“Discutir reforma é sempre um tema complexo, ainda mais a previdenciária. Não podemos deixar que novamente um fato político atrapalhe a modernização do atual sistema de Previdência. Antes da primeira denúncia, nossa perspectiva era otimista e esperávamos conseguir aprovar. Depois do primeiro turbilhão, estávamos nos reorganizando, prevendo a votação em outubro, mas recebemos esta segunda denúncia e a votação da reforma pode ser adiada para novembro. Isso não pode nos fazer perder uma nova oportunidade”, diz Lelo.
Na opinião do parlamentar, o relatório aprovado em comissão representou uma vitória para o governo, já que manteve 80% do que havia sido proposto. Entre os pontos que devem gerar maior debate no Plenário, ele aponta para as regras da aposentadoria rural, a fonte de recursos para o Benefício da Prestação Continuada (BPC) e a decisão sobre se serão equiparados os direitos das mulheres com os dos homens.
Para a jornalista e sócia da Letras e Lucros, Mara Luquet, a reforma é inevitável. Resta saber a força que o presidente Michel Temer terá.
“Um termômetro vai ser a votação da denúncia, para ver a força que ele tem. Mas o país vai ter a reforma de um jeito ou de outro, porque é uma questão de dinheiro. O modelo que a gente tem são pessoas mais jovens entrando e pagando os aposentados. Mas está aumentando o número de aposentados, porque as pessoas vivem mais, e está reduzindo o número de pessoas que entram. É uma questão matemática”, explica.
Para ela, a aprovação melhora também a economia a curto prazo. “Essa conta tem um efeito muito grande como catalisador de investimento. Melhorando o perfil das contas públicas no país, você tem o risco Brasil caindo. E isso melhora o ambiente agora”, diz.
Poder de investimento de volta com mudanças na Previdência
A mudança nas regras para se aposentar pode levar o governo federal a diminuir o rombo de R$ 175 bilhões previstos para 2017 na Previdência e retomar os investimentos nos próximos anos. Essa é a avaliação de empresários capixabas que participaram do debate da reforma previdenciária, na série “As reformas de que o Brasil precisa”, da Rede Gazeta.
A proposta que está sendo debatida na Câmara, mesmo sendo considerada tímida, é um passo importante para a retomada. O presidente do Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades), Idalberto Moro, afirma que rejeitar a necessidade de reforma é uma “utopia descomunal e preocupante.”
“Por mais que se questione a forma como está sendo feita, não dá para dizer que a reforma não é necessária. O déficit na Previdência está elevando muito a dívida brasileira e o país está perdendo a capacidade de investimento. Isso só tende a se agravar no médio prazo. Daqui a pouco, poderemos ter falta de dinheiro para pagar as aposentadorias”, diz.
Segundo o diretor-geral da Rede Gazeta, Café Lindenberg, um dos mitos da reforma é que não existe déficit. “Estamos falando de um rombo de mais de R$ 200 bilhões em 2018. Esse déficit consome recursos que poderiam ir para investimentos que fariam o país crescer e gerar empregos”, reforça.
A perda do poder de investimento preocupa também o setor de construção civil. “Desde que mantenha o direito das pessoas, é preciso sempre estar reformando para acompanhar as mudanças. A economia precisa voltar a pulsar”, diz o diretor da Galwan, Felipe Loureiro.
Para o setor privado, a discussão não pode ser adiada. Superintendente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) no Espírito Santo, Carlos André de Oliveira entende que a impopularidade do presidente Michel Temer contribui para a desinformação em torno da necessidade de mudança.
“O impacto que a falta de uma decisão causa na economia tem que ser estancado urgentemente. Espero que a discussão saia um pouco do campo político e que seja considerado o melhor para o país”, diz.
“Para o mercado imobiliário, a reforma é importante já que sem ela o governo terá menos dinheiro para promover programas como o Minha Casa Minha Vida”, destaca Sandro Carlesso, presidente da Ademi-ES.
A reforma cumpre o papel de sinalizar que o país tem credibilidade para atrair investimento estrangeiro, acredita Valdeir Nunes, presidente do Convention das Montanhas e do Hotel China Park. “Há muitas pessoas de fora esperando essa reforma para voltar a investir.”
Policiais civis contra a reforma
Representantes dos policiais civis participaram do evento e se posicionaram contra a proposta de reforma da Previdência. Para o diretor da Confederação Brasileira dos Policiais Civis (Cobrapol), Humberto Mileip, faltou discussão maior com a população. Para ele, os trabalhadores não podem arcar com a perda de recursos da má administração. “Não negamos que é preciso reformar a Previdência, mas não como estão fazendo.”