A Polícia Civil investiga a participação de uma milícia na tentativa de furto de combustível em um duto da Transpetro na última sexta-feira, que deixou três pessoas feridas. Nem mesmo a participação de funcionários da Transpetro ou de empresas terceirizadas foi descartada. Na madrugada desta quarta-feira, agentes da Delegacia de Serviços Delegados (DDSD), comandada pelo delegado Júlio Filho, prenderam Willian Cesar Vieira, de 21 anos, em Xerém, Duque de Caxias, após um mandado de prisão temporária expedido pelo Plantão Judiciário. Ele vai responder por tentativa de homicídio qualificado, furto duplamente qualificado, constituição de milícia privada, crime contra a ordem econômica e crime contra o meio ambiente.
— Chegamos até ele porque encontramos uma motocicleta amarela no local do crime. Indagamos moradores que disseram que não pertencia a ninguém. Apreendemos e fizemos pesquisas de identificação. Chegamos a uma proprietária ontem (terça-feira) que disse que teria vendido. Fizemos esse caminho sucessivas vezes até chegarmos ao William — explicou Júlio Filho, titular da delegacia.
Acusado de participação na tentativa de furto de combustível é preso
Willian Cesar Vieira, que não tem antecedentes criminais, confessou que destruiu com marteladas o celular usado por ele. O equipamento foi recuperado pela polícia, mas o chip não foi encontrado. Para o delegado, a destruição do aparelho já é uma suspeita de que Vieira tem envolvimento com uma milícia especializada nesse tipo de crime.
— É um indício forte (de que ele participou do crime) o fato dele ter destruído o celular — acrescentou o delegado.
O titular da delegacia especializada também desconfia da presença de um advogado de defesa considerando a origem humilde da família de Willian Cesar Vieira. Segundo Júlio Filho, essa modalidade criminosa requer equipamentos e conhecimentos técnicos:
— (A presença do advogado) evidencia que a destruição do aparelho de celular foi orientação de alguém acima dele. Essa modalidade criminosa é praticada por organizações que se especializam. Não conheço ninguém que tenha atuado sozinho numa situação dessa. Requer uma logística, equipamentos, conhecimento especializado.
Com William, a polícia civil apreendeu um segmento de mangueira que normalmente é utilizado para o roubo de derivados de petróleo. Questionado, o delegado não descartou a possibilidade de funcionários da própria Transpetro ou de empresas terceirizadas terem participado do crime.
— Nós estamos verificando todas as hipóteses — diz Filho.
Na tentativa de furto, o combustível em alta temperatura jorrou a uma altura de 10 metros. Casas tiveram que ser esvaziadas às pressas e houve danos ao meio ambiente. Ana Cristina, de 9 anos, uma das vítimas do acidente em Duque de Caxias, ficou com queimaduras em 80% do corpo, segundo a mãe dela, Fernanda Pacheco. A menina está internada no CTI Pediátrico do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, Duque de Caxias. Em boletim divulgado nesta quarta-feira, a Secretaria estadual de Saúde informou que a criança permanece internada em estado grave. A casa onde Ana Cristina e a mãe moram fica em frente ao duto onde ocorreu o vazamento. Elas moram ali há 18 anos e sua filha nasceu no local. Segundo ela, nunca foi informada de que não podia construir ali. Vazamento gasolina 28-04
Com a confirmação de que o vazamento de gasolina em Duque de Caxias na última sexta-feira atingiu o lençol freático da região, ambientalistas alertam para o risco da contaminação chegar à Baía de Guanabara. A tentativa de furto no oleoduto da Transpetro ocorreu próximo ao Rio Iguaçu, que deságua na Baía. Especialistas destacam que levará décadas até que o lençol seja recuperado do óleo vazado em grande quantidade.
Órgãos da prefeitura e Transpetro se reúnem
Representantes de órgãos de controle da prefeitura de Duque de Caxias e integrantes da Transpetro fazem uma reunião nesta quinta-feira, às 14h30, na sede da empresa. Em discussão, as providências que estão sendo tomdas e também uma avaliação do que ocorreu. A subsecretaria municipal de Defesa Civil e as secretarias de Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente definirão o que será feito para ajudar as famílias atingidas. Ao todo, 17 pessoas ainda não puderam retornar para as suas casas. Algumas estão em hotéis da região com estadia custeada pela Transpetro.
A prefeitura informou que a Secretaria municipal de Meio Ambiente emitiu uma notificação para que a Transpetro faça um estudo de passivo de solo e de águas subterrâneas em um raio de cinco quillômetros da região do acidente, além de ter solicitado análise de metais associados.
A prefeitura informou ainda que a Transpetro continua monitorando o solo afetado pelo vazamento de combustível e que, a princípio, apenas o poço da casa de uma moradora foi contaminado.
Fonte: Extra