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Psicanalista, professora e membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória fala sobre homossexualidade

DarleneTronquoy, psicanalista, professora e membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória.

A homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde em 1990. Considerando o lugar das chamadas “homossexualidades” na História e os olhares e práticas que as segregaram e a consideraram, mais recentemente, manifestações de “desvios” ou “doença”, tal decisão é recente e, de forma alguma, por acaso.

É o resultado de forte insistência no caminho “das luzes” frente “às trevas” que sempre habitaram o pensamento humano.

Na Antiguidade, ainda que houvesse larga tolerância no que diz respeito às práticas homossexuais, elas eram altamente regulamentadas e, algumas, a tal ponto eram interditadas que, na Atenas Antiga, se um homem viesse a praticá-las, poderia ser morto.

No início da Idade Média, o homoerotismo era, de certo modo, tolerado – isso inclui o Oriente – entre indivíduos de classes abastadas.

Porém, no período da Inquisição, homossexuais foram perseguidos e queimados: a sodomia, pior das heresias, levava à morte.

No campo jurídico, um dos primeiros códigos legais a incluir o homossexualismo, em 1270, era francês, e dizia que o homem que mantivesse relação homossexual deveria ser castrado e, caso reincidisse, pagaria a pena com a vida.

Já na Modernidade, o século XIX, fortemente influenciado pelo pensamento cristão na formação de sua intelectualidade, incluiu as homossexualidades como “anomalias”, condenando-as veementemente, agora com argumentos “científicos”, ignorando, inclusive, que muitos estudiosos e religiosos eram, eles mesmos, homossexuais.

Felizmente, antes de seu fim, tal século conheceu uma abertura nesse pensamento que nem chamaria retrógrado, mas recrudescido, pois que o repúdio à (humana) condição homossexual sempre existiu. E pode-se dizer que o avanço obtido contra ele só foi alcançado no campo da ciência e da lei.

Nada de ilusões, pois ele permanece, de maneira ignóbil e obscena, na cabeça dos que, certamente, não estão nada seguros de sua própria posição sexual, por isso, a suposta “inadaptação” do outro os remete a seu próprio mal-estar, ou mesmo ao “ódio de si”, que produz o preconceito, pura projeção do que, a princípio, é meu problema, e não do outro.

Recentemente, o Reino Unido extinguiu a condenação – concedendo “perdão póstumo” aos que morreram sob elas – que recaía sobre milhares de pessoas consideradas homo ou bissexuais, pois homossexualidade era crime na Inglaterra e no País de Gales até 1967, na Escócia até 1980 e na Irlanda do Norte até 1982.

Há outros pensadores, mas, no fim do mesmo século que enrijeceu preconceitos, Sigmund Freud, com a psicanálise, subverte sua época não só dizendo que a homossexualidade é uma possível orientação do desejo/sexualidade, concebendo uma origem bissexual para todos nós, mas também desvelando o fato de que nossa sexualidade infantil, e “normal”, é, em origem, “polimorfoperversa”, ou seja, pode “ligar-se” a objetos variados, só se definindo, ou não, em nossa relação com o outro, e dependendo do que se passa no plano das identificações inconscientes.

A possibilidade da homossexualidade, está, pois, a princípio, posta para todos. E não é necessário lei nenhuma para que alguém que queira colocar em questão sua vida erótica, seu sofrimento, busque uma escuta que possa acolhê-lo, seja qual for seu sexo, pois a sexualidade sempre foi, e sempre será, fonte constante de mal-estar, para homo ou heteros, queiramos ou não!

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