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Sucessão familiar ainda é desafio a ser enfrentado na agricultura do ES

Muitos jovens querem ir para centros urbanos ou encontram resistência para cuidar dos negócios

Da esquerda para a direita: Stenio, Thiago , Adauto (pai) e Jonas Orletti trabalham com a produção e a torra de café / Foto: Acervo pessoal

Sair do campo para estudar e trabalhar na cidade. O sonho de diversos jovens que vivem hoje com a família nas áreas rurais do Estado, muitas vezes, pode ser descrito dessa forma. Mas essa vontade de ir para a área urbana pode gerar um problema: a dificuldade no processo de sucessão familiar.

Para que a mão de obra mais nova fique no campo e o gerenciamento das propriedades agrícolas seja realizado também pelas gerações mais jovens, é preciso, segundo especialistas, incentivar e valorizar essa juventude com ações de motivação e atitudes ligadas a áreas como educação, desenvolvimento e empreendedorismo.

A convite da Nestlé e da Ashoka Brasil, a reportagem de A GAZETA foi a Araras, município de São Paulo, para um debate sobre o tema.

Lilian do Prado, cofundadora da Acreditar – entidade sem fins lucrativos que estimula a cultura empreendedora dos jovens –, diz que é comum ver entre as famílias que vivem da agricultura situações em que os filhos saem em busca de oportunidades e realizações.

Para ela, é preciso ressignificar o sentindo do trabalho agrícola. “Às vezes, a felicidade do jovem está na propriedade rural, mas o mundo diz que ele tem que sair daquele local para ter mais acesso à comunicação e ao estudo, por exemplo. Além disso, também existe uma dificuldade muito grande de mudar os costumes das gerações anteriores”, avalia.

BARREIRAS

Apesar de algumas pessoas terem iniciativas para seguir o caminho dos pais ou avós, elas encontram bloqueios na hora de realizar o processo de inovação e conquistar seu espaço. De acordo com Lilian, essa “resistência a algumas propostas dos jovens ainda é uma barreira que precisa ser pensada”.

Stenio Lister Orletti é da terceira geração de uma família produtora de café. Na década de 1970, o avó começou a produzir o arábica, em Castelo, região Sul, e há quase 30 anos mudou para o cultivo do conilon, passando a produção para Pinheiros, região Norte.

Stenio conta que, ao entrar nos negócios da família, enfrentou dificuldades para apresentar novas técnicas, até que conquistou o seu espaço. “Aos poucos fomos implementando as mudanças e mostrando os resultados. Os pais ainda não estão tão preparados para absorver as inovações que os filhos estão trazendo para o campo. Temos que preparar também os pais para receber essas modificações.”

Já de acordo com o professor do Centro Estadual Integrado de Educação Rural de Águia Branca, no Noroeste capixaba, Valdeci Loterio, o fato de muitas famílias pensarem em trocar o produto de cultivo devido às dificuldades enfrentadas, como a falta de água ou problemas com o clima, acaba desestimulando os jovens.

“A maioria dos filhos desses camponeses, ao se deparar com o desafio, vai se sentir devastado, como se fosse em vão todo aquele ano. Os pais falam para os filhos: ‘vão para a cidade, tenham um salário fixo e não sigam o ramo do pai’. É preciso trabalhar a cabeça das famílias para que vejam e saibam que já têm soluções e parcerias para ter um produto melhor.”

COMUNICAÇÃO

Um ponto-chave para as novas gerações é a necessidade da utilização de ferramentas de comunicação no cotidiano. Mas a realidade presenciada pelo professor Valdeci Loterio é um pouco diferente. “Em Águia Branca, temos jovens que ainda não têm acesso às mídias, por isso, precisam ir na cidade buscar informações, como o preço do café, por exemplo”, relata.

De acordo com o professor, algumas pessoas ainda dependem exclusivamente do rádio para se informar. “É preciso dar condições de acesso aos meios de comunicação para que esses jovens busquem informações e conhecimentos. Com isso, eles poderão trazer inovações a suas famílias e, só assim, vão ficar motivados a permanecer ali”, acredita.

O produtor Stenio Lister Orletti também destaca que se a informação chegar, com certeza, os agricultores irão criar novos métodos e aproveitá-los para “melhorar a qualidade dos grãos de café, o desempenho e a produção do café e minimizar o impacto do clima”.

Fonte: Gazeta Online

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