A Justiça do Rio de Janeiro aceitou denúncia formulada pelo Ministério Público (MP-RJ) contra o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira e a advogada Camila Lima Nogueira por supostamente integrarem uma organização criminosa cujo objetivo era atrapalhar as investigações da Polícia Civil sobre o atentado que resultou nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Com essa decisão, os dois acusados se tornam réus e, se condenados, podem pegar de três a oito anos de prisão, além de multa.
O juiz autorizou ainda pelo menos dois mandados de busca e apreensão, sendo que um deles foi cumprido por policiais civis neste sábado (13), na casa da advogada, em um bairro da zona sul do Rio de Janeiro.
A denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-RJ foi baseada em investigação conduzida pela Polícia Federal (PF), que concluiu que houve obstrução à investigação do Caso Marielle.
Em nota, o MP-RJ confirmou “ter denunciado os envolvidos na obstrução às investigações do Caso Marielle”, mas não divulgou o teor da medida, porque o processo corre em segredo de Justiça.
“Estou sendo humilhada, tratada como bandida. É de chocar quem tem o mínimo de conhecimento jurídico”, afirmou Camila Nogueira ao Uol. Ela nega a acusação e diz não ser mais defensora do PM Ferreira. “Acredito na verdade e ela sobre minha vida prevalecerá”.
A reportagem ainda não conseguiu encontrar os atuais advogados de Rodrigo Jorge Ferreira.
‘Testemunha-chave’ afirma ter mentido
Pouco mais de um mês após o assassinato de Marielle e Anderson, ocorrido em 14 de março de 2018, três delegados federais apresentaram como “testemunha-chave” à Delegacia de Homicídios (DH) da capital carioca o PM Rodrigo Jorge Ferreira. A testemunha trabalhou como motorista do ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, apontado como chefe de uma milícia que atua na zona oeste do Rio.
Em seu depoimento, “Ferrerinha”, como é apelidado o policial, apontou o vereador Marcelo Sicilliano (PHS) e Curicica como mandantes do assassinato da vereadora filiada ao PSOL. Ele afirmou ter testemunhado reuniões em que ambos planejaram o atentado.
Marielle Franco estaria atrapalhando negócios ilegais de Sicilliano. Após a divulgação do depoimento do PM, Curicica e Siciliano negaram a autoria do crime. Posteriormente, Rodrigo Jorge Ferreira disse à PF que mentiu ao incriminar Curicica e Sicilliano.
Curicica, que estava preso no Rio, foi transferido para o presídio federal de Mossoró (RN). Lá, ele prestou depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), no qual afirmou que a Polícia Civil do Rio tentou lhe convencer a assumir a morte de Marielle e revelou um suposto esquema de corrupção na DH que barraria investigações sobre homicídios ligados ao jogo do bicho e às milícias.
O depoimento de Curicica foi a “peça-chave” para que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinasse que a entrada da PF no caso.
Ferreirinha, a advogada e pelo menos outras cinco pessoas foram investigadas – entre elas o ex-deputado Domingos Brazão, adversário eleitoral de Sicilliano. Ele nega qualquer envolvimento no caso.
Nesta sexta-feira, o Uol publicou reportagem mostrando escutas que ligam o clã Brazão à milícia Escritório do Crime.
A investigação sobre as mortes de Marielle e Anderson continua na DH. O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz foram presos em março deste ano, sob acusação de terem executado o atentado. Ambos negam a acusação.
Até o momento, nem a investigação do MP-RJ nem a da Polícia Civil apontaram os mandantes do duplo assassinato.
Fonte: Tribuna