Partido do primeiro-ministro Pedro Sánchez conseguiu maioria das cadeiras no Parlamento. No entanto, precisará de fazer coalizão com siglas menores para garantir permanência no governo.
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do atual governo, conseguirá o maior número de assentos no Parlamento da Espanha. O resultado das eleições deste domingo (28) confirma o previsto pela pesquisa de boca de urna. Ainda assim, a sigla governista terá de fazer alianças para seguir no poder.
Boca de urna aponta para vitória do Partido Socialista na Espanha
De acordo com as projeções do jornal “El País” com 99,68% das urnas apuradas, a composição do Parlamento da Espanha será a seguinte:
- Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), social-democrata: 123 assentos
- Partido Popular (PP), conservador moderado: 66 assentos
- Cidadãos, de orientação liberal: 57 assentos
- Unidas Podemos, da esquerda radical: 42 assentos
- Vox, da direita nacionalista: 24 assentos
- Outros 8 partidos menores teriam, juntos, 39 assentos
Partidários do PSOE celebram resultado das eleições na Espanha neste domingo (28). Sigla precisará de alianças para governar — Foto: Sergio Perez/Reuters
Partido do atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, o PSOE vai se aliar ao Unidas Podemos e conseguir entre 160 e 165 cadeiras. É menos do que as 176 necessárias para garantir a maioria no Parlamento. Portanto, a coalizão de esquerda precisará do apoio de alguma das siglas menores.
O resultado é uma clara derrota ao Partido Popular, que, em 2016, conseguiu 137 cadeiras. Assim, dificilmente uma coalizão de direita conseguirá chegar ao governo espanhol: PP, Cidadãos e Vox somam 147 assentos juntos.
Apoiadora do Vox celebra entrada do partido no Parlamento da Espanha — Foto: Susana Vera/Reuters
A novidade é a entrada do Vox no Parlamento. A sigla nacionalista de direita obteve cerca de 10% dos votos com discurso cético em relação à imigração e a leis de igualdade de gênero, que consideram discriminatórias.
Dias decisivos
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, lidera o Partido Socialista. — Foto: Juan Medina/Reuters
Os resultados oficiais das urnas saem nas próximas horas, mas a definição sobre o futuro governo espanhol deve demorar dias. Tudo vai depender da articulação política do atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e do PSOE para conseguir formar coalizão majoritária.
O PSOE já garantiu o apoio do Podemos, após o líder Pablo Iglesias admitir participar da coalizão governista.
Pablo Iglesias, líder do Podemos, após as eleições na Espanha neste domingo (28) — Foto: Rafael Marchante/Reuters
“É um resultado suficiente para frear a direita e construir um governo de coalizão das esquerdas”, disse o líder do Podemos.
Sánchez agradeceu pelo apoio da legenda esquerdista e disse que está aberto para dialogar com outros partidos.
“Quem ganhou foi uma Espanha plural e diversa. É o que vamos construir a partir de hoje”, afirmou Sánchez.
Pedro Sánchez comemora com a esposa, Begona Gomez, a vitória nas eleições na Espanha — Foto: Sergio Perez/Reuters
As eleições espanholas estavam marcadas para 2020. No entanto, apenas oito meses depois de assumir o cargo, o premiê se viu obrigado a convocar novas eleições em 13 de fevereiro.
Na data, o Parlamento rejeitou a proposta de orçamento enviada pelo governo. Opositores admitiram que a manobra foi uma forma de dar um “voto de desconfiança” ao primeiro-ministro.
Quem vai liderar a oposição?
Comício do Cidadãos após resultado das eleições gerais na Espanha neste domingo (28) — Foto: Javier Barbancho/Reuters
Tanto o PP quanto o Cidadãos afirmaram que vão liderar a oposição de direita ao governo que muito provavelmente ficará nas mãos de Sánchez. Os maiores nomes dos dois partidos chamaram para si o posto.
“Nós vamos vigiar de perto o governo de Sánchez e o Podemos. Nós agora lideramos a oposição”, disse o líder dos Cidadãos, Albert Rivera.
Pablo Casado, do PP, lamenta resultado das eleições da Espanha neste domingo (28) — Foto: Juan Medina/Reuters
O problema é que o líder do PP também diz que o partido guiará a oposição. Em discurso, Pablo Casado analisou o mau desempenho nas urnas como resultado da “fratura no espaço da centro-direita” e mira agora nas eleições para o Parlamento Europeu.
“O objetivo é mostrar que seguimos como a melhor opção para o futuro da Espanha”, disse Casado.
Santiago Abascal, do Vox, fala sobre resultado das eleições da Espanha neste domingo (28) — Foto: Jon Nazca/Reuters
Em outra linha, o líder do Vox, Santiago Abascal, criticou o PP e evitou falar sobre os Cidadãos. Para o maior nome do partido nacionalista, a legenda tradicional conservadora se tornou “uma direitinha covarde”.
“[A responsabilidade dos resultados] é de quem não foi capaz de se opor à esquerda e quem entregou os meios de comunicação e a educação à esquerda progressista”, disparou Abascal.
O que estava em jogo?
Mulher lança seu voto em um colégio eleitoral em Madrid, na Espanha — Foto: Jon Nazca/Reuters
A fragmentação política na Espanha levou a uma indefinição sobre o cenário político antes das eleições. Há uma série de temas que dividiram o posicionamento do eleitorado espanhol. Que temas eram esses?
- Catalunha – Embora a maioria dos políticos espanhóis se mostre contrária à independência da região, os partidos divergem quanto à forma com a qual o governo deve lidar com o separatismo. Opositores acusaram o governo de Sánchez de ceder demais às exigências dos catalães. Principalmente depois da recente crise com a Catalunha, os partidos nacionalistas pretendem colocar políticas de unificação nacional, como ensino obrigatório do espanhol como primeira língua nas escolas – mesmo naquelas em regiões autônomas.
- Imigração – A Espanha tem se tornado a maior porta de entrada de imigrantes ilegais da África que cruzam o Mediterrâneo. Em dezembro, um navio com mais de 300 pessoas atracou no sul do país. Outros países europeus, como a Itália, vêm adotando medidas mais duras, o que empurra o fluxo migratório para o território espanhol.
- Eutanásia – O suicídio assistido, ainda ilegal na Espanha, voltou ao debate no início deste mês após a prisão de um homem de 69 anos acusado de ajudar a esposa a morrer. Ela sofria de esclerose múltipla e havia pedido ao marido que queria a eutanásia “o mais rápido possível”. Há um projeto de lei travado no Parlamento espanhol, e os partidos mais conservadores são contrários à legalização.
- Igualdade de gênero – Os partidos divergem sobre como o Estado deve tratar a igualdade entre homens e mulheres. As siglas mais progressistas pretendem investir mais na prevenção à violência machista e leis para equalizar as oportunidades de trabalho. Os mais conservadores pedem punição severa aos crimes contra a mulher, inclusive com prisão perpétua, mas um dos grupos pede o fim de uma lei sobre violência de gênero sob o argumento de que ela é “discriminatória”.
- Revisionismo da era Franco – Todos os partidos tradicionais da Espanha se colocam em oposição ao regime do ditador Francisco Franco, em vigor no país de 1936 a 1975. No entanto, a legenda nacionalista de direita Vox quer revogar a legislação que proíbe os símbolos da era de Franco e que prevê compensação às vítimas da ditadura.
Fonte:G1