“A minha ficha ainda não caiu, não estou conseguindo viver de verdade. Todos os dias vem uma coisa diferente. Não consigo mais dormir. Minhas noites tem sido em claro”, afirmou.
A Pastora Juliana Salles decidiu quebrar o silêncio e falar sobre a morte dos filhos Kauã, de 6 anos, e Joaquim, de 3 anos. A entrevista acontece no dia em que o Ministério Público do Estado devolve o inquérito, que investiga a morte das crianças, para que a Polícia faça novas investigações. A entrevista foi dada com exclusividade ao jornal A Tribuna.
Quarenta e seis dias depois do incêndio que matou os dois irmãos, na casa em que eles moravam em Linhares, a pastora falou sobre a dor da perda dos filhos e a reação após a conclusão do inquérito da Polícia sobre a investigação do caso. “A minha ficha ainda não caiu, não estou conseguindo viver de verdade. Todos os dias vem uma coisa diferente. Não consigo mais dormir. Minhas noites tem sido em claro”, afirmou.
Juliana também falou sobre como recebeu a notícia do incêndio e o relacionamento com o seu marido, o também pastor George Alves, que, segundo a Polícia, teria abusado sexualmente, agredido e ateado fogo no enteado e no próprio filho. George está preso temporariamente no Centro de Detenção Provisória de Viana.
Após a tragédia ocorrida com sua família, como a senhora está se sentindo hoje?
Está sendo muito difícil. Até hoje não consegui viver, de fato, o luto dos meus filhos, a perda deles (choro).
Como tem sido sua rotina?
A minha ficha ainda não caiu. Não estou conseguindo viver de verdade. Todos os dias vem uma coisa diferente. Não estou na minha casa, não estou com meus filhos e nem com o meu marido. Não consigo mais dormir. Minhas noites têm sido em claro.
Em qual versão a senhora acredita, na divulgada pela polícia ou na do seu marido?
Estou confusa. Eu, como esposa do George há cinco anos, não consigo ver que foi com esse homem que a polícia descreveu que eu me casei.
A senhora pretende fazer uma visita ao George na cadeia?
Ainda não sei o que te dizer se vou fazer isso.
Pretende ir à Brasília para a CPI dos Maus-tratos?
Estou aguardando. Se for intimada, terei que ir.
Como soube da tragédia ocorrida na sua casa naquela madrugada?
Eu recebi uma ligação do George às duas e pouco da manhã, muito despesrado, dizendo o que estava acontecendo, mas alguém tomou o telefone da mão dele e desligou. Logo depois, um bombeiro falou comigo que a casa estava pegando fogo e que ele (bombeiro) não acreditava que as crianças estivessem lá dentro. Nesse momento, eu imaginei que algo de grave havia acontecido.
A senhora falou com o George antes do que ocorreu naquela noite?
Sim. Ele estava muito bem. Fizemos uma chama de vídeo e ele estava ao lado do Kauã (choro). O Kauã estava muito feliz, falando como tinha sido o dia dele. Foi uma chamada de aproximadamente quatro minutos. E logo em seguida, fui dormir.
Ficou sabendo o que eles fizeram naquela noite, antes da tragédia?
Eles foram a uma sorveteria e depois à casa de fiéis.
E hoje, como você vê toda essa repercussão relacionada ao caso?
É um misto de sentimentos inexplicáveis. Tenho medo de sair na rua, das pessoas fazerem alguma coisa comigo ou com meu filho. Eu não tenho saído de casa e nem olhado a internet. Não consigo ir na frente do portão da casa dos meus pais. Tenho recebido ameaças escritas no meu portão. É horrível. Fazem piadas e ameaças em frente a casa dos meus pais.
Já teve algum contato, mesmo por meio de cartas, com seu marido?
Consegui mandar uma carta para ele, mas antes de a polícia divulgar o resultado das investigações. Depois disso tudo, não falei mais com ele.
Acompanhou a entrevista coletiva da polícia pela TV?
Sim. Eu não consigo acreditar. O George sempre foi um bom pai e um bom marido. Ele nunca teve traço nenhum daquilo que eles falaram, nunca. Ele era um exemplo para os filhos dele. O Kauã falava que queria ser igual ao pai George. Ele era referência dos meus filhos.
O que acha do comportamento do seu marido, logo após o incêndio, ao participar de dois cultos?
Eu não sei o que passa na cabeça de cada um. É muito complicado. Nós temos a nossa fé, acreditamos em Deus. Já perdi uma filha antes e Deus tem me sustentado. Então, eu acredito que foi a fé dele que o moveu. Eu não tenho como criticar, julgar ou mesmo defendê-lo.
Pretende continuar em Linhares?
Não sei. A gente não sabe ao certo.
Qual a mensagem que a senhora deixa para a sociedade e para os fiéis da Igreja Batista Vida e Paz?
Eu queria que as pessoas fossem mais humanas e também acreditassem na humanidade. Agradeço àqueles que estão comigo, que têm me ajudado e me apoiado.