Enquanto o governo Estadual e Federal tentam encontrar formas para combater a criminalidade, em alguns bairros de Vila Velha, traficantes buscam dominar a região cobrando taxas para liberar serviços na comunidade, como internet, telefonia, gás e água mineral.
A denúncia foi feita por moradores, comerciantes, empresas provedoras de internet e técnicos instaladores à reportagem de A Tribuna. A denúncia também foi confirmada por fontes da Polícia Militar, que garantiram que os casos estão acontecendo em bairros como 1º de Maio, Santa Rita e Alecrim, há um mês, e que pelo menos sete empresas teriam sido vítimas dos criminosos.
“Funciona como uma espécie de ‘milícia’. Eles fazem a proposta, exigindo um valor para as empresas e quem não aceita é até ameaçado de morte”, afirma um sargento da PM, que pediu para não ser identificado.
Segundo ele, há casos de traficantes que foram parar na porta de provedoras de internet, armados, no intuito de forçar os donos das empresas a aceitarem as condições dos criminosos.
“Fizeram campana na porta de algumas empresas. Ficaram lá aguardando o dono e só saíram quando os militares chegaram”, disse.
Um técnico instalador, de 39 anos, que chegou a trabalhar no bairro 1º de Maio, e que não será identificado, relatou o que ouviu da boca de criminosos, há aproximadamente três semanas, quando instalava uma rede de telefonia.
“Me fizeram descer do poste e disseram que era para eu ir embora, porque minha empresa não pagava a tal da taxa. Falaram que iam começar a cobrar essa taxa de empresas de internet e telefonia e depois de água e gás”, afirmou.
Os serviços de água e gás já andam comprometidos no bairro 1º de Maio, de acordo com uma dona de casa, de 37 anos. “Já estão cobrando. O ruim é que às vezes, algumas empresas que não concordam em pagar esse valor, acabam cancelando nossos pedidos e nós é que saímos prejudicados”, desabafou a moradora.
“Querem fazer aqui o que já feito no Rio de Janeiro, onde os traficantes dominam as comunidades. Começaram cobrando essas taxas das empresas de gás, água, telefonia e internet e já garantiram que vão cobrar de material de construção e empresas que entregam cigarros”, disse um empresário, dono de uma das sete empresas que foram ameaçadas.
Moradores sem serviços após ameaças de criminosos
As ameaças feitas por bandidos a empresas de telefonia e internet deixaram moradores dos bairros 1º de Maio e Santa Rita, em Vila Velha, prejudicados. Devido às exigências do tráfico, técnicos que fazem instalação e reparos das linhas não estão entrando nestas regiões.
“Minha irmã teve um problema com a internet dela e, quando ligou pedindo reparação, a empresa disse que não pode mais entrar no bairro porque os traficantes proibiram até a manutenção”, contou uma comerciante e moradora do bairro 1º de Maio, que pediu para não ser identificada.
O proprietário de uma das empresas que receberam a “proposta do tráfico” contou que perdeu pelo menos 20 clientes no mesmo bairro em que a comerciante mora por não ter aceitado a proposta.
“Meus funcionários e eu fomos ameaçados. Infelizmente, não podemos entrar naquela região. Como alguns clientes ligaram pedindo reparos e eu não pude mandar ninguém, eles cancelaram o serviço”.
Para quem depende do serviço para os estudos, como é o caso de uma dona de casa de 36 anos, moradora de 1º de Maio, a atitude criminosa é um ato de extrema frieza. “Eu uso para fazer trabalhos do meu curso, meus filhos usam para fazer trabalho de escola. Você querer viver no crime, é uma escolha, agora, atrapalhar a vida de um trabalhador de bem, isso não existe”.
Taxa de até R$ 6 mil por mês
Os criminosos que exigiram um valor às empresas de telefonia e internet para que seus serviços fossem instalados em bairros de Vila Velha chegaram a cobrar R$ 6 mil por mês para que elas pudessem atuar nas regiões.
A informação é de um dos proprietários das sete empresas ameaçadas, que por questões de segurança, não será identificado.
“Para alguns, fiquei sabendo que eles pediram um valor menor, mas a mim e a outros dois, foi esse valor. Acredito que eles analisam de acordo com o tamanho do lucro de cada empresa”, contou o empresário.
Já um outro empresário, de 35 anos, dono de uma outra empresa que atua no ramo de telefonia, o valor cobrado foi em porcentagem. “Exigiram 30% do meu negócio e queriam, inclusive, colocar um deles dentro do meu escritório. É difícil, a gente luta tanto para conseguir algo e do nada vêm e querem tomar aquilo que você batalha para ter”, lamentou.
De acordo com fontes da Polícia Militar e moradores de 1º de Maio, Santa Rita e Alecrim, criminosos dessas regiões já cogitam cobrar uma taxa de “proteção” para pessoas que residem nestes bairros.
“Já cobram um tipo de pedágio dos comerciantes, agora querem cobrar a tal da ‘proteção’ do tráfico. Seria também uma taxa mensal, cujo valor nós ainda não sabemos”, disse um sargento da PM que pediu para não ser identificado.
Fonte: Tribuna