No velório de Kauã Victor Rozário, de 11 anos, no Cemitério Vertical da Penitência, Caju, camisas com o rosto do menino lembravam a sua marca registrada: o sorriso. Kauã foi baleado na tarde do último dia 10, na Vila Aliança, em Bangu, Zona Oeste do Rio. O enterro foi no início da tarde deste domingo. Joceli Rozário Junior, de 33 anos, pai de mais essa vitima fatal da violência no Rio de Janeiro, pediu justiça:
— Cadê a consciência do governador que não vê a besteira que fizeram com o meu filho? Quero uma resposta do Estado. Nada vai trazer a vida do Kauã de volta, mas o estado que deveria nos proteger acaba nos jogando à própria sorte. Não foi um acidente — frisa Joceli, que revelou um sonho do filho:
— Ele queria ser pastor.
Em meio à dor, Joceli, que trabalha como autônomo, ainda tem que se preocupar com o sustento da familia, já que ele e Simone, mãe de Kauã, estão sem trabalhar desde que o filho foi baleado.
— Simone é faxineira. Eu trabalho chamando clientes em um ponto de táxi no Centro. Estamos sem condições de correr atrás da nossa sobrevivência. O governo do estado não nos procurou. Só recebi um convite para ir essa semana na Comissão de Direitos Humanos da Alerj — conta Joceli.
Tio de Kauã, Valnei Guilherme, está preocupado com o futuro da família.
— Quem vai suprir as necessidades deles? Kaio, de 9 anos, irmão do Kauã, vai precisar de ajuda psicológica. Ele está inconsolável — lamenta o carreteiro.
Emocionado, Joceli desabafa sobre como se lembrará do filho:
— Pensa numa criança meiga e alegre. Era o Kauã. Ele sempre me abraçava. E me ajudava. Arrumava a casa e também dava uma força na igreja — recorda, referindo-se ainda à Assembleia de Deus, em Bangu, frequentada pela família.
Baleado quando andava de bicicleta
Kauã foi baleado quando andava de bicicleta. Parentes do menino dizem que policiais militares desconfiaram de uma moto e abriram fogo. Um dos disparos acertou o garoto. Além de Kauã outras duas pessoas ficaram feridas. Leonardo Rodrigues dos Santos, de 25 anos, era mototaxista e morreu no local.
Na versão da Polícia Militar, policiais do 14º BPM (Bangu) faziam patrulhamento na Vila Aliança, na localidade conhecida como Vila Moreti, quando foram atacados por criminosos que estavam de motocicletas, e houve confronto.
Fonte: Extra