alguém que fez mal para milhões de pessoas”.
Mesmo assim, Hitler não pensa em mudar de nome. “Já me conhecem assim. E quem me conhece sabe do meu trabalho, que é o oposto do que Hitler fazia: pregar a paz. E não é um nome que vai influenciar coisas erradas. O que influencia as pessoas é o seu caráter”, destacou.
“Fui chamado de nazista a vida toda”
Seus pais não faziam ideia de quem era Hitler?
Hitler lima – Eles não tinham estudo. Quando nasci, um médico alemão queria me levar com ele para a Alemanha. Meu pai recusou, pois eu era o primeiro filho, mas acabou aceitando a proposta de nome: Hitler. Colocaram porque não tinham outro e acharam diferente, bonito.
Você sofreu muito por causa do nome?
O que eu mais ouvia era chacota na escola e no bairro. Fui chamado de nazista a vida toda, a vida inteira. Tinha até vizinho que fazia a saudação ‘Heil Hitler’.
E já passou por alguma situação inusitada?
Muitas. Certa vez, no aeroporto da França, um agente olhou meu passaporte várias vezes e pediu para eu ficar num canto esperando. Quando percebi, já havia uma roda de pessoas com ele, olhando de forma bem séria para mim. Eu nem esperei mais, saí dali na hora. Na adolescência, uma namorada chegou a desenhar o símbolo nazista (suástica) na mochila dela. Ela falou que era uma homenagem para mim.
Como foi sua reação ao descobrir o significado do nome?
Só fui descobrir quando comecei a ler e estudar mais, por volta dos 13 anos. Minha reação não foi boa, pois descobri que meu nome estava marcado por alguém que fez mal para milhões de pessoas.
Nunca pensou em mudar de nome?
Quando eu tinha 14 anos, minha mãe procurou um advogado para mudar, mas eu mesmo falei para ela não mexer com isso, pois todo mundo já me conhecia assim. Como eu iria me chamar? Pedro? Sempre fui Hitler, iria confundir ainda mais as pessoas. Não penso em mudar de nome. Levo essa situação na esportiva.
E profissionalmente, nunca teve problema?
Nunca, porque eu trabalho para mim. E eu sou conhecido por esse nome, mesmo profissionalmente, como missionário e locutor de eventos.
Você não acha que o nome pode fazer com que as pessoas pensem algo negativo ou possa influenciar algo ruim?
Quem me conhece sabe do meu trabalho, que é pregar a paz, o oposto do que o ditador nazista Hitler fazia. Ele causou o mal das pessoas, mas minha mensagem é do bem, de esperança. As pessoas que me conhecem não pensam mais no ódio do nazismo. Não é um nome que vai influenciar coisas erradas. O que influencia as pessoas é o seu caráter. Por Rafael Gomes, do Jornal A Tribuna.