Aparecida Macedo, mãe do catador de material reciclável Luciano Macedo, de 27 anos, morto na madrugada desta quinta-feira, não queria que seu filho morasse no Favela do Muquiço, em Guadalupe, na Zona Norte. Ela conta que tinha medo dos tiroteios, mas era tranquilizada pelo filho, que explicava que a área é próxima da Vila Militar. Ele foi baleado em uma ação do Exército a poucos metros da favela onde planejava morar, ao tentar salvar o músico Evaldo Rosa, fuzilado pelos militares.
— Ele dizia: “Fica calma, coroa. O Exército tá ali”. O Exército matou meu filho! — afirmou no sepultamento do filho, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.
Aparecida se queixou de não ter recebido ajuda do Exército:
— Foi uma covardia o que fizeram com meu filho. Eles não chegaram em nenhum momento, no Hospital Carlos Chagas. Passavam para lá e para cá. O único apoio que tive foi o Rio de Paz, que esteve comigo desde o começo.Se não fossem eles, eu estaria perdida. Eles não foram me perguntar se eu precisava de alguma ajuda, se eu queria um copo d’água. Ainda vem falar que é negligência? Eles botam assassinos para matar meu filho e ainda dizem que é negligência? — indagou.
Aparecida disse que o filho tentava ter sua casa.
— Ele tinha as carterinhas (de trabalho) dele, mas não tinha oportunidade de trabalho. Queria ter a casinha com a mulher dele.
Luciano foi sepultado com a camisa do Flamengo, seu time do coração. Daiana, esposa grávida de Luciano, passou mal e não conseguiu acompanhar o enterro.
Após 11 dias internado e duas cirurgias, Luciano não resistiu e morreu na madrugada desta quinta-feira no Hospital Estadual Carlos Chagas. Ele seria pai em breve: Daiana está grávida de cinco meses. O casal vivia nas ruas, e o catador estava juntando pedaços de madeira para construir um barraco na Favela do Muquiço. No momento em que o carro de Evaldo foi fuzilado pela patrulha dos militares na Estrada do Catonho, Luciano e Daiana passavam com um carrinho de mão a caminho do local onde o catador coletava vigas para a construção de sua casa.
O Exército já encaminhou a investigação ao Ministério Público Militar (MPM), que ainda apresentará a denúncia à Justiça. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, os presos responderão pelos dois homicídios e pelas tentativas de homicídio dos quatro parentes de Evaldo que estavam no carro.
Nove militares estão presos pelo crime. Eles alegaram que dispararam porque confundiram o carro de Evaldo com um veículo que, mais cedo naquele mesmo dia, havia atirado contra a patrulha.
Fonte: Extra