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Vítima de desabamento de prédio em SP, foi considerada morta em 2009

Ex-vizinhos contam que Ricardo morou em Sorocaba e que boato dizia que ele havia morrido há quase dez anos após desaparecer repentinamente

Amigo guardou foto de Ricardo desde 2009 (à esquerda); (à direita) foto mais recente da vítima do incêndio em SP (Foto: Arquivo pessoal)

O desabamento do prédio em chamas no Centro de São Paulo na madrugada de 1º de maio comoveu o país. No entanto, a imagem dos últimos segundos de vida de Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, 39 anos, antes de desaparecer em meio aos escombros, chocou amigos de Sorocaba, que achavam que ele estava morto desde 2009, época em que sumiu repentinamente.

O homem foi descrito pelos moradores como uma figura carismática no tempo que morou na região, entre 2005 e 2009.

Emocionado em falar sobre o amigo de longa data, o ex-vizinho Mauro Vagner Pereira conta que Karatê desapareceu repentinamente e ninguém teve mais notícias até o incêndio no edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, na capital paulista.

A tristeza com o flagrante da imagem de Ricardo quase resgatado após salvar crianças veio em dobro. Os amigos pensavam que ele já estava morto, por conta de um boato espalhado na época do sumiço.

“Ele chegou de repente na cidade e foi embora de repente. Então, a gente tinha esse negócio: ‘será que ele morreu, será que não morreu?”, conta Mauro.

Em Sorocaba, Ricardo chegou a trabalhar em uma padaria. Depois de um ano, ele entrou na Justiça contra o comércio por não ter registro profissional e desapareceu durante o processo.

O desaparecimento de Ricardo chamou a atenção até da Justiça. Em uma das audiências, o advogado do empregador chegou a relatar a notícia, não confirmada, sobre o falecimento do ex-funcionário.

Conforme a ata da audiência, o advogado de Ricardo informou que realmente não conseguia encontrar o cliente.

‘Cara digno’

Outro vizinho, Everton Henrique dos Santos era chamado por Ricardo como “primo”. O rapaz soube da morte no incêndio em SP por uma amiga em comum.

“Quando eu fiquei sabendo que era ele, e falou ‘salvou criança’, no mínimo ele saiu com quatro, cinco crianças penduradas. O que ele podia eu tenho certeza que ele fez, era um cara digno.”

Everton conviveu por cerca de dois anos com Ricardo. O técnico em manutenção lembra que Karatê brincava com as crianças da rua e chegou a dividir a comida que tinha na geladeira de casa com moradores de rua.

O convívio na vizinhança era aos dias de semana. Sábados e domingos, segundo o amigo, ele falava que ia se encontrar com a filha, que morava com a sogra dele em um bairro próximo.

“Ele tem a filha que tem uns 15 ou 16 anos. Ele sofria por causa dessa criança. Ele gostava muito dela”, diz Everton.

Sobre a infância, Karatê se limitava em dizer que a mãe já havia morrido e que chegou a morar na rua.

“Dizia que infância foi dolorida, lutou muito com a vida, o sonho dele era o karatê que ele praticava. Ele gostava disso daí. Ele tinha o sonho de participar de campeonatos. Depois a idade foi acabando com o sonho dele”, completa Mauro.

“É um cara que buscou até o último fio de vida salvar outras, ele entregou a dele. Isso lembra um dia que ele estava sentado aqui na frente e chegou um rapaz grandão e disse: ’Você que é o Karatê? Deus mandou falar que tem uma obra muito linda na sua vida’”, destaca Everton.

O corpo de Ricardo foi encontrado pelos bombeiros dias depois do desabamento e enterrado em um cemitério da Zona Leste de São Paulo.

Juiz chegou a considerar morte de Ricardo em 2011 (Foto: Reprodução/TV

As informações foram tiradas do G1.

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