Especialistas alertam que a falta de uma rotina saudável pode ser uma das causas do problema, que é cada vez mais comum
Depois de gastar energia durante o dia, nada melhor do que ir para a cama e garantir uma boa noite de sono. Mas não é isso que tem acontecido com cerca de 130 mil crianças e jovens no Estado. O motivo está relacionado a uma palavrinha pequena, mas que traz muitos transtornos: a insônia.
O Espírito Santo tem 1.775.007 crianças e jovens, com idades de 0 a 29 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Considerando dados da Pesquisa Nacional de Saúde, também do IBGE, 7,6% da população toma remédio para dormir. Isso significa que mais de 130 mil crianças e jovens têm insônia.
A pneumologista Roberta Couto ressaltou que, na infância, observam-se muitos casos de insônia comportamental. Segundo ela, na adolescência, a insônia está mais associada a problemas de higiene do sono e atraso de fase de sono.
“Os transtornos psiquiátricos (ansiedade, depressão) ou do neurodesenvolvimento (déficit de atenção, autismo e epilepsias) ocorrem em associação ou como comorbidade do quadro de insônia”.
Especialista em Medicina do Sono, a pneumologista Simone Prezotti explicou que, na infância e adolescência, normalmente a insônia está associada a hábitos ruins e, por isso, uma mudança comportamental é essencial. “Em algumas situações, aos adolescentes podem ser indicadas terapias e, em último caso, o uso de medicamento”.
Simone frisou, ainda, que dormir mal e dormir pouco podem trazer prejuízos à qualidade de vida das pessoas, já que essa insônia, muitas vezes, se traduz em cansaço e sonolência durante o dia.
Ela reforçou que a campanha da Sociedade Brasileira do Sono tem defendido que seja respeitado o ritmo biológico dos adolescentes, que muda nessa fase. “Eles preferem dormir e acordar tarde. Por isso, há recomendação de que as escolas comecem as aulas mais tarde”.
Já o psicólogo Felipe Goggi Rodrigues, especialista em Psicopatologia e Saúde Mental, salientou que a insônia tem se tornado cada vez mais comum.
“A falta de uma rotina saudável para esse grupo pode ser um dos causadores, pois, cada vez mais cedo, nossas crianças têm apresentado ansiedade frente aos estímulos diversos, exigindo delas uma maior concentração difusa, isso, muitas vezes, próximo da hora de dormir”.
Noites mais tranquilas após tratamento
Foi aos 18 anos que o publicitário Paulo Jordoni, hoje com 29 anos, procurou ajuda médica para auxiliá-lo a iniciar o sono e, assim, ter qualidade na hora de dormir.
De lá para cá, ele já fez vários exames, cirurgia e, por 11 anos, faz uso de medicamento controlado.
Durante o tratamento, descobriu-se que sua insônia está associada a um problema respiratório: ele tem apneia obstrutiva do sono.
Após essa descoberta, Paulo passou a dormir com um aparelho de pressão contínua. Depois disso, suas noites têm sido mais tranquilas.
Agora, a sua meta é se libertar do Rivotril. Para isso, já começou a reduzir a dosagem, mas esse é um processo gradativo. “Insônia não é frescura. Não basta fechar os olhos e dormir”.
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