Pelo menos um motorista de aplicativo de transporte individual de passageiros é assaltado por dia na Grande Vitória, no Espírito Santo. A média é de oito assaltos por semana. O levantamento é da Associação de Motoristas de Aplicativo do ES (Amapes), que representa os profissionais da categoria.
O presidente da Amapes, Luiz Fernando Muller, explicou que os profissionais aceitam chamadas apenas de clientes bem avaliados e que têm muitas corridas, mas que ultimamente está difícil se proteger. É que criminosos têm furtado celulares e utilizado o aparelho da vítima para chamar as corridas, ação que acaba dificultando que o motorista identifique um possível suspeito.
“Já tivemos dois relatos sobre esse tipo de atuação. Eles pegam esses celulares roubados, pedem para desbloquear o celular na hora e imediatamente já chamam o aplicativo para poderem cometer assaltos. Hoje nos protegemos muito em relação ao destino escolhido e com a nota que o aplicativo nos fornece, então, com o celular roubado, fica difícil identificar. Normalmente olhamos a nota da pessoa, mas como o celular é roubado não tem como prever”, explicou.
Aceitar o pedido de viagem de um cliente, principalmente durante a noite, deixou de ser algo tranquilo para Marcos Júnior.
O motorista de aplicativo trabalha na área há dois anos e já foi assaltado uma vez, quando teve uma arma apontada para a cabeça. Os criminosos levaram o carro dele, celular e dinheiro.
“A primeira vez que fui assaltado foi aqui na região de Cariacica mesmo, em Campo Grande, quando uma mulher me chamou pelo aplicativo. Quando cheguei no local dois criminosos entraram no meu carro e anunciaram o assalto. Um deles me deu uma coronhada na cabeça e durante todo o período que estavam no carro me fez ameaças de morte, dizendo que se eu reagisse iria me matar”, lamentou Marcos.
O veículo de Marcos Júnior foi encontrado pela polícia apenas um mês depois do assalto. Todas as peças do carro foram retiradas pelos criminosos.
No último domingo (12), usando novamente um celular roubado, dois homens armados abordaram o motorista, mas dessa vez ele conseguiu escapar.
“Eu tinha saído da igreja e resolvi andar. Na minha segunda viagem, no bairro Caratoíra, em Vitória, uma mulher bem avaliada chamou e quando cheguei tinha dois indivíduos. Naquele momento passou um filme na minha cabeça. Comecei a conversar com eles, falei que tinha saído da igreja, falei sobre como tinha sido meu dia. Eles me levaram para Cobilândia e disseram que não me assaltaram porque eu era um cara muito gente boa. Hoje a gente trabalha com medo, sem saber se vamos voltar, se vamos ver os filhos de novo”, relembrou.
Bairros perigosos
O levantamento feito pela associação dos motoristas de aplicativos aponta que Gurigica, em Vitória, é considerado perigoso. Em Vila Velha os bairros considerados mais violentos são Barramares, Santa Rita, Cobi, Jabaeté e Morada da Barra. Porto de Santana e Itaquari são os destaques negativos em Cariacica. Na Serra, Jardim Carapina e Carapina Grande foram os eleitos mais perigosos.
Mas criminosos também chamam corridas de bairros considerados mais nobres. É o que conta o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo, Luiz Fernando.
“Tivemos um bairro, que é o Bento Ferreira, que é um bairro nobre, onde se estava originando muitas chamadas, justamente para cometer o assalto e mudando a situação dos bairros de periferia”, explicou Luiz Fernando.
Taxistas também são alvos
A sensação de insegurança também atinge os taxistas, que dizem que estão trabalhando com medo. Júlio Ferreira Sobrinho trabalha em um ponto da Praia da Costa, em Vila Velha, há 23 anos, e é outro profissional que já foi vítima da violência na Grande Vitória.
“A gente vem trabalhar com receio de acontecer novamente ou até acontecer coisas piores”.
O taxista Elson Corrêa dos Santos trabalha no mesmo ponto que Júlio e relata que mesmo com 12 anos de experiência na área tenta não relaxar.