Mãe aos 14 anos, ela largou a escola na 6ª série. Presa desde 2014, apostou na educação para recomeçar e agora está no 1º ano de pedagogia via EAD na Penitenciária Feminina de Campinas.
Foi quando se viu cercada por grades, longe das filhas e da família, que Ana (nome fictício), de 29 anos, viu que ainda era possível sonhar. Presa por tráfico em 2014, ela conta que deixou os estudos bem antes disso, aos 14, quando foi mãe a primeira vez. No “fundo do poço”, tentou se reerguer através do conhecimento. Concluiu na cadeia os ensinos fundamental e médio, e agora é a única da Penitenciária Feminina de Campinas (SP) a cursar faculdade. A meta é ser professora.
“Desde pequena eu pensava em ser professora, era sonho de infância. Só que engravidei cedo, casei cedo e abandonei meu sonho. Saí da escola na 6ª série e deixei tudo de lado para focar no ser mãe, dona de casa. Aconteceu que eu e meu marido ficamos desempregados e erramos, e acabei nesse lugar”, explica Ana, ao repassar sua biografia.
Ana, aliás, faz parte de um grupo seleto. Em todo o estado, 47 presidiários fazem parte do ensino superior. Na região de Campinas são apenas três, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). A maioria, como ela, por ensino a distância (EAD).
O que poderia servir como lamento é, na verdade, o ponto de transformação de sua vida. De frente para o computador onde estuda por quatro horas diárias, em uma sala de paredes cor-de-rosa e grades na janela, a estudante de pedagogia ressalta a importância de ter aprendido com o erro.
Contando os dias e horas para conseguir a progressão de pena e poder cumprir o restante do que deve no regime aberto, Ana planeja o futuro como professora. A ideia é seguir os estudos, se formar e prestar concurso.
A confiança veio depois de trabalhar o medo e, com o conhecimento adquirido, poder superar eventuais preconceitos.
“Sei que o preconceito virá de muitas partes, só que eu quero dar exemplo, mostrar que fui presidiária, e que não serei mais. Quero ser professora para mostrar à sociedade que as pessoas que estão atrás das grades ainda tem valor. Essas pessoas ainda podem ter mudanças. Vou mostrar pra sociedade isso. Quero dar aula em escola pública. E vai dar tudo certo, sim.”
Surpresa
Mãe de duas meninas, de 15 e 12 anos, Ana fala que espera usar a experiência de vida para abrir a mente de outros jovens. “Na idade delas, eu já estava com uma criança de quase um ano. E hoje estou pagando pelo que errei para que elas, e outras crianças, não façam o que eu fiz. Não quero isso para elas, diz.
Ana conta que as filhas acompanharam seu retorno aos estudos, a conclusão dos estudos e a tentativa de vaga no Enem. O fato de ter obtido nota para conseguir uma bolsa integral em pedagogia é a surpresa que vem guardando para a “saidinha” do Dia das Mães.
“Quero dar notícia de que consegui, mostrar o site da faculdade, o caderno, os estudos. Será uma surpresa para elas. Quero dar esse orgulho para elas, para meus pais”, avisou.