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Presos e torturados em 64 repudiam comemorações determinadas por Bolsonaro

Perly Cipriano foi torturado nas prisões, onde permaneceu por 10 anos, sofrendo todo tipo de atrocidades

“Não há nada a comemorar, pois a data merece repúdio”. Assim se expressou o ativista político, escritor e ex-preso político Perly Cipriano sobre as comemorações ao golpe militar de 1964, que inaugurou a ditadura no Brasil, com 21 anos de duração, e deixou mais de 400 brasileiros mortos e desaparecidos. Da mesma opinião, o médico Iran Caetano, também ex-preso político pela ditadura, afirma: “A atitude é criminosa, prevista em lei”.

As comemorações foram determinadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), gerando uma onda de protestos de representantes de sociedades civis, lideranças políticas e religiosas, inclusive uma recomendação do Ministério Público Federal às Forças Armadas, divulgada nessa quarta-feira (27), para que as comemorações fossem suspensas.

Apesar dessa medida, os generais Luiz Eduardo Ramos Pereira, comandante do Sudeste, a que o 38º Batalhão de Infantaria de Vila Velha está subordinado, e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do Norte, encaminharam convites para celebrar a data nesta sexta-feira (29).

De outro lado, um ato de repúdio à ditadura de 1964 será realizado em Vitória na próxima segunda-feira (1º). O evento leva em consideração que o golpe militar não ocorreu em 31 de março e sim no dia 1º de abril, sendo o registro histórico alterado posteriormente porque nessa data de se comemora o Dia da Mentira.

O evento acontecerá em torno do monumento aos seis capixabas desaparecidos na ditadura militar, ente os quais Arildo Valadão e Orlando Bonfim, a partir das 18 horas, na praça Costa Pereira, Centro de Vitória. Haverá pronunciamentos e apresentações culturais.

Para Perly Cipriano, comemorar a ditadura seria a mesma coisa que exaltar Hitler e ignorar as atrocidades cometidas por ele na Segunda Guerra Mundial. Perly foi torturado nas prisões militares, onde permaneceu por 10 anos, sofrendo todo tipo de atrocidades.

Ele aponta o que chama de irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro e ressalta a sua índole perversa, que o aproxima dos ditadores: “Bolsonaro elogiou o general Strossner, ditador do Paraguai, assassino, corrupto e pedófilo; exaltou Pinochet, do Chile, corrupto e responsável por mais de três mil mortes, inclusive de brasileiros, e Brilhante Ulstra, o maior torturador da ditadura de 64”.

Para Perly, a comemoração nesse 31 de março determinada por Bolsonaro é uma ofensa à democracia e à Constituição Federal e a todos os que foram mortos pela ditadura, além de um desrespeito às manifestações do Ministério Público Federal, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Defensoria  Pública e várias outras entidades que emitiram notas contrárias à iniciativa do presidente.

“Um presidente que bate continência à bandeira dos Estados Unidos não merece respeito”, ressalta Perly, que na época militava na Aliança Renovadora Nacional (ALN) e hoje é dirigente do PT em Vitória. .

O médico Iran Caetano, há 55 anos no PCdoB, ficou preso 11 meses, depois de um período de fuga que o levou de Vitória a Belo Horizonte, e Rio de Janeiro e Belém, no Pará. Ele considera comemorar a ditadura “um retrocesso contra os interesses do povo”.

Iran acredita que a determinação de Bolsonaro representa uma contribuição “ao retorno de uma situação inimiga da tranquilidade, dando início a um novo ciclo de lutas pela liberdade”.

Articulado a partir de 31 de março de 1964, o golpe militar que instaurou a ditadura se consolidou na madrugada de 1º para 2 de abril. Com o apoio das elites, a conspiração derrubou o governo legalmente constituído do então presidente João Goulart, com articulações que envolviam, também, o governo dos Estados Unidos, conforme revelações que vieram à tona  posteriormente.

Fonte:Seculodiario.

 

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