Enquanto os EUA pressionam o governo Bolsonaro para barrar certos investimentos chineses no país, empresas de tecnologia da China, inclusive as banidas pelo governo americano, aumentam seus laços e suas vendas a governos do Nordeste do Brasil.
As empresas chinesas de tecnologia Huawei, ZTE, Dahua e Hikvision, todas sob algum tipo de embargo americano sob acusação de representarem ameaça à segurança nacional, estão negociando ou fornecendo serviços e produtos no Nordeste.
O intercâmbio entre a China e os nove estados nordestinos nunca foi tão intenso. Só neste ano, quatro governadores e dois vice-governadores da região estiveram no país asiático -e a peregrinação de secretários foi ainda maior. A China também mandou inúmeras comitivas para os estados.
Os EUA tentam convencer o presidente Bolsonaro a seguir países como Austrália, Nova Zelândia e Taiwan, que vetaram investimentos e produtos de empresas chinesas para contratos públicos, fornecedores do governo ou qualquer um que receba empréstimo do governo.
Em visita ao Brasil no início de agosto, o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, alertou, em entrevista ao jornal Valor Econômico, para o perigo de comprar tecnologias sensíveis como produtos para a rede 5G de certos países. Também afirmou que a China obriga suas empresas a cooperarem com serviços militares e de inteligência do Estado.
Em resposta, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, afirmou que esses comentários visam a “lançar calúnias sobre produtos chineses, alegando riscos de segurança, e a atrapalhar a cooperação econômica e comercial normal entre a China e os demais países do mundo”.
Os EUA, com quem o Brasil vem estreitando laços diplomáticos, têm um apoio precioso dentro do bolsonarismo. Em janeiro, o escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico dos Bolsonaros, criticou a ida de uma comitiva de parlamentares do PSL à China para conhecer o sistema de reconhecimento facial do país.
Confira lista de grandes investimentos e projetos chineses no Nordeste
Maranhão
Construção do porto de águas profundas no Porto de São Luís pela China Communications Construction Company (CCCC). Negociações para compra de câmeras de reconhecimento facial
Piauí
Investimento em energia eólica e solar pela CGN Energia. Fornecimento para o projeto Piauí Conectado, com 5.000 km de rede de fibra ótica, pela ZTE
Bahia
Participação do projeto da ponte Salvador-Itaparica por CCCC, CR20 (Railway 20 Bureau Group) e China Tiesiju Civil Engineering Group. Investimento em energia renovável da CGN Energy
Investimento de mais de R$ 18 milhões no sistema de reconhecimento facial da Huawei para videomonitoramento. Projeto do veículo leve de transporte (VLT) do consórcio Skyrail Bahia, composto pela chinesa BYD e Metrogreen
Pernambuco
Metrô de Pernambuco instalou 1.300 câmeras Dahua de alta resolução. Governo negocia câmeras da Dahua com reconhecimento facial .Compra de parte de uma empresa de distribuição de combustível pela Petrochina
Paraíba
Prevê licitação para compra de câmeras com reconhecimento facial. Participação da chinessa IMC-YY no estaleiro em Lucena
Ceará
Construção de 5.800 km de fibra óptica, realizada pela China Unicom. Ampliação do sistema de videomonitoramento Spia com possível participação de empresas chinesas como a Dahua
Fornecimento de tecnologia na área da saúde pela empresa chinesa Meheco
Rio Grande do Norte
Investimento de US$ 2 bilhões da State Power Investment Corporation (SPIC) em energia eólica e solar. Negocia investimentos em tecnologia por empresas chinesas
Alagoas
Investimento na fábrica de embalagens da chinesa GsPak
Fonte: Tribuna