Barragens, lagoas e caixas secas são usadas para enfrentar seca
Com a crise hídrica que o Estado vem enfrentando desde 2013, muitos produtores se viram em uma situação difícil: a falta de água para irrigar ou dar de beber aos animais mudou, para pior, alguns cenários do campo. Por isso, os agricultores procuraram alternativas para tentar solucionar o problema.
Um dos caminhos encontrados pelos produtores rurais do interior do Estado, para que não falte água nas lavouras, foi fazer reservas do líquido por meio de barragens, lagoas e caixas secas. Este é o caso de Jakson Pereira de Melo, de 31 anos. O agricultor de Pancas, Região Centro-Oeste do Espírito Santo, produz café conilon em uma área de seis hectares e pimenta-do-reino em um hectare de terra.
A lavoura de café dele foi prejudicada pela ausência das chuvas. Há quase dois anos, descobriu uma linha de financiamento oferecida pelo Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) que dá crédito para a construção de barragens de até um hectare de área inundada.
“Com a barragem, o volume de água na propriedade melhorou uma média de 500%. A chuva não está 100%, mas está melhor que no ano passado para manter a água que temos. O ano que vem vai ser o primeiro após a construção da barragem. Este ano vamos recuperar a produção. O volume de água está se mantendo e ano que vem a produção volta”, espera.
Segundo o diretor-presidente do Bandes, Aroldo Natal Filho, em 2016 foram construídas 66 barragens com ajuda de custeio do banco. Em 2017, já são mais 75 projetos. O total de empréstimos somados nos dois anos é de R$ 6,8 milhões. Aroldo comenta que a meta é apoiar a construção de 2 mil barragens e caixas secas em todo o Estado.
“Essas são barragens menores para atender os produtores e ter uma o preservação dos rios. Em tempo de seca, elas acabam fazendo com que os rios mantenham seus fluxos”, explicou o diretor-presidente do Bandes.
Enquanto as barragens retêm parte da água do rio, as caixas secas são reservatórios construídos, em geral, às margens de estradas para captar e acumular a água das chuvas.
Licenciamento
Assim como em toda intervenção em um ambiente, como é o caso de construir uma barragem, lagoa ou caixa seca, é necessário que o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) autorize a execução do projeto.
Existem quatro tipos de barragens segundo a classificação do Idaf. A menor é a tipo 1, de até cinco hectares de área inundada. Nos últimos anos, algumas facilidades para o licenciamento de pequenas barragens, primeiro até 1 hectare e depois até 5 hectares, vêm acontecendo devido a decretos publicados pelo instituto. Hoje, a exigência para legalizar uma barragem é que o produtor tenha um responsável técnico que faça um laudo e o submeta ao Idaf para análise.
Desespero leva à construção ilegal
“Muitas barragens são feitas pelo agricultor devido ao desespero da falta de água”, revela o pós-doutor em Engenharia de Recursos Hídricos da Ufes, Antônio Sérgio Ferreira Mendonça.
Até 2015, o Estado tinha aproximadamente 32,5 mil barragens construídas. Hoje esse número chega a quase 50 mil. Os dados são de um levantamento feito por fotointerpretação pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) e estimativas do coordenador de projetos da Secretaria de Estado de Agricultura (Seag), Janil Ferreira da Fonseca. “Com a seca, muitas barragens foram construídas indiscriminadamente”, avalia Fonseca.
As intervenções têm como objetivo aumentar a oferta de água na propriedade rural, mas é preciso ter cuidado. “Ao segurar a água em uma barragem, em uma propriedade, e não liberar parte dela para as vizinhas, o ato pode causar problema para outras propriedades e até para o município”, explica Mendonça.
Segundo o especialista, o ideal seria adotar barragens maiores, bem construídas e gerenciadas, que ajudem diversas propriedades, já que as feitas sem gerenciamento podem causar conflitos entre os proprietários de terra. “É necessário que parte da água passe para as propriedades de baixo, senão pode acabar secando o rio.”
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