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Por que o capixaba está falando tanto a palavra ‘entendeu’?

A expressão perdeu sentindo de questionamento e virou costume de linguagem, dito principalmente no final de frases

Por que o capixaba está falando tanto a palavra ‘entendeu’?

Uma expressão tem sido repetida à exaustão no Espírito Santo. Para alguns é perceptível, para outros, passa batido. E tem aqueles que detestam, acham que alguma coisa está errada na comunicação. De uma hora para outra, o “entendeu” entrou no vocabulário dos capixabas.

O historiador Paulo Vilaça diz que o uso do “entendeu” pelas pessoas daqui é recente. E desconfia de onde veio. “O entendeu deve ter chegado aqui pela influência das viagens do capixaba a estados vizinhos. No interior de São Paulo e na região Sul de Minas, as pessoas têm o costume de dizer no final da frase: “entende” e “sabe”. E ainda enfatizam”, esclarece.

As percepções do uso excessivo da palavra são variadas. A estudante Isadora Soares, de 24 anos, confessa o estranhamento: “No começo achei isso muito estranho, não sabia porque estavam falando entendeu comigo. Me achava meio burra”, conta. Já Pedro Paulo Batista, de 25 anos, seguiu a “onda” e hoje fala sem perceber. “Não me lembro quando passei a falar. É meio que um costume de não saber como terminar uma frase.”

Professores explicam que a reprodução do “entendeu” virou um costume de linguagem, usada de diferentes formas e sentidos na comunicação. Necessariamente não é por uma situação à qual você precisa entender ou saber de alguma coisa.

De acordo com a professora de Língua Portuguesa, Redação e Literatura, e doutoranda em Educação pela USP, Marli Siqueira, o “entendeu” é uma expressão para testar a comunicação e o contato com o outro. E vai além do seu sentido de questionamento.

“As pessoas estão usando essas expressões para chamar a atenção. Não é uma coisa do capixaba. É geral. É uma dificuldade de verbalizar a mensagem. Tenho a impressão que estamos vivendo em uma época de tanta informação, ruído e falta de foco, que essas expressões de contato ganham força”, descreve.

NÃO É GÍRIA

Você pode até pensar que o “entendeu” é uma gíria, como o “muita raça”, falada na região Sul Estado (principalmente em Muqui), que tem a função de intensidade, ou seja, intensificar o muito. Mas não é bem assim. O entendeu não é gíria.

“Não se pode dizer que é uma gíria. A gíria normalmente está ligada ao neologismo, uma palavra nova. Ela pode vir de uma criação nativa ou ser incorporada, como as palavras estrangeiras, em que se produz novos termos”, explica Paulo Vilaça.

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