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Mesmo com números acelerando, taxa de isolamento vem caindo em cidades do interior do ES

O avanço do novo coronavírus em cidades do interior do Espírito Santo segue em alta velocidade. Mesmo assim, muitas pessoas têm deixado de lado alguns cuidados básicos para evitar a proliferação da covid-19, como se manter em casa. A taxa de isolamento social tem diminuído cada vez mais em algumas dessas cidades, justamente no momento em que a doença está se espalhando de forma mais rápida.

Um desses municípios é Colatina, no noroeste do estado. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a cidade demorou três meses para chegar aos mil pacientes contaminados pelo coronavírus. Após atingir essa marca, em apenas 15 dias o número dobrou, passando de 2 mil. 

Atualmente, segundo o Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Colatina possui 2.407 casos confirmados da doença e é o sexto município capixaba com mais infectados pela doença. Entre as cidades do interior, é a segunda com mais casos, perdendo apenas para Linhares, no norte do estado, que contabilizou, at´´e o momento, 2.915 infectados.

Já o índice de isolamento social em Colatina foi de apenas 38,35% na quarta-feira (8), segundo o Painel de Isolamento Social da Sesa. A média no município é de 42,13%, contando com os fins de semana e feriados, quando a taxa tende a crescer. O ideal, segundo especialistas em saúde, é que esse índice de isolamento fique entre 55% de 70%.

O empresário Daniel Favarato, que mora em Colatina, afirma que tem visto nas ruas o que mostram os números. “A gente vai à rua e vê ela lotada. Eu acho que as pessoas ainda não estão dando o verdadeiro sentido a isso tudo que está acontecendo e essas pessoas não têm noção do que é passar por isso”, disse.

O empresário tem propriedade para falar sobre o assunto. Ele passou 12 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após contrair a covid-19. Ele conta que começou sentindo sintomas leves da doença, mas acabou piorando. 

Hoje recuperado e com 11 kg a menos, Daniel conta como foi o período mais difícil da vida. “Eu fiquei lúcido o tempo todo, porém no respirador, e não precisei, por muito pouco, ser intubado. Houve até a decisão de me intubar, em certo momento, mas graças a Deus, na noite em que eles estavam decidindo me intubar, eu comecei a dar uma resposta positiva, então não precisou. Eu tossia muito e tinha uma falta de ar absurda”, lembra.

A situação é tão grave em Colatina, que a prefeitura decidiu endurecer as medidas de distanciamento. Supermercados, por exemplo, estão proibidos de funcionar no próximo fim de semana. Só estão autorizadas a funcionar padarias de bairros. Caso o índice de isolamento continue caindo, a Secretaria de Saúde do município não descarta publicar decretos ainda mais restritivos.

“Nós esperamos ter um resultado positivo. A gente entende o apelo do comércio, a crise na economia, o desemprego. Mas se nós não tivermos êxito com essas medidas, infelizmente nós teremos que restringir ainda mais”, afirmou a secretária de Saúde de Colatina, Kamila Roldi.

Entre outras cidades em alerta, estão Cachoeiro de Itapemirim, no sul, e São Mateus, no norte do estado. Nesses municípios, a taxa de isolamento registrada na quarta-feira foi de 39,26% e 40,99%, respectivamente.

A médica infectologista Rúbia Miossi acredita que a tendência de estabilização na Grande vitória tenha confundido os moradores do interior, onde a doença está em franca expansão. 

“Por a gente estar entrando agora na fase de platô aqui na região metropolitana, infelizmente dá a impressão, para o restante do estado, que a coisa já acabou ou que já passou. A gente vê pessoas cada vez menos se protegendo, cada vez menos seguindo as medidas de distanciamento”, destacou.

Chegada da doença ao interior

O novo coronavírus chegou mais tarde no interior do estado porque, inicialmente, as viagens foram freadas. Conforme o tempo foi passando, muita gente da região metropolitana encontrou nas cidades do interior uma espécie de refúgio, e acabou levando “na mala” a doença.

“Outro detalhe é que o nosso estado é muito pequeno, então a circulação de pessoas se dá de maneira muito rápida. A gente sai daqui da capital e vai para a região serrana em 40 minutos. Então isso faz com que uma pessoa que esteja doente aqui, e que ainda nem tenha começado a apresentar sintomas, saia da capital, vá para o interior e comece a apresentar sintomas lá amanhã. Isso facilita muito a disseminação da doença. Não é o momento de a gente relaxar todas as medidas e achar que tudo já passou”, alertou a infectologista.

A epidemiologista Ethel Maciel reforça esse discurso e aconselha: não é o momento de viajar, nem da capital para o interior, nem no sentido inverso. “Neste momento é melhor esperar um pouco. Nós estamos aqui na Grande Vitória com uma tendência de estabilização, vai chegar esse momento no interior também, mas é importante que, neste momento, nos encontremos vivos. Então é aguentar um pouco mais e continuar fazendo esse distanciamento”, ressaltou.

Quem já sofreu com a doença, deixa um recado: “Por experiência própria, se cuidem! Eu me cuidava e isso aconteceu comigo. Eu nunca fumei, praticamente não bebo, tenho uma vida esportiva muito ativa e tive isso da forma que foi. Eu fico imaginando uma pessoa com problemas de saúde e fumantes chegando onde eu cheguei, no estado que eu tive, como seria a dificuldade para essas pessoas”, destacou Favarato.

“Tem que manter essas medidas de precaução: utilizar máscara, distanciamento social, só ir à rua quando for necessário. Senão a gente pode ter uma verdadeira catástrofe, não em termos de leitos de saúde pública, porque esse não está sendo o maior problema no momento. O problema maior vai ser de pessoas mesmo virem a óbito sem necessidade”, alertou Rúbia Miossi.

Fonte: Folha Vitória

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