Polícia Civil divulgou conversas entre um dos médicos presos nesta quarta-feira (28), suspeito de envolvimento no fornecimento de materiais hospitalares descartáveis reutilizados na Grande Vitória, e os dois empresários proprietários da Golden Hospitalar. A investigação aponta que o ortopedista Rodrigo Souza Soares era sócio da empresa.
A prática foi descoberta durante a Operação Lama Cirúrgica, do Núcleo de Repressão à Crimes Organizados e à Corrupção (Nuroc).
As conversas aconteceram por meio de um grupo de aplicativo de mensagens em que estavam o médico Rodrigo e os empresários Gustavo Deriz Chagas e Marcos Roberto Krohling Stein.
O grupo no aplicativo foi criado em outubro de 2015. Na primeira mensagem, o médico Rodrigo diz aos outros dois: “Bora ganhar dinheiro? Vamos nos reunir, hoje às 19:30h na churrascaria?”.
Em outro diálogo, de julho de 2016, o ortopedista comemora a existência da Golden Hospitalar.
“Parabéns o Xuxa e o Gustavo!!! Demorou mas saiu! Espero que nossa harmonia continue e que essa empresa possa mudar nossas vidas! Vamos cuidar dela como se fosse nosso filho, pois demorou 9 meses pra nascer!!! O segredo sempre foi a alma do negócio!!! E para finalizar parabéns para o Guski pelo aniversário, feliz aniversário e que você se torne nosso sócio, efetivamente, o mais breve possível…”.
Trecho divulgado pelo Nuroc no Espírito Santo (Foto: Reprodução)
Em outra conversa, o médico Rodrigo envia aos empresários o link de uma matéria do G1 RS, sobre o indiciamento de 12 pessoas por envolvimento na máfia das próteses. E alerta: “Não faça merda com o SUS”.
Trecho divulgado pelo Nuroc no Espírito Santo – Operação Lama Cirúrgica (Foto: Reprodução)
“Nessa fase da operação, a gente buscou investigar o envolvimento social do grupo, quem eram as pessoas envolvidas, se haviam sócios de fato. Durante os trabalhos foi constatado que o doutor Rodrigo realizava atividades decisórias dentro do grupo. Documentos coletados foram submetidos a análise e nesses conteúdos haviam conversas combinando reuniões, falando de valores. Em linhas gerais, ele exercia atividade de direção”, explicou o delegado Raphael Ramos.
O médico Rodrigo foi preso no fim da manhã desta quarta-feira (28), em casa. Na mesma ação, o Nuroc também prendeu o ortopedista Marcos Robson de Cássia Alves Júnior, que de acordo com a polícia, fazia as cirurgias com o material reaproveitado e recebia por isso.
“Também foi constatada a participação efetiva de um médico que recebia valores de comissionamento por utilização dos materiais”, explicou o delegado Raphael Ramos.
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O advogado de Rodrigo, Frederico Pimentel, disse que vai tomar conhecimento de todos os fatos apurados e demonstrar o equívoco da prisão, caso haja ilegalidade.
Se for legítima e legal, Pimentel destacou que vai “solicitar a celeridade que o caso requer, pois ainda inexiste indiciamento formal, por lógico, sequer apresentação de denúncia”, afirmou.
Já defesa de Marcos afirmou que a prisão dele foi equivocada. “O que eu posso garantir é que até esse momento meu cliente contribuiu com a Justiça. Mesmo assim, foi feito um pedido de prisão preventiva para ele. Então, a meu ver, foi um equívoco”, falou o advogado de Marcos, Paulo Cesar Amâncio.
Ele disse ainda que vai analisar qual a medida cabível para o caso. “Primeiro passo é obter informações do motivo e do fundamento que foi utilizado para essa prisão preventiva. Depois, pode haver um pedido de revogação de prisão, pode haver um habeas corpus. Tem que ver qual medida vai caber para o caso concreto”, destacou Amâncio.
Sobre o advogado do médico Marcos acreditar que a prisão foi um equívoco por causa da “contribuição com a Justiça”, o delegado Raphael Ramos discorda.
“Esse conceito de colaboração é pessoal do advogado, com base no que o cliente falou para ele, mas o Nuroc tem material de busca e apreensão, que serão passados para que as defesas tenham conhecimento”, falou.
As investigações continuam e o Nuroc ainda apura a participação de hospitais privados, distribuidoras de produtos para a saúde nos municípios de Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha.
Também são investigados outros profissionais da área da saúde, potencialmente envolvidos no caso.
O Nuroc descobriu que o esquema é internacional e que a quadrilha importava materiais dos Estados Unidos. A partir de agora, a Polícia Federal também vai participar das investigações.
“Nós vamos realizar esse trabalho integrado com a Polícia Civil. Vamos verificar de onde estava vindo esse material com o objetivo de identificar e prender esses criminosos que estavam usando e reutilizando materiais indevidos em pessoas no Espírito Santo e adoravelmente em outras regiões do Brasil”, disse Ildo Gasparetto, superintendente da PF.
No dia 16 de janeiro, os empresários Gustavo Deriz Chagas e Marcos Roberto Krohling Stein – proprietários da Golden Hospitalar -, e o enfermeiro Thiago Waiyn foram detidos na operação. Thiago Waiyn foi solto na quarta-feira (21).
As investigações apontam que os produtos que deveriam ser usados apenas uma vez foram reutilizados 2.536 vezes.
Foi descoberto, ainda, o envolvimento de uma outra empresa, a Esterileto, contratada pela Golden para esterilizar os produtos.