A vitória de Alberto Fernández, candidato peronista de centro-esquerda, nas primárias para presidente na Argentina desagradou o governo brasileiro. O ministro Paulo Guedes (Economia) e o presidente Jair Bolsonaro disseram avaliar até sair do Mercosul se houver problemas com o vizinho.
Uma eventual saída do bloco teria vários impactos na macroeconomia, e afetaria o dia a dia do brasileiro. Segundo especialistas, encareceria do pãozinho comido pela manhã à cerveja ddo fim de semana, visto que o trigo e a cevada em grãos são os dois produtos básicos mais importados da Argentina em valor.
De acordo com a Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), 50% do trigo consumido no Brasil é importado e, dessa quantidade, 88% vêm da Argentina (3,4 milhões das 3,8 milhões de toneladas importadas). “Hoje o trigo argentino entra no Brasil sem tarifa nenhuma. Se o acordo fosse rompido, passaria a ser cobrada alíquota, o que faria com que o preço do pão e outros derivados subisse. É um fato”, afirmou Rubens Barbosa, presidente-executivo da Abitrigo.
Impacto semelhante se daria na cerveja. Segundo dados da CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja), o Brasil consome, em média, 1,5 milhão de toneladas de malte de cevada por ano. Desse total, apenas 22% são produzidos aqui, enquanto 73% são importados da Argentina e do Uruguai. Os outros 5% vêm da Europa. Procurada, a CervBrasil preferiu não se posicionar antes de qualquer decisão tomada.
Indústria automotiva
No mercado brasileiro, o principal impacto da saída do Mercosul seria sentido pela indústria automotiva, que tem a Argentina como principal mercado externo. Dos cinco produtos mais exportados pelo país dentro do bloco em 2018, todos envolvem o setor: Automóveis de passageiro: US$ 4,1 bilhões (20% do total) Óleos brutos de petróleo: US$ 1,24 bilhão (6%) Veículos de carga: US$ 1,23 bilhão (5,9%) Partes e peças para veículos automóveis e tratores: US$ 1,08 bilhão (5,2%) Tratores: US$ 528,7 milhões (2,5%)
“Com a queda [nas vendas] por aqui, a Argentina ajudou a segurar as montadoras, que passaram a exportar cada vez mais para lá”, explicou o economista Mauro Rochlin, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas). “No ano passado, essa indústria teve um baque com a maxidesvalorização do peso, mas ainda é importante, em especial com o nosso mercado ainda desaquecido”, completou.
Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a exportação de carros caiu 45% no primeiro quadrimestre deste ano, puxada pela crise argentina. Rochlin destaca que a suposta cobrança de alíquotta deixaria com carro brasileiro ainda mais caro.
Em 2018, o Brasil exportou US$ 20,8 bilhões em produtos para os países do bloco. Isso representa pouco menos do que 9% dos US$ 239 bilhões de exportações no ano.
Neste ano, de acordo com o Ministério da Economia, o bloco já gerou uma renda de US$ 8,9 bilhões ao Brasil (cerca de 7% do total). “Os produtos podem, em médio ou longo prazo, ser vendidos para outros mercados. Mas o Brasil já está passando por uma crise. Isso seria um ingrediente a mais contra os investimentos no país”, afirmou Verônica Prates, consulta em comércio internacional.
Fonte: ES HOJE