Construções são irregulares e erguidas em área dominada por milicianos. Ao menos sete pessoas morreram na tragédia ocorrida na Zona Oeste da cidade.
A Polícia Civil já iniciou as investigações para definir a responsabilidade pelo desabamento de dois prédios em Muzema, na Zona Oeste do Rio. Até a manhã deste sábado (14), não se sabia quem era o dono dos terrenos bem como os responsáveis pela construção, que era irregular, erguidas em área dominada pela milícia.
Vizinhos e sobreviventes dos prédios que desabaram vão prestar depoimento à policia. Nesta manhã, peritos voltaram à área do desabamento para fazer uma perícia complementar. Até então, os bombeiros haviam confirmado a morte de 7 pessoas.
Quem vai à Muzema se impressiona com o número de prédios novos e e com a quantidade de obras em andamento. Os moradores mais antigos dizem que, nos últimos anos, o cenário aqui mudou radicalmente.
“Fizeram muito, muito, muita coisa. Fizeram muito prédio e aí assim, infelizmente, né, aconteceu o que aconteceu né. É triste”, disse uma moradora que não quis se identificar.
Vista aérea mostra construções irregulares vizinhas aos prédios que desabaram na Muzema, Zona Oeste do Rio de Janeiro — Foto: AP Photo/Renato Spyrro
Ao lado do condomínio Figueira, onde desabaram os dois prédios, há um novo prédio sendo levantado. Vê-se que a alvenaria já está pronta, faltam só o reboco e o acabamento. A polícia perguntou à prefeitura quem é o dono da obra, mas até agora não obteve essa informação. Os moradores da região, no entanto, afirmam saberem quem são os donos.
“Todo mundo sabe quem é [dono dos prédios]: miliciano”, afirmou um dos moradores.
“Quem vem de fora compra achando que vai fazer um bom negócio. Mas, na verdade, não faz um bom negócio. Pode esperar que lá na frente vai acontecer alguma coisa. E garantia que é bom, não tem”, enfatizou outro.
As investigações policiais apontam que a quadrilha usa as associações de moradores da Muzema e de Rio das Pedras para fazer as transações de compra e venda de construções ilegais.
O chefe da milícia na Muzema é o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, preso em janeiro desse ano na operação Intocáveis. Ele é investigado por grilagem de terras e por, supostamente, fazer parte do escritório do crime, um grupo de matadores profissionais.
Além do major Ronald, outras quatro pessoas foram presas nessa operação, por venda de terrenos e de imóveis irregulares na Zona Oeste do Rio. Entre elas, o tenente reformado da PM Maurício Silva da Costa, conhecido como Maurição.
No fim do mês passado, Maurício e o major Ronald foram transferidos para o presídio de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Um morador disse que, um dia depois da operação que prendeu os dois milicianos, o trabalho do grupo criminoso continuou normalmente.
Construções irregulares
Pelas regras de zoneamento do município, não poderia ter nenhum prédio na área da Muzema, apenas construções com só uma família. Mas, a fiscalização falhou. Fotos de satélite mostram como cresceu o número de prédios na região nos últimos anos.
Imagens de satélite comparam região em que prédios desabaram no Rio — Foto: Reprodução/GloboNews
A ocupação ilegal da área passou por vários governos. A floresta foi sendo desmatada e várias construções irregulares tomaram conta da paisagem.
Na sexta-feira, pouco depois da tragédia, a prefeitura chegou a dizer que em novembro do ano passado interditou os prédios que desabaram, mas que uma liminar judicial liberou a obra. Depois a prefeitura voltou atrás e disse que a interdição aconteceu em fevereiro desse ano e que não houve liminar.
A prefeitura afirmou ainda que desde 2005 já emitiu 17 autos de infração contra as construções irregulares do condomínio, porque não havia redes de esgoto, de água, nem calçamento e meio-fio.
O município afirmou também que em 2006 começou a pedir ajuda do Ministério Público e da delegacia de proteção ao meio ambiente, mas mesmo assim, as construções irregulares continuaram a se multiplicar pela região.
Fonte: G1