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Polícia Militar tenta calar cabos e soldados após publicações na internet

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Foto: Reprodução

A Polícia Militar (PMES) tenta calar cabos e soldados por causa de publicações na internet. Os praças da corporação usam principalmente o seu site e sua página no Facebook para relatar suas angústias na vida e no trabalho, e também para mostrar ocorrências na segurança pública, inclusive o domínio do tráfico em áreas da Grande Vitória.

Para o processo de intimidação, a PMES indiciou toda diretoria da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACS-ES),  empregando sua Corregedoria. Nesta segunda-feira (19), o presidente da ACS-ES,  sargento Renato Martins Conceição, foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Militar. Nesta terça-feira (20), às 14h, será a vez do diretor da ACS, cabo Noé da Matta Ribeiro.
No início da noite dessa segunda, o presidente da ACS-ES explicou que foi ouvido em dois Inquéritos Policiais Militares. Um deles por matérias publicadas no site da associação. Outro, por manifestação na imprensa. Afirmou que não cometeu nenhum ato ilegal. Ao contrário. Lembrou que a gestão do site da ACS-ES é feito por profissional jornalista. A profissional  contratada tem o compromisso de aplicar a ética jornalística e de cumprir as finalidades estatutárias da entidade. O que vem ocorrendo.
E no caso das informações à imprensa? Também neste caso as informações “jamais atentaram contra os princípios da disciplina e hierarquia militar e contra os valores da instituição Policia Militar”, afirma o sargento Renato.  Ele conclui estar tranquilo em relação ao seu trabalho na ACS-ES.
Sob o comando do diretor coronel Reinaldo Brezinski Nunes, a Corregedoria é um órgão interno que  gerencia “por completo os assuntos referentes à Segurança Pública no âmbito do seu público Interno, em seus aspectos disciplinar e penal”, como informa a PMES em seu site.
Segundo a entidade, “através de captura de telas, a corregedoria ‘printou’ dois materiais publicados no site da Associação de Cabos e Soldados que foram devidamente replicados na fanpage da ACS: “Apreensão revela bairro dominado pelo tráfico” e “Policial Nero Walker: prisioneiro dos adeptos da corrupção jurídica”.
Diz a associação em sua página: “Agora é lei, pelo menos na mente do governador e do comando da PMES: Todo e qualquer militar não pode expressar sua opinião sobre qualquer assunto em seus perfis pessoais em redes sociais. O peso é ainda maior quando este todo e qualquer militar faz parte da diretoria da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiros Militar do Espírito Santo”.
Segue a informação do site: “O motivo da lei?  A mais pura e destilada vingança do governo! Este governo que fez ressurgir a lei da mordaça contra a atual diretoria da Associação de Cabos e Soldados que, pelo simples fato de defender os interesses da categoria a qual representa, está sendo retaliada de maneira vergonhosa por quem deveria se ocupar em administrar o Estado e diminuir os índices de violência em terras capixabas’.
Os cabos e soldados apontam que não é novidade que a corregedoria monitora o site e a fanpage da ACS. “Isto mostra a credibilidade do material que é produzido e que a verdade, doa em quem doer, incomoda. Mas que, infelizmente neste governo, a verdade vira alvo de inquéritos e investigações contra os Policiais Militares”, diz a entidade em publicação sobre o assunto.
A ACS-ES assinala que “não permite que seus canais oficiais de comunicação sejam usados para outro fim que não seja a busca do interesse dos profissionais que a entidade representa. Sempre que uma denúncia é publicada, alguém ganha e alguém perde, são consequências normais da divulgação de fatos verdadeiros, mas na cabeça do governo quem tem que perder sempre são os Policiais Militares. O jornalismo é feito com fontes de informação. O jornalista não é pago para saber. É pago para descobrir. A “independência” é o maior valor de um jornalista”, ensina.

A diretoria da Associação questiona: “Não se pode mais expressar opiniões em suas páginas pessoais a respeito de qualquer reportagem? Os diretores não podem compartilhar uma informação verídica que se tornarão alvo de inquéritos?”.

Reportagens 
A reportagem publicada no canal oficial de comunicação da Associação de Cabos e Soldados não foi diferente das inúmeras publicadas com frequência pelos veículos capixabas. O site da ACS-ES relata reportagens publicadas na mídia, até mesmo corporativa, mostrando que em vários locais da Grande Vitória quem domina é o tráfico. Em alguns casos, com registro desde 2016.
Cabos e soldados afirmam que na reportagem “Apreensão revela bairro dominado pelo tráfico”, a equipe de imprensa, ao tomar conhecimento da quantidade de armas apreendidas, foi apurar o factual e, de posse da informação oficial da apreensão, também tentou ouvir a PMES através de solicitação à assessoria da Secretaria de Estado de Segurança (Sesp), “que nunca retorna as demandas solicitadas pela equipe de reportagem da ACS”.
O questionamento feito na reportagem é da população que foi ouvida para a produção do texto, aponta a Associação. As informações obtidas com a garantia de manter o sigilo da fonte trouxeram desafios adicionais à equipe de reportagem. As informações obtidas de fontes anônimas, que não podem ou não querem se identificar, foram usadas como confirmação de dados e relatos já obtidos de outras fontes que fomentaram a reportagem.
“Publicações diferentes, em tempos diferentes e em veículos diversos sobre uma situação comum: o domínio do tráfico de drogas. O questionamento que fica é: – O governo retaliou estes canais de comunicação pelo fato de mostrarem a verdade como está fazendo com a Associação de Cabos e Soldados?”, querem saber os praças da PMES.
Lembra a entidade dos praças que a “Corregedoria indicia até por texto de integrante de Comissão de Direitos Humanos”. Ainda na ata produzida pela Corregedoria e lavrada em cartório, outro print também está sendo utilizado para retaliar os diretores: “Policial Nero Walker, prisioneiro dos adeptos da corrupção jurídica”.
A reflexão feita por Claudio Marques Rolin e Silva e que faz parte de seu livro está sendo utilizada como munição contra o vice-presidente da entidade. O material reproduzido no site da ACS-ES com a devida autorização do autor, repercutiu entre a tropa. Claudio Marques Rolin e Silva é delegado de Polícia, graduado em Direito e Teologia-pós graduado em Direito Público e especialista em gestão de segurança pública. Ele também é coordenador Geral de Ações da Comissão de Direitos Humanos Irmãos Naves.

O soldado Nero é o único que ainda está preso por acusação de participar da greve dos familiares da PM.

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