Os comerciantes de todo o Sul do Espírito Santo ainda tentavam superar os prejuízos provocados pela enchente que atingiu a região em janeiro deste ano quando, em março, a pandemia do coronavírus e a consequente necessidade de isolamento social os fez baixar as portas mais uma vez. Com medo do futuro, eles tentam conter a onda de danos recorrendo aos empréstimos e ao auxílio do poder público.
Era sábado, dia 25 de janeiro, quando o rio Itapemirim transbordou após uma chuva forte. A partir dali a água chegou a subir 12 metros acima do normal, inundando casas e estabelecimentos comerciais na pior enchente já vivida pela cidade.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da cidade, 567 empresas ficaram alagadas e o prejuízo foi estimado em R$ 120 milhões. O município decretou situação de calamidade pública. Muitos empresários não puderam continuar o negócio e passaram os pontos. Já os que resistiram não contavam com o novo baque dois meses depois: a pandemia do coronavírus.
Juliane Lopes é uma dessas pessoas. Ela tinha uma loja de roupas no centro da cidade e sofreu um prejuízo de R$ 80 mil quando o local foi tomado pela água. Em função disso, teve que mudar o estabelecimento para um shopping.
“Em 11 anos que ficamos lá, nós passamos por três enchentes: a de 2010, em que a água subiu 5 metros; a 2016, em que subiu 80 centímetros e essa de agora, que eu acredito que nem foi enchente, foi uma tragédia, em que a água passou de três metros”, lembra.
A comerciante mal abriu a nova loja e já precisou fechá-la novamente. Em função do isolamento social, os comércios ficaram fechados até o final de abril.
“O mês de maio foi o primeiro em que a gente conseguiu trabalhar 30 dias completos, mesmo com restrições”, diz Juliane.
Como muitas pessoas perderam os empregos, o poder de compra diminuiu e mesmo quem possui renda fixa tem receio de comprometer o orçamento diante de um momento de crise. Uma situação que piora ainda mais as finanças dos empresários locais.
Linhas de crédito
O secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, Francisco Montovanelli, lembra que os empresários têm sido auxiliados pelo poder público desde o início do ano.
“Desde a enchente, 840 linhas de crédito mais acessíveis foram liberadas para comerciantes e empresários. Nós conseguimos, junto ao governo do estado, quatro linhas de crédito com 4,5% de juros ao ano, com 48 meses para pagar. E essa linha de crédito começava com R$ 20 mil, podendo chegar a R$ 200 mil”, pontuou.
A Prefeitura também prorrogou o prazo de pagamento do IPTU, que começará a partir de julho, e também pretende organizar um feirão de negócios. Iniciativas bem-vindas, mas que não mudarão o fato de que 2020 será um ano difícil para muitos.
O diretor de marketing da Associação Comercial de Cachoeiro, Juarez Marquetti espera uma retomada do comércio a partir do segundo semestre, caso o período de pico da pandemia seja superado.
“Vamos torcer para que tenha mais investimentos do governo para tirar todo esse sufoco dos comerciantes”, diz.
Fonte: G1 ES