“Nunca me conformei, choro todas as noites desde aquele dia. Vivi minha vida toda com isso na minha cabeça, vou correr atrás do meu filho, nem que seja a ultima coisa que eu faça na minha vida”. O desabafo emocionado é da servidora pública Maria Marta da Silva, de 49 anos. Ela ficou grávida aos 16 anos e deu à luz, mas foi forçada a entregar o filho para a adoção.
O ano era 1987 e Marta morava na pequena cidade de Iapu, no Vale do Rio Doce. A notícia da gravidez da jovem pegou a família de surpresa. Na época, o pai de Marta havia falecido e as decisões da família eram tomadas pela mãe e a irmã mais velha. Elas decidiram que a jovem teria o filho, mas que o bebê deveria ser entregue para a adoção logo que viesse ao mundo.
“Foi um rebuliço danado, ninguém aceitou minha gravidez, só queriam arrumar um jeito de se livrar da criança. Me levaram para Aimorés [cidade vizinha], eu já estava com três meses de gestação. Fui para a pensão Santa Maria, que é antiga lá na cidade. Fiz todo o acompanhamento lá na cidade mesmo”, conta a servidora pública.
Família quis esconder gravidez
A irmã mais velha de Marta foi a responsável por acompanhá-la durante a gravidez. “Cidade pequena tem muita fofoca, e minha família não queria que ninguém soubesse que eu estava grávida antes do casamento. Fiquei com a minha irmã, em Aimorés, até meu filho nascer”, explica.
Elvira Elias Fernandes, hoje com 76 anos, é a dona da pensão citada por Marta. Ela foi a responsável por receber as duas irmãs na época. Ao BHAZ, a dona conta que Marta era uma “menina muito boa”.
“Eu conheci a Marta e a irmã dela quando vieram se hospedar na minha pensão. Conversamos pouco, mas ela parecia meio triste. Eu não sabia da situação [que o bebê iria para adoção], só fiquei sabendo depois do parto, quando ela voltou sem a criança para a pensão”, relembra.
A comerciante Aida Maria Fernandes, filha da dona da pensão, lembra que a mãe ficou aborrecida com a situação. “Ela foi forçada pela família, foi algo que nos revoltou muito, uma situação triste demais. Uma menina de 16 anos, sem apoio de ninguém, nem tinha como ela fazer nada. Tenho fé que ela conseguirá encontrar o filho, creio em Deus”, diz.
Aida ainda lembra de um dia em que três pessoas desconhecidas apareceram para vistar Marta na pensão. “É provável que tenham sido pessoas que queria adotar a criança, aí foram ver a mãe, se era saudável. Ainda lembro de uma falando para a menina: ‘Quem sabe no dia do parto eu não estarei lá’. Como não sabíamos de nada antes dela ter o filho, só fui prestar atenção nisso depois”, completa.
Único abraço
Marta deu à luz no dia 22 de abril de 1987, na Casa de Saúde e Maternidade São Lucas, que já não existe mais. Ela conta que nunca esqueceu aquele dia. “Fui para o hospital, fiz todos os procedimentos e fui para o parto. Eu já tinha na minha cabeça que eu não poderia ficar com meu filho, mas na hora doeu bem mais. Eu pedi para segurá-lo um pouco, fiquei com ele um tempinho, olhando”, conta emocionada.
“Ele era perfeitinho, muito lindo, saudável. Nasceu com quase 4 quilos. Depois que eu dei um abraço nele e entreguei de volta, nunca mais o vi. Voltei para a pensão, já muito abalada, sem nem saber para onde ele foi. Não sei quem adotou, se são boas pessoas, não sei nada”, continua.
Casamento e três filhas
Marta se casou pouco depois de ter o filho, ainda aos 16 anos, em Iapu. O casamento, que segue firme após 33 anos, rendeu três filhas. Atualmente, ela mora em Ibirité, na região metropolitana de BH. “Eu contei para o meu marido pouco depois que casamos. Ele entende minha situação, me apoiou desde o início e apoia agora também, nessa busca pelo meu filho”, conta.
A servidora pública diz que, desde que teve o filho, chora todas as noites. “Eu sempre chorei escondida. Quando alguém me via, eu inventava alguma desculpa, mas meu choro sempre foi por ele, pelo filho que não tive a oportunidade de ver crescer”.
“Quando minha terceira filha completou 18 anos, há 2 anos, decidi contar tudo. As três me apoiaram muito, se emocionaram junto comigo mais uma vez e estão me ajudando na procura. Além das minhas filhas, ainda tenho quatro netos, uma família linda”, relata.
‘Quero dizer toda a verdade’
O maior desejo de Marta é encontrar o filho. “Não sei o que ele pensa de mim. Quero dizer para ele toda a verdade, que eu nunca o abandonei, eu não queria isso. Talvez ele tenha uma outra impressão minha, talvez os pais não tenham nem contado para ele toda sua origem”, reflete a mulher.
“Sei que hoje ele tem outra família, eu não contesto isso. Eu só quero conhecê-lo, saber onde ele está, para quando eu sentir saudades e meu coração doer, eu possa procurá-lo. Quero saber da vida dele, essas coisas de mãe. Só quero saber que ele está bem”, desabafa emocionada.
Sobre a família, Marta diz que não guarda remorso por conta da separação forçada. “Eu converso com a minha irmã mais velha ainda, vou na casa dela. Eu perdoei, sou uma pessoa que tem temor a Deus. O que ela fez ela não vai pagar para mim, é para Deus. Até hoje as pessoas da minha família não são a favor de eu buscar meu filho, mas vou do mesmo jeito”.
O BHAZ entrou em contato com o médico apontado como o responsável pelo parto de Marta. O profissional atualmente mora e trabalha em Vitória (ES). “Eu fazia cinco ou seis partos no mesmo dia, é muita gente. Eu nem posso afirmar que fiz esse parto de fato. Há mais de 20 anos que não moro mais lá. Gostaria de ajudar, mas realmente não sei”, contou.
Quem tiver quaisquer informações que possam levar ao paradeiro do filho de Marta pode entrar em contato com ela pelos telefones: (31) 98962-6973 ou (31) 3533-1863.
BHAZ