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Saque extra do FGTS pode chegar a R$ 1 mil por trabalhador

O governo prepara uma nova rodada de saques para os beneficiários do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A ideia é anunciar a medida após o carnaval.

A expectativa é de que seja liberado o saque de até R$ 1 mil para cada trabalhador. Nas estimativas do governo, a ação pode alcançar 40 milhões de trabalhadores e injetar até R$ 30 bilhões na economia, em pleno ano eleitoral.

O tema chegou a ser mencionado na terça-feira pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, durante sua participação em um evento realizado pelo banco BTG Pactual. Para autorizar o saque extraordinário das contas de FGTS, deve ser publicada uma medida provisória.

“São pessoas que têm recursos lá, e que estão passando por dificuldades. Às vezes, o cara está devendo dinheiro no banco e está credor no FGTS. Por que não pode sacar essa conta e liquidar a dívida dele do outro lado?”, questionou Guedes, em fala durante o evento.

Com a aproximação das eleições, a ala política do governo tem pressionado a equipe econômica a anunciar medidas que possam aumentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Na pasta econômica, o tema é tratado no âmbito da Secretaria de Política Econômica (SPE) e, segundo fontes do ministério, ainda está em “maturação”.

Um dos idealizadores é o atual assessor especial de Assuntos Estratégicos do ministério, Adolfo Sachsida, ex-chefe da SPE, que elaborou no atual governo as medidas de saques do FGTS para estimular a economia.

REAÇÃO

Mesmo antes de sair do papel, a medida já acendeu o alerta no setor da construção civil, que tem nos saldos do FGTS uma das principais fontes de financiamento à construção e aquisição de imóveis. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, alertou para a necessidade de preservar a sustentabilidade do fundo.

“Achamos que essa medida vai no sentido contrário ao que interessa ao País. O FGTS não é complemento de renda, mas sim funding para investimento e geração de bem-estar, emprego e renda.”

Também há a avaliação no mercado de que a injeção extra de recursos não deve alterar a trajetória de estagnação do PIB no ano. Os fatores que jogam contra essa alavanca na atividade são a inflação em 12 meses na casa de 10% e o endividamento recorde das famílias.

“Essa medida atenua o desaquecimento da atividade, mas não muda o jogo”, afirma o economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi. Ele continua projetando avanço do PIB de 0,7% no ano, pouco acima da média do mercado – de 0,3%.

Dos R$ 30 bilhões que podem ser liberados pela medida, R$ 20,9 bilhões devem ser direcionados para consumo e o restante, para pagamento de dívidas, apontam cálculos do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.

Ele chegou a essas cifras levando em conta dados históricos de como as famílias reagiram à liberação de recursos extras no passado. Também considerou o nível de endividamento atual, da ordem de 33% da renda familiar.

“Se a liberação desses recursos for vinculada ao pagamento de dívidas, a medida pode beneficiar o consumo no longo prazo de forma sustentável”, afirma o economista. Mas, se não houver um direcionamento, a sua avaliação é de que essa cifra não fará o comércio bombar, porque a inflação em níveis elevados vai corroer boa parte dos recursos.

O chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, Gustavo Arruda, vê também riscos para a administração da política monetária. “A literatura sugere que a dinâmica de mais renda em um ambiente de inflação pressionada leva a mais problemas para a política monetária. Se tiver mais política fiscal, a convergência para a meta (de inflação) pode demorar mais.”

SALDO MÉDIO

Hoje, 80% das contas do fundo têm saldo médio de R$ 1 mil, segundo informação do Instituto Fundo de Garantia do Trabalhador, organização sem assento no FGTS que defende interesses de trabalhadores quando o assunto é o fundo.

O presidente da entidade, Mario Avelino, vê interesse eleitoreiro na iniciativa. “É preciso cuidado, porque tirar a sustentabilidade de curto prazo do fundo pode fazer com que amanhã faltem recursos para investimentos que beneficiam principalmente as pessoas de baixa renda. O governo acha que é dono do FGTS, mas essa é uma poupança compulsória do trabalhador para ser acessada apenas em momentos de verdadeira necessidade, em caso de demissão sem justa causa, doenças graves ou mesmo em catástrofes”, disse ele.

Fonte: Folha Vitória

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