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Produtores sofrem com roubos e agressões no caminho das feiras livres

“A gente sai de casa e não sabe se volta. É preciso que um de nós seja morto para que tomem uma providência?”. O desabafo desesperado é de um feirante que, por medo, preferiu não se identificar. Ele, assim como outros produtores rurais do Estado, teve o veículo interceptado por criminosos na estrada, foi agredido e teve o dinheiro de um dia inteiro de trabalho roubado em minutos. Em decorrência dos problemas, alguns já decidiram andar armados.

“Ando armado por medo e para me proteger”, afirma produtor rural

Grande parte dos produtores iniciou o trabalho rural ainda criança. A vida na roça sempre foi difícil e sofrida, segundo eles. Mas agora enfrentam mais um dificultador: a insegurança nas estradas.

A reportagem percorreu feiras realizadas em Cariacica, além da Ceasa, que concentra vários produtores. Os trabalhadores narraram casos de roubo, agressão e sequestro e contam que sentem medo no caminho roça.

Um deles, que não quis se identificar, contou que foi rendido ao passar pela Rodovia do Contorno, em Cariacica. Para fazê-lo parar, os criminosos já o abordaram dando um tiro contra o caminhão. “Eu saía da Ceasa. Dois caras saíram do carro, já chegaram dando dois tiros e me fizeram parar, na marra”, conta.

Ao entrarem no veículo, os bandidos já foram pedindo por dinheiro. “Pegaram um pouco na minha carteira, perguntaram se tinha mais e eu disse que não. Bateram na minha cara e disseram que se achassem mais dinheiro no carro iriam me matar. Com medo, entreguei mais R$ 3 mil que eu tinha escondido”, lembra.

Segundo o produtor, ele ainda foi sequestrado e abandonado em Carapina, na Serra. No local, eles entraram novamente no carro onde estavam os comparsas e fugiram, retornando para Cariacica. “Um tiro pegou na porta do caminhão. Eu poderia ter sido baleado. Esses assaltos já vem acontecendo há um ano. Fui rendido este ano e já foram mais de 50 produtores assaltados que eu tive notícias e a polícia não faz nada. A sensação é que esses crimes nem estão sendo investigados”, desabafou.

OLHEIROS INDICAM QUEM ESTÁ COM DINHEIRO E SERÁ ASSALTADO

Os produtores acreditam que são vigiados por criminosos que agem como “olheiros” nas feiras e na Ceasa para identificar quem está com dinheiro.

“Acredito que somos vigiados pelos bandidos, que reparam quem está com dinheiro e passam as informações para comparsas que estão do lado de fora. Eles já chegam sabendo o que a gente tem e qual o carro. Hoje em dia a gente prefere até furar o sinal vermelho. Melhor ser multado do que roubado”, disse um produtor rural de 48 anos.

Segundo eles, o modo de agir é sempre o mesmo: os bandidos usam carros para fazer manobras na estrada, fechando as vítimas. Eles sempre agem armados, fazem terror psicológico e chegam até a agredir, caso os motoristas não falem onde está o dinheiro.

“Em agosto, uma Saveiro me cortou e ficou entre eu e outro produtor rural, em Cariacica. Aí eles pararam o carro da frente e eu tive que parar também. Eram três bandidos armados. Roubaram nós dois, no mesmo momento. Medo a gente tem, mas não tem muito o que fazer. É triste perder o dinheiro, mas é melhor do que perder a vida”, disse um feirante, que preferiu não se identificar.

MULHERES AJUDAM NOS ASSALTOS

Além de homens, mulheres também participam dos assaltos contra produtores rurais, segundo uma vítima de 51 anos. Ele foi surpreendido em julho deste ano quando foi rendido ao chegar na Ceasa, por um casal.

“Já escapei de tentativas de assalto na estrada. Mas em julho deste ano fui vítima de um casal. Estava parado com o carro na fila para entrar na Ceasa, às 3 horas, e vi uma mulher parada, como se fosse uma isca para distrair motoristas. Parei próximo a ela e um homem armado surgiu e me rendeu. Ele falou que se eu não entregasse o dinheiro, iria me matar. Eu falei que ainda não tinha dinheiro. Aí ele deu uma coronhada no meu rosto e me chamou de maldição. Agora não trabalho mais de madrugada. Peguei trauma”, contou.

QUADRILHAS NÃO SÃO INVESTIGADAS

A Polícia Civil afirma que não há investigação sobre quadrilhas que atacam feirantes em andamento nas delegacias especializadas. De acordo com o delegado Nilton Abdala, titular da Delegacia de Roubo a Cargas, para que a delegacia investigue esse tipo de crime, é preciso que a carga tenha sido levada e que o valor seja acima de R$ 95 mil.

Outra alternativa é que haja denuncia de uma organização criminosa agindo nesse sentido. “Esses casos costumam ser apurados pelas delegacias regionais de onde aconteceu o roubo. A não ser que o delegado nos informe há uma organização criminosa atuando nesse sentido. Mas não recebemos esse tipo de informação”, disse.

As assessorias da Polícia Civil e da Polícia Militar afirmaram que só seria possível falar sobre o assunto se cada vítima disponibilizar os números dos registros de ocorrência que fizeram na época.

Em nota, a Ceasa informou que segurança da instituição é feita por uma empresa contratada para realizar os serviços de segurança no período de 24h. A Ceasa também conta com o apoio do Departamento de Polícia Militar que fica dentro da Unidade.

Enquanto isto, por medo, já há produtores em busca de porte de arma. “Há três meses fui assaltado com mais dois colegas, na saída de Cariacica. Levaram tudo. Pensei que iria morrer. Agora quero trabalhar armado e já estou fazendo o curso para ter o porte de arma”, desabafou um produtor rural de 21 anos.

ARTIMANHAS PARA FUGIR DOS ROUBOS

Feirantes da Grande Vitória procuram artimanhas para tentar fugir de criminosos. Um feirante de 27 anos, contou que até mesmo o carro dele já foi arrombado durante a feira e todo dinheiro foi levado. “Agora, quando recebo uma boa quantidade em dinheiro, já peço pra um carro de passeio levar a quantia antes de eu ir embora, pois são os carros de feira que chamam atenção desses bandidos”.

Ele contou ainda como os bandidos costumam agir. “Os criminosos já ficam rondando as feiras e vigiando as possíveis vítimas, pois sabem que estamos sempre com dinheiro em espécie. Normalmente, eles não agem sozinhos e sempre esperam o fim da feira, quando a movimentação diminui”, relata

Ele acrescenta que as épocas de festas são quando os assaltos acontecem com mais frequência. Percebo que o feirante não é valorizado. Somos cobrados, pagamos inúmeras taxas, mas não vemos retorno na segurança pública”, disse.

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